Finalmente é real: as mulheres podem dirigir na Arábia Saudita!
O único país em que essa proibição ainda existia marcou a história no dia 24 de Junho.
Em todas as grandes cidades as mulheres saíram à meia noite para oficialmente tomar as ruas e comemorar essa vitória tão esperada. Nas redes sociais o que não falta são vídeos e fotos das primeiras mulheres a sentar no banco de motorista.
Algo que me deixou bastante emocionada e feliz por elas foi ver e ouvir os relatos, como por exemplo dos guardas de trânsito entregando rosas às condutoras, um sinal enorme de respeito a essa nova realidade que chegou para o país.
Uma amiga inclusive ganhou um aromatizador de carro de seu colega de trabalho. Uma coisa tão pequena e insignificante pra gente, mas que mostra uma outra cara da Arábia Saudita, a face humana, que muita gente desconhece.
Sim, eu sempre achei um absurdo não poder dirigir por aqui, e todos os anos esse boato de que as mulheres iriam dirigir surgia e morria na praia. Mas não dessa vez. Até ontem, as mulheres não podiam dirigir, e se fossem pegas poderiam ser sujeitas a pagar multas e serem presas, porém conheço histórias de algumas mulheres que dirigiram antes, com a proibição e levaram apenas uma advertência.
Leia também: Uma nova Arábia Saudita
Antes as mulheres até podiam comprar carros, mas não podiam dirigir. Então como é que elas faziam para se locomover?
Sempre dependendo de carona de algum homem, 87.2% das famílias sauditas tem motorista particular. Na falta de um motorista, a gente usa táxi, aplicativos como Uber ou empresas que prestam o serviço de chofer. Transporte público como ônibus urbano é inexistente e para praticamente qualquer locomoção é necessário ir de carro, andar a pé é raro pois ou é muito quente, ou os lugares são muito longe.
Em setembro de 2017, o príncipe regente Mohammed bin Salman, anunciou o fim da proibição para junho de 2018, e desde então o país e as mulheres vem se preparando para esse dia. Esse movimento faz parte de uma das várias reformas econômicas e sociais que fazem parte do plano “Vision 2030”, em direção à um Islã mais moderado.
Escolas de direção foram criadas, mulheres agentes de trânsito foram treinadas, espaços prioritários de estacionamento foram sinalizados, a conscientização da população tem sido trabalhada na mídia e inclusive como forma de marketing de várias empresas.
Hoje algumas cafeterias e outros serviços estão oferecendo descontos para quem apresentar sua carteira de motorista saudita.
Leia também: Ser mulher na Arábia Saudita
No entanto, é claro que a decisão não foi bem aceita por uma parte da população, que acredita que isso passa por cima da religião Islâmica. A verdade é que não existe nenhuma citação de que mulher não pode dirigir, porém a cultura enraizada muitas vezes predomina.
Uma pesquisa feita com 500 pessoas pela Arab News/You Gov acerca de como as pessoas estavam vendo essa mudança mostra que apenas 27% das mulheres e 13% dos homens estavam felizes com essa decisão.
Entre os que responderam estarem tristes, ofendidos, bravos ou chocados somaram 23% das mulheres e 29% dos homens.
Respostas como: inspirados, empoderados, aliviados e encorajados temos umas soma de 35% das mulheres e 35% dos homens.
15% das mulheres e 23% dos homens se mostraram indiferentes.
O que podemos ver é que entre os sauditas, esse assunto ainda gera reações pulverizadas. Nas minhas conversas cada vez que utilizava algum serviço de carona, os homens se mostraram divididos quanto ao assunto. Os que estavam felizes, geralmente os mais novos, falavam que era a coisa certa a se fazer. Quando eu perguntava para alguém que não estava tão satisfeito, eles simplesmente desviavam o assunto. Nunca nenhum se mostrou totalmente contra, pelo menos na minha frente.
Entre as mulheres sauditas do meu convívio, as que ainda não sabiam dirigir estavam ansiosas por aprender, mas uma grande maioria queria esperar algum tempo para começar a dirigir, para ver qual seria a reação do trânsito e o comportamento dos outros motoristas com essa nova leva de mulheres nas ruas.
Uma amiga relatou que se arrependeu de esperar muito para dar início ao processo de aprendizagem, pois hoje existe uma fila de espera de quase 10 mil mulheres para terem suas aulas de direção.
Leia mais: Como me reinventei na Arábia Saudita
Não há que se discutir o quão importante é este feito na vida das mulheres sauditas, pois em todos os outros países islâmicos as mulheres já dirigem e isso não as impede de manter sua cultura e religião.
Nesse vídeo abaixo fui dar uma voltinha para ver se encontrava alguma mulher dirigindo na rua.