Lembro-me da primeira vez que visitei a Turquia em 2016, nada me chamou mais a atenção do que o cheiro de cigarro e fumaça no ar proveniente dos cigarros consumidos por muitos, mas muitos turcos e turcas. Eu não imaginava que em um país muçulmano (e eu sou muçulmana) se consumisse tanto cigarro.
Em 2016 entrei em restaurantes onde as pessoas fumavam no interior, com portas e janelas fechadas, era março e estava frio. Já existia a lei que proíbe o fumo em locais fechados, em espaços públicos, entorno de prédios do governo e nos deques das balsas que fazem a travessia do Bósforo, em Istambul; porém, muitos concordam que implementar a lei é bem mais difícil do que aprovar, devido ao grande e longo período de consumo. A lei foi aprovada em 2008, considerada revolucionária para os padrões turcos, que proibiu não somente o consumo de cigarros em locais fechados, mas também o de charutos, cachimbos e narguilés.
Existem países que consomem mais cigarros, mas para quem não visitou esses países e chega à Turquia, fica difícil de acreditar. Como desenvolvo um trabalho sobre viagens no Instagram, tenho contato com muitas pessoas que visitam a Turquia e todos saem com a mesma impressão que tive, um país de fumantes.
Reparei, também, que muitos restaurantes e cafés possuem o teto removível eletronicamente e lendo sobre o assunto descobri que foi uma forma que muitos proprietários encontraram de driblar a lei. Abrindo o teto a área fica considerada externa e o consumo se torna tolerável.
O governo tem procurado diminuir as estatísticas referentes ao consumo de cigarros, mas parece haver pouco impacto. Na televisão, quando alguém aparece fumando, a imagem do cigarro é desfocada, mas ainda, assim, o consumo é muito grande entre crianças de 07 a 11 anos. Embora seja proibido qualquer tipo de publicidade, promoções e patrocínios, ainda não vi nenhuma campanha na mídia antitabagismo.
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O menor valor de um maço de cigarros é de 12 liras turcas (R$ 8,53), um valor considerado alto, mas ainda, assim, muitas pessoas com baixos salários não desistem da compra. O Governo tem se esforçado para dificultar a comercialização e uma das primeiras ações foi elevar os impostos sobre esse produto que totalizam 80% do preço final ao consumidor.
Os hospitais públicos financiam tratamentos para quem quer deixar o vício, mas são poucas as pessoas que procuram esse serviço oferecido pelo governo. Existe um telefone para quem deseja tratamento para o vício. Basta ligar e receber toda a assistência necessária. O número é 171.
Entrei em contato com uma pessoa, através do número 171, que me deu algumas informações sobre as estatísticas. Disse-me que nos últimos dez anos aumentaram em 52% a quantidade de fumantes na Turquia e 120.000 pessoas morrem por ano, vítimas de doenças provenientes do vício. Também me informou que os fumantes passivos, os que inalam a fumaça, são em torno de cinco milhões, incluindo homens, mulheres e crianças.
É impossível sair às ruas e não retornar para a casa com as roupas cheirando a cigarro. Por onde andamos, há sempre fumantes e a impressão é de que realmente não há uma lei que controle isso.
Como já contei em meu post sobre a saúde, utilizei e utilizo bastante esse serviço e sempre em minhas consultas vejo pessoas fumando nos jardins dos hospitais e nos cafés que ficam nesses jardins. Seria normal se a cada dez pessoas uma estivesse fumando, mas é exatamente ao contrário, a cada dez pessoas uma ou duas não estão fumando.
Percebi que a Turquia é um país onde ainda não se trabalha a consciência das pessoas, talvez pela cultura completamente diferente, enraizada em muita história, tradição, cultura e religião.
Uma coisa é certa: quem vem à Turquia, com certeza imagina que entrou em um país de fumantes compulsivos. É impossível não se espantar com isso.
Estão tentando aprovar novas leis para dificultar ainda mais a comercialização do tabaco, por aqui; mas ainda não sabemos se serão aprovadas ou não, mas acredito que aliado a isso deveria se fazer um trabalho de conscientização e prevenção, já que o consumo entre crianças e jovens não é pequeno. Vamos aguardar. E, enquanto isso, vamos respirar e se for possível não inalar a nuvem de fumaça que paira pelo ar.