Sweet Brasil, empreendedoras brasileiras na Dinamarca.
Continuando a falar sobre empreendedorismo na Dinamarca, depois da entrevista com a Ivana Broome de Aarhus eu conversei com duas brasileiras que estão dando o que falar em Copenhague.
Conheça Ingrid Gellert, 46 anos, carioca de raízes dinamarquesas que mora na Dinamarca desde 2013 e Roseli Møbius, 54 anos, paranaense que mora há quase 30 anos no país e que resolveu ‘respirar novos ares’ aventurando-se no mundo da gastronomia. As duas uniram forças para inovar produzindo brigadeiros gourmet, incluindo a preferência nacional dinamarquesa, lakrids (alcaçuz). Ambas nos mostram que sempre é possível repensarmos o rumo de nossas vidas, dando uma guinada de 360 graus e nos reinventando.
Leia a história dessas duas talentosas empreendedoras e inspire-se!
De onde vocês se conhecem? E o que trouxe vocês pra Dinamarca?
Ingrid: Nos conhecemos através de uma amiga brasileira em comum. Decidi vir para a Dinamarca em junho de 2013 para recomeçar minha vida do zero, depois de terminar um casamento de 21 anos e estar cansada de viver no Brasil, mesmo tendo empresas para cuidar. Meu pai era dinamarquês, por isso tenho dupla cidadania e já morei na Dinamarca por 1 ano, há 25 anos atrás, para garantir minha cidadania dinamarquesa. Meu sonho sempre foi voltar um dia para morar na Dinamarca porque amo esse país.
Roseli: Moro na Dinamarca há quase 30 anos. Já vivo aqui há muito mais tempo do que no Brasil. Quando cheguei tinha 25 anos e o que me trouxe para cá foi a paixão por um viking, que não esta mais entre nós. Quando cheguei aqui fui logo tratando de aprender a língua e 5 anos depois comecei a estudar numa escola profissionalizante; terminando meu curso, estagiei e trabalhei na repartição pública do ministério da defesa por muitos anos como assistente administrativa e continuei meus estudos até que me formei em administração pública com especialização em ambiente de trabalho. Hoje trabalho com processamento de dados estatísticos numa organização do governo que controla alimentos, plantações e pescaria.Conheci Ingrid, que estava recém chegada, e ela me falou sobre sua paixão pela culinária. Achei Ingrid muito descolada e corajosa e começamos a falar na possibilidade de tentar fazer pão de queijo para vender.
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Contem sobre a empresa. De onde surgiu a ideia? Como começou tudo?
Ingrid: Tudo começou neste churrasco onde nos conhecemos em junho de 2013, e simpatizamos uma com a outra logo de início. Roseli começou a dizer que estava insatisfeita com o emprego e que tinha muita vontade de vender pão de queijo para os dinamarqueses e eu cheguei na Dinamarca com um sonho a realizar, trabalhar e estudar tudo relacionado a culinária pois é minha paixão. Conversamos sobre a ideia de como vender pão de queijo, etc e eu tinha um livro da Maria Brigadeiro, grande doceira no Brasil que me inspirou a experimentarmos também vender brigadeiros para os dinamarqueses.
Fizemos nossa primeira produção e fomos para um café oferecer o pão de queijo e brigadeiro de chocolate amargo. O pão de queijo neste café não fez tanto sucesso pois era difícil de vender pelo estilo de produtos que ele vendia (tapas), mas o brigadeiro foi um sucesso! Um comerciante que experimentou no café queria encomendar logo 10 caixas de brigadeiros para vender na empresa dele.
Roseli: Então como disse acima começamos a produzir brigadeiros na pequena cozinha do meu apartamento, chegamos a produzir 800 para um evento no prédio da bolsa de valores mas ate aí não tínhamos uma firma registrada, e não podíamos sequer fazer cartão de visitas. As pessoas gostaram muito e a partir daí resolvemos abrir uma empresa, alugamos uma cozinha num café, já que as autoridades sanitárias exigem que seja uma cozinha que eles possam controlar, pagamos parte do aluguel com trabalho voluntário,e também achamos uma forma de divulgar nossas guloseimas.
Sabemos que brigadeiros são doces demais para o paladar de alguns estrangeiros e depois da polêmica com Jamie Oliver e os brigadeiros no Brasil, fiquei curiosa: como foi a aceitação do seu produto pelos consumidores dinamarqueses?
Ingrid: Nosso foco no brigadeiro foi justamente ajustar ao paladar dos dinamarqueses que não gostam de doce muito doce. Usamos produtos de altíssima qualidade e por exemplo, para o brigadeiro de chocolate usamos cacau puro e e cobertura de granulado de chocolate Callebaut. E nosso link com os dinamarqueses é o lakrids (alcaçuz). Eles experimentam todos os sabores que fazemos, mas quando escutam lakrids o olho deles brilha e colocam inteiro na boca e deliram…. (risos) Estamos oferecendo e distribuindo nossos brigadeiros tanto para brasileiros que dão festas na Dinamarca como vendendo para banqueteiros que oferecem eventos para grandes executivos dinamarqueses e estão adorando o brigadeiro. Aqui eles valorizam muito pelo fato de ser feito totalmente manual, um a um: pesamos, enrolamos e fazemos questão de só usar produtos de qualidade.
Infelizmente fizeram tudo errado com o Jamie Oliver, deram um monte de coisas doces ao mesmo tempo, e pelo que deu para perceber, de péssima qualidade. Eu desafio o Jamie para experimentar um de nossos brigadeiros e garanto que ele não vai ter a mesma reação que teve no Brasil!
Roseli: (Sobre Jamie Oliver) Isso é porque ele ainda não provou nossos brigadeiros, usamos o chocolate amargo e só usamos produtos de primeiríssima qualidade. As pessoas aqui gostam muito pois não é tão doce como o do Brasil. Temos que fazer brigadeiros para os dinamarqueses, então resolvemos usar lakrids (alcaçuz). Fazemos brigadeiros de chocolate amargo, coco, pistache, nozes, entre outros, tudo com produtos naturais, não usamos nada com conservantes.
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Vocês encontraram alguma dificuldade por serem estrangeiras? Contem um pouco sobre isso.
Ingrid: Eu na realidade vivi no Brasil em uma cultura dinamarquesa e italiana e árabe (minha mãe). Meu pai era dinamarquês e fez questão de manter todas as tradições dinamarquesas em nossa casa. Ele trabalhou para a SAS (companhia aérea) por 32 anos e tínhamos oportunidade de viajar ao menos 2 a 3 vezes no ano para passar férias e visitar familiares na Dinamarca. Para mim, nunca tive problema com cultura ou adaptação na Dinamarca, acho que me sinto mais em casa aqui do que no Brasil.
Roseli: . Não, pois além de sermos simpáticas – desculpe a modéstia (risos) – eu domino bem a língua e saio distribuindo em cafés e restaurantes. Temos tido dificuldades para encontrar embalagens para brigadeiros, até agora temos comprado no Brasil. Encontramos um fornecedor aqui porem com preços altíssimos o que encareceria muito o produto.
Quais foram as melhores surpresas pra vocês como empresárias no exterior? Vocês já tinham experiência como empreendedoras no Brasil? Se sim, contem o que muda em relação a abrir um negócio em outro país. Se não, contem como vocês encaram o empreendedorismo na Dinamarca, os pontos fortes e fracos e alguma dificuldade que encontraram no meio do caminho.
Ingrid: Eu sou empresária no Brasil desde de os 17 anos, já tive um pouco de tudo: agência e operadora de viagens, loja de aluguel de fantasias, importadora e distribuidora de empilhadeiras dos EUA e Coreia, serviços de logística e loja de móveis e decoração. Tudo no Brasil é muito complicado, você precisa e depende de despachantes, contadores para providenciar vários documentos, autorizações especiais, tudo custa muito dinheiro para você abrir uma empresa, o governo em vez de ajudar o pequeno empresário, só dificulta, ou seja, você tem que querer muito e ter muito dinheiro para começar um negócio. Aqui, simplesmente entramos na internet, buscamos o tipo de empresa que queríamos abrir, clicamos em algumas respostas, por exemplo, se queríamos importar, (onde no Brasil para importar qualquer coisa você deve preencher uma seria de requisitos super complicados e uma longa batalha para conseguir ser aprovado) e pronto, no fim recebemos a informação de que no dia X iríamos receber nosso número de registro da empresa, que os órgãos responsáveis iriam inspecionar a cozinha, etc. Tudo com apenas alguns cliques. Nossa maior surpresa até hoje foi ter recebido o credito do MOMS em nossa conta corrente, equivalente ao ICMS no Brasil, pois tínhamos investido mais do que vendemos num determinado período. Isso para o Brasil é algo totalmente fora do comum, você tem crédito de ICMS mas o governo jamais depositaria de volta para você. Outra surpresa em relação ao Brasil é a facilidade de calcular os impostos. Tudo é muito claro e fácil, bem diferente do Brasil. Por enquanto ainda estamos na fase de conquistar o publico dinamarquês e vamos ter uma linha especial somente de Lakrids, por exemplo com cachaça, com maracujá, etc.
Ainda não dispomos de todo o tempo para a divulgação de nossos produtos pois Roseli trabalha e eu estudo gastronomia na Hotel og Restaurantskole, mas não perdemos nenhuma oportunidade de divulgação e promoção da Sweet Brasil & Co.
Roseli: Todo dia é um aprendizado. Ainda não temos uma loja, somente nossa página no Facebook , estamos procurando um local para abrirmos uma pequena loja. Abrir uma empresa na Dinamarca não e difícil, mas tem lá seus desafios, tenho certeza do sucesso pois o produto é muito bem feito e os dinamarqueses viajam muito e estão muito mais abertos para novidades, e somos as únicas na Dinamarca (oferecendo esse produto). Eu tenho experiência em administração e adoro falar com pessoas e fazer a parte de marketing.
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Serviço Sweet Brasil & Co. – A empresa não possui website ou loja física. Contato para pedidos: pela internet na fanpage da empresa no Facebook ou por e-mail.
5 Comments
Sucesso É o que elas merecem pelo arrojo, por acreditarem no que fazem … Muito sucesso
Sim, merecem mesmo, pois além de batalhadoras são uma simpatia! Abraços e obrigada por ler e comentar!
Fiquei encantada com o empreendorismo das meninas e com agua na boca, morrendo de vontade de experimentar a linha especial de Lakrids. Acredito que, por enquanto, somente indo a Dinamarca. Porem, fico aguardando a expansao e exportacao para UK. Parabens meninas!
Adorei esse post, espero que elas me ajudem a fazer uma surpresa para alguém especial que está na Dinamarca. Parabéns pelo site! sensacional
Que bom, Nicole! Continue nos acompanhando por aqui pra saber mais sobre a Dinamarca! 🙂