A difícil vida de migrante durante a pandemia no Minho em Portugal.
Há um ano, fomos surpreendidos por uma pandemia que mudou a vida de todos. Aqui em Braga, no Minho, o que já não era fácil, piorou muito. Em março de 2020, a cidade fechou pela primeira vez. Não se ouvia um ruído sequer. Só os pássaros e o chafurdar das águas do chafariz da avenida central. Agora, pela segunda vez, os efeitos são vistos num simples caminhar: lojas e lojas fechadas.
Moro em Braga há quase quatro anos. Nunca vi a cidade do jeito que está agora. Totalmente fechada. Eu que sempre gostei da vida quase pacata daqui, hoje sinto receio do que virá. E digo: se tem alguma vontade de vir para cá, pense bem, reveja o capital financeiro e só venha se conseguir se manter por um tempo sem precisar trabalhar. Se a intenção é abrir um negócio, também pense e pesquise bastante.
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O melhor dos dois mundos seria manter um trabalho remoto e morar em Braga (meu sonho!). Mas vamos deixar esse devaneio para mais tarde. O que importa nesse texto é partilhar o quanto tudo ficou cinza e silencioso com a pandemia, e trazer um relato real sobre a difícil vida de um migrante no Minho, em Portugal. Por isso, trago alguns tópicos que podem ajudá-lo a refletir sobre uma possível mudança para cá:
1) Preconceito:
A difícil vida do migrante brasileiro na Europa – e acho que em qualquer parte do mundo – está relacionado à discriminação que sofremos. O país é visto muito mal por aqui. Violência, prostituição, corrupção e golpes. Tudo isso cerca um brasileiro aqui. Não adianta ser branco, loiro, ter dinheiro, ter doutorado… Haverá sempre um torcer de nariz.
2) Pandemia:
O COVID-19 piorou muito as coisas que já não eram fáceis. Não há trabalho. Ponto. Isso desde o mais simples até os mais especializados. Pesquise bem. Existem algumas profissões que se destacam, sim. Mas não se iluda com relatos de grupos de facebook. Os salários são baixos, os serviços online estão mais do que difundidos e o valor pago é baixo.
3) Custo de vida:
Viver em Portugal é bom. Não há dúvida. Mas o que adianta trabalhar sem condições dignas, dividir a casa com imensa gente e não ter qualidade de vida? Pense. Os aluguéis aumentaram muito aqui. Não se paga menos de 500 euros por um T1 (quarto-sala). Ou seja, a maioria ganha salário mínimo, em torno de 665 ilíquido (bruto). Com os descontos vai a quase 600. Sozinho não consegue pagar contas, pois somando água, luz, gás e tv/internet (mínimo de despesas fixas), chega-se a 100 euros (média aqui de casa). Isso sem contar mercado, mercearia e outras despesas.
4) Saúde e educação:
São dois tópicos que salvam tudo isso. Portugal é socialista. Residir no país legalmente tem as suas vantagens. Uma delas é a educação pública de qualidade. A saúde vale um senão. Brasileiro está acostumado a ir ao médico, principalmente a classe média. Aqui, quem não é isento paga sempre alguma coisa. Há custo reduzido para consultas no centro de saúde, no hospital e nos laboratórios. Por isso, não há exames o tempo todo. Esqueça isso. Dentista é caro e não é custeado pelo governo. No entanto, a maior parte dos remédios tem subsídio governamental.
5) Onde buscar ajuda:
Se você quer mesmo saber como vir morar em Braga, procure a Cruz Vermelha Portuguesa Delegação Braga. Há dois programas voltados para migrantes e que recorrem a todos: Acolhe+ e o Info Migrante. Os técnicos estão prontos a tirar dúvidas sobre todo o tipo de documentação, valores, trabalho, moradia, educação e saúde. Deixo aqui os contatos: Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM) – dbraga.claim@cruzvermelha.org.pt e o dbraga.infomigrante@cruzvermelha.org.pt
A difícil vida de migrante durante a pandemia
O certo é que, por vezes, pensei em desistir. Principalmente neste ano. Moro no centro de Braga. Sou estudante do doutoramento da Universidade do Minho. Tinha uma vida encaminhada antes do COVID-19. Agora, é só incerteza e solidão.
Assim como muitos (brasileiros ou não), estou a mercê do que virá. Sem perspectiva, sem horizonte. O que me ajuda é ter subsídio do governo e poder recorrer aos cursos do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Por isso, resolvi dividir esse momento. Essa pandemia ainda será perversa com muitos de nós. No próximo texto, trarei um depoimento do meu confinamento após apanhar COVID-19. Fiquem bem.
Cuidem-se. E se quiserem atravessar o oceano, planejem-se. Não há vida fácil por aqui.
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