Coreanices.
Conhecida como a Terra da Calma Matinal, e ao mesmo tempo a terra do 빨리빨리 (“pali, pali”, expressão que indica “Rápido, Rápido”). Da internet mais rápida do mundo, que nos presenteou o consagrado Gangnam Style, e ainda é um dos países com cultura extremamente tradicional. E é no meio de todos esses paradoxos que eu vim morar.
Vim para a Coreia em agosto de 2013, pelo programa governamental Ciência sem Fronteiras (CsF). Para quem não conhece, basicamente, são bolsas de estudo universitário por no mínimo um ano, em diversos países.
Uma das perguntas que mais ouvi e sei que todos que vem pra cá também, foi: “Por que a Coreia?” Além dos motivos profissionais, o que foi mais decisivo foi a questão do choque cultural e a curiosidade de conhecer a Ásia, com uma cultura secular e tradicional conciliando com as mudanças tecnológicas.
Acredito que a parte mais difícil de qualquer mudança na vida, é a adaptação. A minha ideia de intercâmbio era ter um tempo pra mim, organizar as idéias e aprender novas culturas. Mas desde que eu cheguei, a experiência aqui tem sido mais do que eu esperava. A adaptação é bem complicada, até para quem está aqui há anos.
Eu vim para cá sem saber quase nada de coreano. Diferente do Brasil, por causa da “intensa” presença de estrangeiros, não é tão difícil encontrar algum coreano que fale inglês, mas eu não moro na capital (Seul), eu moro um pouco mais pro interior (Suwon), então, se não for no ambiente acadêmico, as chances de conseguir se comunicar em inglês são extremamente pequenas, o que diminui as nossas experiências puramente coreanas. É aí que você aprende que deveria ter jogado mais “Imagem e Ação” na infância, já que mímica é a língua universal (mas temos que tomar cuidado com os gestos que fazemos, porque você pode acabar insultando alguém, como eu fiz no meu segundo dia de Coreia).
A Coreia do Sul é sem dúvida um dos países de maior superação na história. Tem vivido desde 1950 em guerra com a Coreia do Norte, e mesmo assim, rapidamente deixou de ser um país arrasado, com fortes invasões pela China e Japão, para se tornar um país desenvolvido e pronto para a era tecnológica. Esse passado marcou fortemente a cultura coreana, que hoje possui um forte espírito de coletivismo e tradição.
A hierarquia é muito respeitada por essas bandas e é até incrustada nas relações pessoais e profissionais.O termo “Terra da Calma Matinal” vem de um título que um imperador chinês deu a Coreia. As paisagens são incríveis, principalmente por causa da influência das quatro estações, e o amanhecer é bem calmo e tranquilo. Porém, isso chega a ser um grande paradoxo perto do que é a cultura coreana.
Leia também: 10 motivos para morar na Coreia do Sul
Quem vem pra cá, percebe logo o que chamamos de “coreanices”. Uma delas é a expressão “pali, pali” que é bem evidente na sociedade. Todos correm, todos tem que ser rápidos e eficientes nas suas tarefas, inclusive comer. O que sempre faz parecer que os brasileiros são as pessoas mais devagar e calmas do mundo. No refeitório da universidade, sempre somos os primeiros a chegar e os últimos a sair, porque brasileiro adora fazer das refeições um grande evento social. E quando os coreanos compartilham esses momentos com a gente, adoram e sempre se divertem.
Outra “coreanice” que é difícil não notar é o vício dos smartphones, principalmente nos transportes públicos. Mesmo estando com amigos, eles deixam de socializar para estar atualizado nas redes sociais e programas de TV. (E isso só é possível por causa da internet móvel mais rápida do mundo). Logo que eu cheguei, achava muito estranho o silêncio no metrô, e não conseguia ficar quieta. Mas aos poucos, vamos aceitando e respeitando isso.
O Gangnam Style representa uma das maiores “coreanices” que já presenciei aqui: a busca pela perfeição. Coreanos são extremamente magros e obcecados pela beleza, tanto que coreanas gastam horas por dia com cremes e maquiagem. E confesso que me rendi aos cosméticos, porque realmente são ótimos.
Apesar de todo o choque cultural, minha experiência aqui tem sido bem reveladora. As ditas “coreanices” são só um exemplo do que a Coreia tem me ensinado sobre o que é viver numa cultura que está aprendendo a se modernizar sem perder suas raízes. Coreanos adoram brasileiros, porque não somos tradicionais e viemos com muita vontade de aprender sobre eles.
E ainda tenho muito a aprender sobre e com eles, e eles com a gente.
19 Comments
Uma terra maravilhosa, rica culturalmente e com valores que há muito tempo foram esquecidos no Brasil. Também estou por aqui e amando a experiência. A adaptação com a comida ainda é o maior problema, mas isso é um pequeno detalhe (eita pimenta!)
Muito lindo o seu texto, adorei! Partilhou os meus sentimentos e percepções!
Legal ler sobre a sua experiência, Thainy. Curiosamente ontem eu li um ranking com os 10 países que mais bebem, e adivinhe só, Coreia e seu Soju em primeiríssimo lugar!!! Eu gosto de soju, é leve e gostoso pro verão e pra coquetéis, você já experimentou?
Beijos e continue nos contando mais sobre a terra de Samsung!
Oi, Cristiane! Que bom que gostou do texto. Por ser meu primeiro preferi ainda nao falar sobre a comida, porque acredito que precisa de mais detalhes pra ser contado.Ja bebi muito soju sim! Eh otimo pra coqueteis mesmo. Gosto de makioli tambem! E eles adoram qnd dizemos q gostamos de beber, ne?
Continue acompanhando! Obrigada por comentar!
Eu to indo no fim do mês pra Coréia…
E nem to me preparando psicologicamente kkkkkk
Deus!! To até vendo meu inglês enferrujado, as comidas apimentadas, tudo diferente… mas creio que vai ser uma ótima experiência!
Gostei do seu post.. uma coisa que não tinha pensado era nas mimicas.. Já baixei um tradutor com voz no celular, e caso não tiver internet pra usar ele, acho que vou levar papel e lápis pra desenhar kkkkkkkkkk
Oi, Gustavo, meu ingles tambem tava todo enferrujado. Mas eh facil dessenferrujar. Na louca, voce vai reaprendendo a usar. Mas como muitos velhinhos donos de lojas nao falam ingles, ai temos que usar mimica mesmo. Desenho eh bacana. Tenta e me conta depois. ;D
Excelente texto. Resumiu magistralmente a cultura coreana. Parabéns!!
Oi Thainy parabéns pelo texto!
Adorei conhecer um pouco da Coréia e sabe que no semestre passado estudei com uma coreana aqui na França, e de fato eles são obcecados pela beleza, proncipalmente pela pele, eles têm uma pele de pêssego gente!!!E no almoço aqui tbm ela sempre muito rápida , muito organizada, séria, ma quando relaxava era bemm linda, e aí eles são receptivos com os brasucas???
Beijos
Oi, Ana! Pois e’, aqui e’ tudo questao de “looking”. Quem nao tem muita vaidade, chega aqui e comeca a ficar doida com isso.
Eles sao muito receptivos com todos os estrangeiros creio eu. Os que tem mais vivencia internacional, sao mais abertos a conversar com a gente. Mas tudo depende de apresentacao. Se eles nao te conhecem, e ninguem apresentou voce pra eles, eles nao falam com voce. Mas isso acho que e’ normal no mundo todo.
Thainy, muito corajosa sua escolha e com certeza sera muito enriquecera. O perfeccionismo com certeza é algo complicado em um sociedade, pois poda as pessoas e muito no seu processo de evolução. Incrivel como estudos e a disciplina do povo coreano são fortes. Ao mesmo tempo que acho fascinante como voce, o paradoxo e modernidade e tradição em um pais, acho triste de ver alunas minhas que veem pra Suica estudar, e contam que somente aqui distante dos pais e da cultura conseguem se soltar um pouco. vai ser muito bom seguir seus posts e conhecer melhor esta cultura tao interessante! Parabens pelo post e me alegro pelos próximos, Namasté 🙂 e sucesso nesta sua experiência maravilhosa!
Oi Thainy! Bem-vinda! Tenho muita vontade de conhecer a Coréia (do Sul, porque a do Norte, nem em cinzas)! Como todo país asiático, acho que tem diferenças enormes em relação ao ocidente e à nossa cultura!
Acho legal ter mais um membro do BPM na Ásia! =)
Beijos
PS: espero ansiosamente por seu texto sobre a culinária. Acho a culinária coreana muito saborosa e bem desconhecida no Brasil.
Parabéns pelo texto, morar em um pais com uma cultura tao diferente é desafiador , e o idioma, com esses caracteres, pois aqui no Japão até agora tenho problema p entender kanji, imagino como seria ai, rsrs.
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Oi. Estou pensando em me inscrever para o CSF 2015 para a Coréia do Sul. Você acha que a experiência conquistada na Coréia é valorizada aqui no Brasil. Empregos, estágios, programas de trainee?
Ótimo texto
Olá!
Eu estou na Coréia tbm!
Em Suwon ! Alguém aqui? Podemos fazer amizades!
Legal o texto, oportunidade única de troca cultural. Gostaria de saber como vivem os coreanos, qualidade de vida, condições de trabalho, enfim, como é a vida para os coreanos. Quando puderes, escreva mais. Fico feliz ver jovens com esta capacidade de percepção do mundo e que conseguem colocar em palavras socializando o que aprende. Este é o objetivo. Fique com Deus e bons estudos.
Oi eu dsou Erivaldo tenho duas filha que só falam em ir pra Coréia pra estudá qual e a melhor’forma de ir estudá ai e qual são os principais cursos na área de desaine gráfico
Adorei seu texto ????
Eu quero muito não só estudar (faculdade) mais também morar na Coréia do Sul, alguém pode me dar alguma dica de como eu faço para estudar é meu grande sonho se morar na Coréia eu agradeço de coração a quem me ajudar ????????
Oii, gostaria de saber sobre diplomas brasileiros/argentinos,
É possivel eu trabalhar como medica na coreia? Sabe me dizer onde acho essa informaçao
Olá Milena,
A Thainy Bressan parou de colaborar conosco, mas temos outra colunista na Coreia do Sul chamada Ana Paula Pires.
Você pode entrar em contato com ela deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM