Qual é a maior dificuldade de quem sai de seu país para ser imigrante aqui na Noruega? Eu fiz essa pergunta à alguns conhecidos que vivem por aqui e tentei responde-la eu mesma também, para escrever esse texto.
As respostas foram variadas: ter que aprender um novo idioma, ter que se acostumar com uma cultura tão diferente da sua e para a maioria que vem à Noruega por ter conhecido e se apaixonado por um norueguês (a), ter que depender – ainda que por pouco tempo – de outra pessoa.
É muito comum conhecer pessoas que têm suas famílias, amigos, emprego e casa no Brasil e que ao vir para a Noruega, precisam aprender a construir tudo de novo. Procurando então, uma palavra que pudesse descrever todos esses desafios, eu encontrei “recomeçar.” A maior dificuldade das pessoas que resolvem viver na Noruega é a necessidade de recomeçar.
Alguém que terminou o ensino médio no Brasil e por falta de tempo, oportunidade ou até mesmo vontade, não fez ao menos um ano do Ensino Superior antes de se mudar para a Noruega, vai ser obrigado a refazer seu ensino médio por aqui, se quiser continuar seus estudos mais tarde.
Um profissional que usou quatro, cinco anos de sua vida numa universidade no Brasil é obrigado a recomeçar de novo quando descobre que aqui seu diploma vale menos e que se quiser continuar a trabalhar na área em que escolheu, na maioria das vezes precisará voltar a universidade aqui e fazer mais matérias para completar sua grade curricular.
E mesmo depois de ter o diploma reconhecido, para os profissionais de saúde é preciso passar (e muito bem) nós testes de nível mais alto em norueguês (Bergenstest) para só então estarem legalmente aptos a exercer suas profissões.
E não é só isso, é preciso começar do zero o tempo todo, em quase todos os aspectos.
Estamos recomeçando quando aprendemos, as vezes à duras penas, que os noruegueses não vão sorrir pra nós se não nos conhecerem. Que se seguirmos nosso jeito brasileiro e tentarmos puxar assunto com alguém numa fila de supermercado ou no ônibus, principalmente se não for na língua deles, é muito provável que recebamos apenas um sorriso amarelo como resposta.
Somos obrigados a nos acostumarmos com o frio congelante e chão coberto de gelo durante o inverno e a chuva quase que constante durante o verão.
Recomeçamos porque precisamos aprender a nos vestir de novo (blusa de lã por baixo, a blusa que a gente realmente quer usar, meia calca antes da calca jeans, duas meias nos dias mais frios e finalmente o sobretudo) se não quisermos passar todo o inverno doentes.
Nos assustamos com os dias que ficam escuros muito cedo durante o inverno e que parecem nunca quererem se despedir durante o verão e forçamos nosso organismo a se acostumar com todas essas mudanças físicas e as psicológicas também.
Quem decide vir pra cá precisa aprender a se reinventar, se redescobrir. Precisa mergulhar fundo dentro de si e descobrir versatilidade, paciência e bom humor para enfrentar todos os desafios. E mais do que tudo, tem que dominar a difícil e bonita arte de recomeçar.
19 Comments
Denise,
acho que todas nós passamos por isso, principalmente quem mudou para terras bem mais frias 🙁
O ponto positivo que tirei disso é realmente descobrir quem sou! Qdo saímos do conforto e enfrentamos novos mundos, descobrimos muito sobre os nossos limites e princípios.
Eu recomecei! Apaguei hábitos negativos, aprendi coisas novas e somei tudo à minha personalidade.
A flexibilidade é uma necessidade para quem muda de vida assim.
E no fim a recompensa é grande!
Parabéns pelo texto, você expôs o que todas as brasileiras nesse mundão precisam ter em mente quando se jogam numa nova vida 😉
Bjs Bá
Oi Bárbara!
É verdade, todo mundo que muda de país acaba tendo que sair da zona de conforto, pelo menos em algum aspecto. Como você disse, a recompensa é grande! Dois anos depois de sair do Brasil eu posso dizer que sou uma pessoa 80% diferente do que eu era antes, que amadureci muito e aprendi a gostar da minha própria companhia!
Mas confesso que isso de ter que fazer novos amigos ( nao conhecidos, colegas, mas amigos mesmo) foi um desafio muito grande pra mim, que no Brasil ainda tinha os mesmos amigos da infância e alguns poucos da faculdade.
Mas se fosse preciso eu sei que recomecaria mil e uma vezes mais, e acabaria sempre aprendendo algo novo sobre mim! Isso nao tem preco!
Obrigada, beijos :))
Denise,
Voce falou muitissimo bem, recomecar..me lembro de quando cheguei na Europa, tinha apenas 18 anos, mas mesmo sem muita experiencia de vida, ja que era nova, tambem passei por esse processo. Tive que me moldar a necessidade de onde estava, no meu caso, em Lisboa na epoca. Nao e facil, mas, como disse a Barbara, a recompensa para aqueles que consiguirem se manter no caminho, proque muitos desistem, sera grandiosa no final. Uma mente mais aberta, novos horizontes, falar varias linguas, enfim, e um mundo novo que se abre na frente dos nossos olhos a cada dia… Otimo texto! 🙂 xx
Falou tudo Ann, acho que pra quem quer ir pra um novo pais é muito importante manter o foco no objetivo que se quer alcancar e meio que “go for it”, sempre sabendo que como imigrantes somos nós que precisamos nos adaptar ao novo pais e a nova cultura, e nao o contrario! E o melhor é a possibilidade de se reiventar no processo! 🙂
Muito obrigada, beijos!
É tudo verdade! Recomeçar é mesmo uma arte, e uma oportunidade de olharmos novamente para dentro de nós mesmos, perguntando-nos onde estamos e o que queremos, reavaliando nossas atitudes, comportamento e até mesmo nossa maneira de pensar. Acho que todas nós tivemos recomeços ao mudar de país…
É por essas e outras que sempre que alguém me pergunta: “é fácil arrumar um emprego na Dinamarca?” eu venho com um discurso sobre a questão de mudar de país. Muita gente acha que é na base do oba-oba, e nem sequer se dá o trabalho de pensar a respeito da série de mudanças pelas quais terá que passar. Tem gente, inclusive, que vem morar fora e acaba voltando, justamente pela falta de preparo para se mudar, e ainda volta falando mal porque não se adaptou.
Parabéns pela expressão da verdade!
Cristiane, é verdade! Acho que no Brasil as pessoas tem uma impressao meio equivocada de que vai ser simples chegar no pais, arrumar emprego, alugar apartamento etc etc. Muitos (provavelmente por causa da imagem errada que as novelas passam de que em todo lugar se fala português hahaha) nao veem o quao complicadas esss coisas sao na verdade e quando chegam, tomam um choque cultural! Principalmente nos paises escandinavos eu acho, onde tudo é tao regrado, burocratizado e não existe o jeitinho brasileiro de lidar com as coisas. Mas com jogo de cintura a gente consegue se adaptar e se ajustar aos desafios que aparecem!
Muito obrigada! 🙂
Oi Denise! Recomeçar é a palavra… Porque sempre que nos mudamos, sempre que vamos a um país novo, temos que nos montar e remontar… Eu o faço, mas não quer dizer que seja mestra nessa arte… Sou taurina e, no fundo, gosto de estabilidade e tenho minhas coisas arraigadas. Gosto do meu círculo de amigos e, para mim, recomeçar é como nascer outra vez (ou como imagino que um bebê se sinta ao sair do ventre da mãe)… No entanto, não importa a dor que sinta, o que as coisas que descubro sobre mim ao renascer, ao me remontar são lições impagáveis. Cada um dos momentos, independente da dor que senti, foram transformadores!
Um beijo!
(estou no tablet e já vi vários erros! Argh!!! Sorry!)
Denise, achei otimo o seu texto e os aspectos que voce mencionou, o que eu acho interessante no nosso pais de origem, no Brasil, é que a maior parte das pessoas que querem vir, ir pro exterior, nao conseguem funcionar nem mesmo no proprio pais, com o apoio de familia, amigos, e ja tendo crescido e conhecendo bem a mentalidade, o pais, a sociedade, enfim a cultura, e exatamente estes, sao os que mais querem sair! rsrsrs Nao dao conta de ter disciplina nem pra aprender um ingles basico, decente antes de sair do pais, nao dao conta de se organizar com informaçoes, e se preparar financeiramente, com o tempo e a determinaçao necessaria, mas ai esperam que vc dê um “jeitinho”, vc ajude eles a virem pro exterior, eu sinceramente tenho uma empatia danada por estas pessoas, pois sei que estao insatisfeitas, e por isto querem mudar de pais, mas a questao é: se vc nao consegue se adaptar e vencer os desafios basicos do dia a dia no Brasil, vc realmente tem boas chances de viver bem, se adaptar em outro pais? os que vivem bem no Brasil, nao pensam em viver fora, pois se acham superiores no Brasil, e sabem que aqui fora , vc tem que baixar a bola, pois estes privilegios de classe como no Brasil, nao existe. Principalmente em paises desenvolvidos, que sao os de mais interesse para os “potenciais” emigrantes. Muito importante passarmos aqui a realidade de viver em outro pais. Eu tenho aprendido a duras penas, que este negocio de tentar “ajudar” é meio que fria, no final eu me sinto usada, e as pessoas ainda ficam chateadas e saem falando mal, pois naturalmente que nao se adaptam. A sindrome do “jardim do vizinho, que sempre é mias verde”, so existe na ilusao de cada um. Eu completo a sua palavra “recomeçar” com mais uma “resiliencia” e muita muita “humildade” e “trabalho” constantes. Namasté!
Denise, parabéns! E a palavra certa é essa mesmo: recomeçar.
Mas isso tem que ser feito todos os dias. E a cada final de dia, nos olharmos no espelho e dizer: venci mais um dia. Amanhã é outro recomeço. Isso às vezes cansa, desanima, mas ao mesmo tempo nos instiga a nos superar, romper nossas próprias barreiras, querer Ser ao invés de somente Estar.
Beijo.
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De, você falou tudo. Recomeçar de fato não é fácil, e está é a palavra de ordem quando se decide aventurar em terras extrangeiras. É impressionante como todo dia a gente tem que se reinventar aqui na Noruega, e tentar vencer os dias escuros e frios, do inverno dentro de nós.
Com certeza para mim, a Noruega está sendo uma grande universidade, principalmente por que também deixei tudo para trás, em nome do amor, como a maioria das brazucas que aqui estão. Agora em nome do amor, tenho que reencontrar a minha essência e me refazer dentro de mim, por que os desafios são muitos e intermináveis. Mas apesar de tudo, vale a pena! 🙂
Adorei o texto, ótima reflexão. Sucesso para você & conte comigo. Bjs, Marcela.
Obrigada amiga, conta comigo sempre também, voce sabe! Beijos 🙂
Amei o site!! Estou com uma mudança programada para inicio de 2015, para Oslo com minha família. Meu marido será transferido e vamos com fé. Estou hiper empolgada, mas tenho plena consciência de que não será fácil e a palavra reinventar caiu como uma luva. Tenho 2 duas filhas, uma de 12 e outra de 3. Estou mais preocupada com a adaptação delas do que com a minha. Mas como reinventar faz parte, então vamos la. Bjos
Adorei seu blog, espero que você escreva mais sobre a Noruega e sua cultura =)
Obrigado pelos seus textos, Denise. Objetivos e esclarecedores. Abraço de um brasileiro interessando em compartilhar também da experiência de viver nas terras nórdicas.
Denise, primeiramente parabéns por todos os seus textos, estão todos muito bem explicados e tem ajudado bastante, mas gostaria de uma opinião, por ser algo tão difícil inicialmente, o que vc acha de casais que vão juntos fazer esse “recomeço” ? Acha que toda essa turbulência de mudança e abalos físicos/psicológicos podem abalar um casamento? Principalmente levando em conta do grande contraste de sempre ter vivido em um país quente e de repente estar morando em um país tão gelado e chuvoso.
Obrigado !
Denise, primeiramente muito obrigado pelos textos, tem sido de bastante ajuda e todos muito bem explicados.
Tentarei ser o mais breve possível nas minhas dúvidas.
Sou músico, 24 anos e quero muito um dia viver/trabalhar na Noruega. Enquanto isso não é possível (mais por questões financeiras) estou coletando o máximo de informações possíveis pra não quebrar a cara quando a hora chegar.
Vejo muitas informações a respeito de muitas coisas sobre viver na Noruega, mas gostaria muito de saber coisas bem práticas como quanto, em média, preciso ter de dinheiro pra conseguir passar alguns meses sem trabalho(até conseguir um) contando com os vistos necessários, aluguéis, alimentação, enfim, os difíceis primeiros meses.
Se você por favor puder me ajudar com isso agradeço muito desde já. Tem sido difícil conseguir essa resposta de alguém que já mora aí e pode me dar melhores dicas (e já tentei com outros brasileiros mas sem sucesso =( )