Melbourne e Sydney são as maiores cidades da Austrália e também históricas arquirrivais. Fazendo um comparativo, podemos dizer que seria como São Paulo X Rio, Brasil X Argentina, ou talvez um dos clássicos FlaFlu e GreNal. Confesso que nunca tinha sequer ouvido falar em Melbourne até entrar pela primeira vez numa agência de intercâmbio. A grande verdade é que eu não sabia NA-DA sobre a Austrália além, é claro, do clichê básico: canguru, coala, Ópera House. Até então, achava que Sydney era a capital do país (spoiler alert: é Camberra) e não tinha nem ideia da rivalidade que existia entre ambas! Mas, afinal, qual o motivo dessa rixa e quais as diferenças entre as duas maiores metrópoles da Oceania? Depois de morar um ano em Melbourne, 10 meses em Sydney e responder milhões de vezes a pergunta “qual delas você prefere?”, vou tentar contar um pouquinho das experiências que vivi em cada uma.
Rivalidade
A criação de Camberra aconteceu em razão da constante briga entre Melbourne e Sydney, que dividiam o mesmo desejo em ser capital da Austrália. Por esse motivo, quando o país se tornou independente, foi decretado que a capital seria estabelecida no meio do caminho que liga as duas cidades australianas. Mas a competição segue acirrada ainda nos dias de hoje. Sydney é atualmente a maior e mais populosa, e recebeu por oito vezes consecutivas o título de “Melhor cidade do mundo” de acordo com a premiada revista americana Condé Nast Traveler. Melbourne, por sua vez, foi eleita sete vezes consecutivas “A melhor cidade para se viver no mundo” segundo o ranking da revista The Economist.
Cults X Surfistas
O “way of life” de ambas é nitidamente diferente. Melbourne é a cidade dos shows e dos eventos (F1 e Australian Open de tênis), das exposições, das baladas, dos coffee-shops, da arquitetura vitoriana, dos trams, dos casacos e botas elegantes, é tipo Sampa. Sydney é o lugar para se conectar com a natureza e descobrir praias lindíssimas, de fazer trilhas, dos surfistas, do brunch à beira-mar, da Harbour Bridge e Ópera House, dos ferrys, de bermuda e moletom, é tipo Rio só que com frio no inverno. Claro que o lifestyle depende muito do bairro em que você reside, mas ainda que a escolha seja morar na praia, é impossível comparar St. Kilda (Melbourne) com Bondi ou Manly (Sydney), por exemplo. Os australianos, de um modo geral, adoram fazer picnics e ‘barbecues’ ao ar livre e basta sair um solzinho pra ver todo mundo atirado nos gramados. Aliás, opções de lazer como parques e áreas verdes são facilmente encontradas nas duas localidades. As lojas de rua e shoppings costumam fechar cedo, por volta das 17h e, conforme mencionei no texto anterior, é uma missão quase impossível comprar bebida alcoólica depois das 22h.
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Climão
Em Melbourne, você passa frio o ano inteiro. Em outras palavras, o inverno dura de março à novembro, e as demais estações concentram-se entre dezembro e fevereiro. E quando está calor, é um sol pra cada! Brincadeiras à parte, o clima em Melbourne é maluco e muda muito em 24h, portanto casaco e guarda-chuva são itens quase obrigatórios. Em julho e agosto, a sensação térmica de madrugada chega a -5C. Já nos dias quentes, é difícil encontrar um cantinho para esticar a canga em St. Kilda, que costuma lotar nos finais de semana. Não podemos esquecer de mencionar o querido amigo vento, que também adora dar as caras sem ter sido convidado. Em Sydney, as estações são definidas e o frio é menos intenso no inverno, contudo, considero o clima bastante úmido. O verão é uma delícia, com praias e surfistas encantadores por todos os lados. A região de Bondi, Coogee e Maroubra concentra grande parte dos brasileiros que moram por aqui e não é difícil encontrar gente falando português.
Melbourne ganha disparado neste quesito, principalmente em termos de valores. É claro que tudo depende dos fatores onde você mora X onde você trabalha/estuda, mas aqui estão minhas razões para preferir a irmã do sul: Free Tram Zone, ou seja, não é preciso pagar para usar o transporte público na área que compreende o centro da cidade; extensa malha ferroviária, que cobre basicamente Melbourne inteira via trams (bonde) ou trens; passe mensal de uso ilimitado, que na verdade compreende o período de 28 dias, sendo possível utilizar qualquer transporte público e por quantas vezes quiser pagando o valor fixo de AU$ 145,05. Sydney é bem extensa e, dependendo de onde você escolher morar, vai gastar umas boas horas (e dólares) com transporte público. Eu moro na região chamada de Northern Beaches, a qual infelizmente não dispõe de metrô ou trens. No entanto, há a opção de pegar o ferry em Manly em direção ao centro, que custa AU$ 7,51, enquanto o ônibus sai por AU$ 4,71. O cálculo de quanto custa a passagem de ônibus varia conforme o trecho percorrido, o que acaba por ser mais em conta para quem mora perto do local de destino. De acordo com a administradora dos transportes na região, o valor máximo a ser gasto em um dia é de AU$ 15,80 e de AU$ 63,20 por semana. Já no domingo, você paga AU$ 2,70 e usa qualquer transporte público o dia todo em Sydney.
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Ganhos e gastos
Os gastos com supermercado e contas básicas (luz, água, internet, celular) são bem semelhantes e os salários (AU$/h) também não diferem muito se compararmos as mesmas profissões nos dois lugares. O aluguel, no entanto, é o grande vilão dos cálculos do mês. De acordo com o site Expatistan, que compara custos de várias cidades do mundo, o aluguel mensal de um studio mobiliado de 45m2 em uma área normal em Sydney sai por AU$ 1,803, e em Melbourne, AU$ 1,495. Ainda conforme o site, Sydney é a cidade mais cara da Oceania e está na 17ª posição no ranking mundial, enquanto Melbourne ocupa a 3ª e a 37ª posições, respectivamente.