100 anos do sufrágio feminino na Alemanha.
O direito ao voto é um dos direitos democráticos básicos. No entanto, infelizmente desde o início da democracia certos grupos de pessoas foram impedidos de participar de qualquer tipo de decisão política em muitas sociedades pelo mundo. Na Alemanha, uma importante mudança nesse contexto completa agora um século: em 12 de novembro de 1918, o sufrágio feminino foi introduzido no país. Fruto de um movimento social, político e econômico de reforma, que tinha como principal objetivo estender o direito de voto às mulheres – que eram, até o momento, excluídas de participar de forma ativa na condução da sociedade.
Ao observarmos a Alemanha atualmente, essa árdua luta é algo até mesmo difícil de imaginar ser necessária. Entretanto, é claro que isso se deve ao longo caminho percorrido pelas sufragistas. A batalha por direitos iguais teve que prevalecer contra muitos preconceitos. Por exemplo, as mulheres eram, muitas vezes, percebidas como pessoas com inteligência diminuída ou demasiadamente emotivas, o que seria incompatível com a tomada de decisões políticas. Portanto, muita luta, insistência e reivindicações foram necessárias. Por volta de 1900, o sufrágio foi principalmente exigido pelo Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD). Entretanto, muitas pessoas fora desse partido também fizeram uma forte campanha pela mudança.
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Com o lema “Sufrágio feminino já”, em vários momentos mais de um milhão de mulheres saíram às ruas do país, principalmente no primeiro Dia Internacional da Mulher em março de 1911. Anos depois, a proximidade do fim da Primeira Guerra Mundial e os distúrbios políticos acarretados deram mais um forte impulso ao movimento em favor ao sufrágio feminino. Com tantos estragos físicos e mentais após esse período sangrento, a mulher foi fundamental pela reconstrução da Alemanha. A causa encontrou, portanto, apoio nos conselhos de trabalhadores e soldados, que passaram a entender a exigência do direito de voto feminino como uma das palavras de ordem da revolução.
Finalmente, no ano de 1918 o Conselho dos Deputados da Alemanha declarou: “Todas as eleições serão conduzidas sob o mesmo sufrágio secreto, direto e universal para todas as pessoas do sexo masculino e feminino com pelo menos 20 anos de idade”. Pouco tempo depois, já em janeiro de 1919, as alemãs puderam votar, pela primeira vez, nas eleições para a Assembleia Nacional. Nesse ano, também apareceram as primeiras candidatas. O primeiro país que garantiu o sufrágio feminino foi a Nova Zelândia, em 1893. Já no Brasil, a situação mudou no ano de 1932.
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As mulheres na Alemanha hoje
Tantos anos após conquistarem o direito ao voto, o desafio das mulheres hoje é alcançar a mesma proporção de participação política que os homens. Na Alemanha, a evolução é bem visível. Em 1949, o percentual de alemãs no parlamento era de quase 7%. Hoje em dia, elas completam mais de 30%. Como muitos sabem, a primeira mulher que chegou ao cargo de chanceler-federal foi Angela Merkel, em 2005. Este ano, ela chegou ao quarto mandato como chefe de governo do país. A representatividade política feminina também difere entre as realidades mais urbanas e as mais rurais. Nas grandes cidades, como Berlim ou Hamburgo, elas estão representadas de forma praticamente igual em nível municipal.
Conforme já tratado nesse texto, após entrarem no parlamento, outros direitos importantes foram, pouco a pouco, sendo conquistados. Ao longo dos últimos 100 anos, as alemãs não descansaram e se dedicaram para modificar leis e tradições machistas. Uma das conquistas foi a Lei de Proteção à Maternidade, cuja finalidade é assegurar a melhor proteção possível da saúde da mulher e do filho tanto durante a gravidez, quanto após o parto e durante a amamentação. Essa lei busca assegurar que mulheres não sofram desvantagens profissionais e que nenhum emprego seja ameaçado devido à maternidade.
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Outro ponto importante é a legalização do aborto nos três primeiros meses da gestação, aprovada pela coalizão social-liberal no Parlamento alemão em 1974. Além disso, a lei sobre igualdade de tratamento de homens e mulheres no trabalho entrou em vigor no ano de 1980. Entretanto, ainda há muito por fazer. Apesar do fato de que poucos países da União Europeia contam com tantas mulheres no mercado de trabalho quanto a Alemanha, desigualdades ainda persistem em alguns quesitos. Um bom exemplo é a igualdade salarial. As mulheres aqui ainda ganham 21% menos que os homens, além de assumirem mais posições de meio período.
Curiosidades:
- 73% das alemãs exercem uma profissão;
- 47% trabalham meio período, sendo que 13% involuntariamente;
- Cerca de 50% dos calouros universitários são mulheres;
- Em 1999, o número de professoras universitárias era de cerca de 4 mil. Hoje, 11 mil alemãs exercem a profissão em todo o país;
- Dos cerca de 62 milhões de votantes alemães, mais da metade são mulheres;
- O estado de Baden-Württemberg segue contando com um número menor de votos femininos nas eleições;
- As alemãs ainda ganham 21% menos do que os homens;
- Elas gastam 60% mais tempo com tarefas domésticas.