Ainda sem poder sair de casa.
2020, que ano!
Te juro que nem sei mais o que pensar ou dizer. Acredito que já passei por todas as fases. . . já fui do “calma, isso vai passar” ao “nossa, quanto aprendizado, vamos evoluir como sociedade”; até chegar no “não aguento mais ficar em casa”.
Se você se identificou com qualquer de uma dessas situações te aviso que não é mera coincidência. Este ano vem sendo intenso e difícil.
Para dar uma aliviada no estresse tenho feito terapia por Skype, aulas de yoga na sala, meditação zen com a simpaticíssima Monja Zentchu e assistido a várias séries. E você, tem feito o quê?
A vida em quarentena
Quando começamos a quarentena obrigatória (ou seja, todo mundo em casa, ninguém sai se não a polícia te multa) o período era de 14 dias. Que foram renovados por mais 14 dias, que foram renovados, que foram renovados, que foram renovados, que foram renovados . . . calma, isso não é música ruim de um disco riscado (os mais jovens nem vão entender o que significa isso).
Realmente aconteceu por aqui. Das duas semanas iniciais, lá em março, a quarentena foi se estendendo de maneira arbitrária e continua em pé até o dia de hoje (4 de novembro).
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O que isso significa, em termos práticos?
- Para circular pelo país, por enquanto, só de carro e com autorização. Aos poucos estão voltando ônibus de longa distância e voos. Mas os protocolos para viajar por esses meios ainda são confusos.
- Eu, como brasileira, posso ir para o Brasil, mas depois não sei se poderei voltar para a minha casa. Não está claro como solucionar este problema.
- Brasileiros que estão pensando em mudar para cá para estudar alguma carreira universitária vão ter que esperar. As fronteiras ainda estão fechadas. Por enquanto, liberaram a entrada de pessoas, de países limítrofes, com exame da covid-19 negativo, pelo Aeroporto de Ezeiza, para passar as férias de verão por aqui.
- Já podemos sair de casa. Mas, no geral, para fazer compras. E sem aglomeração. Eventos, encontros e saídas ainda estão parcialmente proibidos.
- Economia, mais uma vez, à beira de um colpaso (infelizmente, coisa muito comum por aqui).
Um sonho realizado
Antes de gerar qualquer polêmica, quero deixar bem claro aos encrenqueiros de plantão que não sou uma coisa nem outra. Que não existe isso de “se você não está a favor, está contra”. Nem tudo na vida é assim. Sistemas e situações são complexos demais para discussões superficiais.
Uma vez aclarado este fato, falemos de política.
Depois que Alberto Fernandez e Cristina Kirchner assumiram o governo argentino, em dezembro de 2019, houve algumas mudanças importantes na economia para que nem as reservas $$$ e nem as pessoas saíssem do país. Parece que com a pandemia este sonho está se realizando.
Já que você pode ser nova/o por aqui, vou te dar um panorama geral. O povo argentino é tão desconfiado de tudo e de todos que não confia nem na sua própria moeda. Por isso, economizar dinheiro significa adquirir dólares. E vale qualquer método, para isso.
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No momento em que Macri era presidente, a compra estava liberada e os investimentos também, o que terminou, literalmente, da noite para o dia, em 23 de dezembro do ano passado, com as novas medidas do atual governo.
Desse modo, quem quer conseguir a moeda americana hoje em dia precisa de muita paciência ou então coragem. Os trâmites para conseguir comprar os 200 USD por mês são desanimadores. O preço do paralelo é impagável (1 dólar para 160/170 pesos). E o imposto desanimador para quem pagar com cartão é de nada mais, nada menos que 30%.
Como se não fosse pouco, as fronteiras continuam meio abertas, meio fechadas. Ainda não há políticas claras de como sair ou entrar no país. E tampouco se confirmam serviços de voos e ônibus de longa distância.
Este verão, ao que tudo indica, parece não ter outra alternativa se não viajar pela Argentina.
A Argentina real
Com toda a certeza, não sou a favor das atrocidades que o governo Bolsonaro está causando ao Brasil. No entanto, tenho que dar o braço a torcer e dizer que em algo ele tinha razão, a Argentina está caminhando na mesma direção que a Venezuela.
Apesar da inicial sensação de alívio ao descobrir que Macri havia perdido as eleições, agora fico na dúvida de como teria sido se ele tivesse ganhado. O governo do Alberto começou bem, mas a sensação hoje é de que se perdeu no meio do caminho e está sem rumo.
Ainda que a situação não seja tão drástica, há indícios de que não vai melhorar nos próximos meses. Empresas estão fechando. Multinacionais indo embora. Inflação aumentando. Salários diminuindo. Preços subindo. Qualidade de serviços caindo.
Certamente a Argentina de hoje não é uma boa opção para quem quer sair do Brasil. Nem para passar férias, menos ainda para vir morar.
E quando tudo isso terá fim?
Está aí uma pergunta que não sabemos nem temos como responder. Só podemos esperar. Como sei que a espera pode ser angustiante te proponho um momento de diversão.
No Netflix você encontra dois stand-ups (Sebástian Wainraich e Malena Pichot) e um seriado (Casi Feliz) que vale a pena ver para rir e também tentar entender um pouco como são, de fato, os argentinos e por que, segundo o próprio Wainraich, este país “tinha tudo para ser e mesmo assim não é”.