Segundo o Índice Global de Inovação de 2016 (Global Innovation Index), a Finlândia ocupa a quinta posição como país mais inovador do mundo. E pelo ritmo das coisas, mesmo no meio de uma crise econômica bem complexa e de difícil solução (escrevi sobre isso aqui), os investimentos nesta área ainda são uma prioridade para o governo.
A história do país no que diz respeito a invenções inovadoras nas mais diversas áreas é bem antiga. São incontáveis as contribuições finlandesas nas áreas de biotecnologia, agricultura, tecnologia da informação, telecomunicações, meio ambiente e saúde. O porquê disso é justificado por diversos doutores e especialistas da seguinte forma: num país de população tão pequena e com tão poucos recursos naturais, principalmente por causa das condições climáticas, inovar é uma questão de sobrevivência. Esta é, inclusive, uma das maiores razões para, nos anos 70, o governo ter decidido que, para a Finlândia prosperar, era necessário criar uma ”sociedade baseada no conhecimento” movida por um sistema universal de educação.
Resolvi dedicar meu texto deste mês a algumas invenções finlandesas que quase todos já ouviram falar, mas poucos sabem que vêm daqui. E há muito mais, podem pesquisar à vontade!
Em 2008, dois pesquisadores italianos, um da Universidade de Oxford e outro da Universidade de Milão, descobriram que os primeiros patins de gelo da história foram projetados pelos finlandeses há – pasmem – 5 mil anos! Originalmente feitos com ossos de animais e couro, o instrumento foi criado para facilitar a vida durante o inverno, pois era possível cruzar os lagos com muito mais rapidez. Considerando que há 187.888 lagos na Finlândia, que ficam congelados de 4 a 6 meses por ano, é de se entender que a ideia dos patins tenha vindo daqui.
Apesar de haver registros de câmaras quentes para banho em diferentes civilizações, a sauna seca de madeira que conhecemos foi inventada e desenvolvida na Finlândia. Mais uma vez por causa do inverno, quando não existia água encanada e aquecida, a sauna era o lugar para se limpar o corpo evitando a proliferação de bactérias e doenças. Uma sauna bem quente, além de limpar os poros, tornava possível às pessoas se lavarem com água fria. E sua importância vai além disso: eram usadas como sala de parto, pois depois de aquecidas a 100 graus Célsius, o ambiente ficava esterilizado, reduzindo os riscos de contaminação e doenças fatais do pós-parto.
E mais uma vez o instinto de sobrevivência criou uma inovação. Durante a Guerra de Inverno 1939-1940, sem armas suficientes e sob a iminência de um ataque do bem armado exército vermelho soviético, o Capitão Eero Kuitinnen, especialista em munições, e sua equipe, precisavam projetar uma arma simples, “caseira” e eficiente contra os tanques. Kuitinen realizou um estudo minucioso e rápido, do qual o projeto “coquetel Molotov” surgiu. O artefato feito com garrafas e líquidos inflamáveis substituía as granadas. O nome foi escolhido em ”homenagem” ao general russo Vyacheslav Mikhailovich Molotov.
Este dispositivo tão usado nas academias de ginástica, que monitora a frequência cardíaca em tempo real como um relógio, foi inventado em 1977 pelo finlandês Seppo Säynäjäkangas, como parte do equipamento de treinamento para o time finlandês de salto com esquis.
Quem não conhece o jogo, criado pela empresa finlandesa Rovio Entertainment?
Em 1991, o jovem Linus Torvalds, um daqueles nerds super brilhantes, estudante da Universidade de Helsinki, e um curioso nato sobre sistemas operacionais, frustrou-se com o licenciamento do sistema MINIX, que naquela época foi limitado ao uso educacional. A frustração o levou a trabalhar seu próprio sistema operacional kernel que, eventualmente, se tornou o Linux kernel. A ideia principal era criar um sistema operacional totalmente funcional, livre e gratuito, e apesar de alguns percalços e de uma proibição jurídica de oferecer o sistema gratuitamente (claro que a Microsoft tentou fazer de tudo para atrapalhar), hoje o sistema operacional Linux está aí, firme e forte, usado inclusive pela NASA.
- O primeiro chat da história! Internet Relay Chat (IRC)
O IRC foi criado pelo programador finlandês Jarkko Oikarinen em 1988, um estudante da Universidade de Oulu. O objetivo do rapaz era criar um sistema de teletexto comunitário com recursos avançados que permitissem a ”conversa pública”, em tempo real, entre milhares de usuários, separados por canais, que poderiam também trocar mensagens privadas.
As primeiras redes de chat surgiram na Finlândia em servidores de universidades locais que se espalharam rapidamente por outras universidades em todo o mundo nórdico. Em 1989 já havia mais de 40 servidores de chat espalhados por todo o mundo.
O pai desta invenção, o engenheiro finlandês Matti Makkonen, nunca se tornou conhecido por sua realização e, enquanto vivo, nunca aceitou levar o crédito do que desenvolveu. Matti fazia parte de um grupo de profissionais que acreditava na filosofia do ”espírito da liberdade de informação” e, por isso, jamais se preocupou em documentar seus feitos e sempre dizia que não havia realizado nada sozinho. Apesar de o protocolo dos 160 caracteres ter sido inventado bem antes e ter sido o ponto de partida para os estudos de Makkonen, foram sim, seus esforços pessoais e sua liderança que possibilitaram o SMS via telefone móvel, desenvolvido pela Nokia. Matti Makkonen faleceu em 26 de junho de 2015.
Muito provavelmente seu carro ou sua bicicleta têm um desses. Nos países nórdicos eles vão além dos meios de transporte; durante os períodos escuros, todos temos que usar um em nossos casacos. O refletor de segurança foi inventado por um fazendeiro finlandês chamado Arvi Lehti. Sua ideia era bem simples e visava proteger suas carroças e cavalos nos períodos de escuridão no interior da Finlândia. Hoje em dia, grande parte dos carros e bicicletas são fabricados com um refletor de segurança.
Claro que os finlandeses não inventaram o xylitol em si, pois se trata de um açúcar natural que pode ser extraído de frutas, cogumelos e madeiras. Mas foram cientistas finlandeses que, nos anos 70, descobriram suas propriedades maravilhosas, benéficas não só para a saúde bucal, mas também para evitar infecções de ouvido, pneumonia e osteoporose, além de não conter nenhuma contra-indicação para pessoas diabéticas.
Na Finlândia, temos por hábito ter sempre chicletes de xylitol e os mascamos sempre depois das refeições. Para crianças a partir de um ano de idade, existem pastilhas com sabores de frutas.
Realmente posso atestar que, desde que criei o hábito de mascar o chiclete, não tive mais cáries. Há 3 anos não tenho nenhuma e meu marido, que é finlandês e sempre usou xylitol, praticamente nunca teve cáries. E olha que ele come muito doce!
Quer conhecer mais invenções finlandesas? Veja uma lista aqui e navegue pelo site This is Finland, oficial do governo local, em português. Até a próxima!
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Gostei muito, matei minha curiosidade a respeito. Boa matéria e bem escrita como sempre por você.