Dia das crianças e Dia das mães no México.
Aqui no México o dia das crianças é 30 de abril e o das mães é comemorado sempre no dia 10 de maio.
O dia das mães, para o comércio em geral é tão importante quanto o Natal e é o dia mais importante do ano para floriculturas e restaurantes. O dia das crianças eu acho que é mais comemorado por aqui do que no Brasil. Diferente da função deste dia no nosso país, ele não foi criado com intuito comercial e sim para reafirmar os direitos e garantias para o bem estar das crianças mexicanas. Eu já poderia começar este texto falando da situação das crianças no México, ou do número absurdo de adolescentes que já são mães, mas este texto é sobre as festas, então, antes das críticas, aqui vão algumas curiosidades sobre estas datas por aqui.
Dia das Crianças
Bom, o dia da criança, como sabemos, varia em cada país. A data oficial, reconhecida pela ONU é 20 de novembro, pois foi neste dia que, em 1959, a Declaração Universal dos Direitos da Criança foi aprovada. Mas, o Dia Internacional da Criança foi proclamado pela primeira vez em 1 de junho de 1925, em Genebra, durante a Conferência Mundial para o bem estar da Criança. No México a data é comemorada, no dia 30 de abril, desde 1924 (ou seja, antes de Genebra!).
Aqui este dia é bem importante. Semanas antes você já começa a ver postos de arrecadação de brinquedos para crianças carentes, promoções em lojas e restaurantes e uma infinidade de campanhas, não só publicitárias, mas também sociais, sobre o assunto.
Nas escolas o dia é só de festa, com piquenique coletivo, jogos e brincadeiras. Na Cidade do México acontecem muitos eventos, alguns gratuitos, alguns pagos, e as empresas também organizam várias atividades. Este ano, tivemos Expo Playmobil, Lego Play Time, atividades especiais no Papalote, o Museu da Criança e um passeio de bonde pelo sul da cidade com representação de histórias e lendas pré-hispânicas, além de vários festivais em locais públicos com circo, teatro, marionetes e oficinas. As lojas e supermercados também têm atividades especiais, com lanches, distribuição de brindes, jogos e, este ano, claro, horários especiais para encontros de troca de figurinhas do álbum da Copa do Mundo.
Dia das Mães no México
O dia das mães é comemorado desde a Grécia Antiga, com homenagens à Rhéa (Réa ou Reia), mãe de grandes Deuses como Zeus e Posseidon. No México a data é comemorada desde 1922, quando Rafael Alducin, jornalista e fundador do diário Excelsior, convocou seus leitores a elegerem um dia para homenagear as mães mexicanas. A campanha teve apoio de todos os setores da sociedade e acabou definindo o dia 10 de maio como data fixa que já foi comemorada, pela primeira vez, neste mesmo ano. Em 1949, no mesmo dia, foi inaugurado na Cidade do México, o Monumento as Mães, com 3 esculturas e uma placa dizendo “Para a que nos amou antes mesmo de nos conhecer”. Em 1991 agregaram uma nova placa com os dizeres: “Por que sua maternidade foi voluntária”. Infelizmente este monumento foi destruído no ano passado, no terremoto de 19 de setembro.
As comemorações são como no Brasil: família reunida, flores, cartões, declarações e presentes. Para muitos Mexicanos esta data é vinculada à Virgem Maria e adquire uma importância maior ainda. Neste dia, desde cedo se celebram missas especiais que estão sempre lotadas.
As escolas fazem festas, teatrinhos e apresentações musicais, exatamente como no Brasil, com direito a obras de arte de argila, colagens com feijões, e coroas de melhor mãe do mundo. A única diferença é que o dia é fixo. Eu acho estranho comemorar esta data durante a semana. Acho mais difícil reunir a família, por exemplo, para o almoço, que no Brasil é a refeição oficial de dia das mães, certo? Mas, mesmo assim esta é a festa mais importante do calendário e apesar de não ser feriado oficial, algumas escolas e universidades não têm aula e muitas empresas declaram feriado facultativo ou liberam as mães para passarem o dia com seus filhos.
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A função destes dois dias foi, desde o principio, enaltecer e valorizar a importância das mães e os direitos das crianças, mas, nenhuma festa consegue esconder a realidade deste país. De acordo com a OECD (ou OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) o México ocupa o primeiro lugar em gravidez adolescente e o último em segurança e educação.
Infelizmente, a semelhança entre Brasil e México não é só na forma de comemorar estas duas datas. Se você fizer uma pesquisa vai perceber que os dois países disputam a vaga de maior número de gravidez e partos entre crianças e adolescentes, violência contra meninas e mulheres, além dos números de abandono escolar, desnutrição crônica, trabalho infantil, mortes ou complicações em partos ou abortos clandestinos, exploração sexual, prostituição infantil e uma lista sem fim de indicadores de uma realidade que conhecemos de perto.
Além de ser um dos países com a maior taxa de pobreza infantil da América Latina, índices mexicanos apontam que sete em cada dez mulheres sofrem ou sofreram algum tipo de abuso ou violência. A Unicef aponta que 63% das meninas do país, entre 1 e 14 anos sofreram ao menos um episódio de violência física ou psicológica e, de acordo com o INPER (Instituto Nacional de Perinatologia do México) mais de 20% dos bebês mexicanos são filhos de adolescentes. Nascem por ano 400 mil bebês filhos de mães menores de idade, sendo quase 8 mil de mães com menos de 14 anos. Bebês filhos de crianças, crianças que já são mães… Duas gerações com o futuro comprometido, famílias desestruturadas, oportunidades profissionais limitadas, projetos de vida inviabilizados. Para mim as perspectivas são desastrosas e nenhum colar de macarrão pode compensar o sofrimento destas mães ou as carências destas crianças. Mas no México tudo é festa, as festas são ótimas e a vida segue…cada vez pior.