Na minha opinião, não.
Meu marido é estatístico e nos já procuramos diversas estatísticas sobre casamentos. Na maioria dos países do mundo a taxa de divorcio é de 50%. Porem, não conseguimos encontrar estatísticas referentes a casamentos multiculturais. Pela minha experiência, trabalhando como Relationship Coach há 4 anos e tendo a maioria de clientes casados com estrangeiros (67%), os casamentos multiculturais são mais sólidos e a taxa de divórcio me parece ser menor.
Em casos como os nossos, quando nos casamos com estrangeiros e decidimos morar fora do Brasil, só o amor não mantém o casamento feliz. E além de amarmos ao outro temos que amar a nós mesmas. Enfrentamos diversas situações no dia a dia que são bem complicadas. Coisas que estamos acostumadas a fazer normalmente em nosso país de origem não conseguimos fazer no país onde moramos. Eu me lembro das dificuldades que eu tive em me adaptar ao sistema métrico. Estava muito acostumada a comprar as minhas 250 gramas de peito de peru em um supermercado brasileiro. Quando fui sozinha pela primeira vez comprar peito de peru em um supermercado aqui nos Estados Unidos, eu pedi o que eu achava que seria o equivalente, 1/4 de libra, que acabou sendo uma quantidade muito menor do que eu queria. E encontrar creme de leite em lata? Não existem, vêm em caixinhas refrigeradas. Apesar de eu falar inglês razoavelmente bem, a minha fluência não é a mesma de hoje e estas situações geravam muita frustração. E como amar a si mesma quando sua autoestima começa a diminuir bastante? É difícil, por mais apoio que você tenha do seu marido. E sem amor próprio, é impossível amar de verdade seu companheiro.
E aí entra o segundo elemento desta equação: o companheirismo. Quando você tem um companheiro ao seu lado, você tem alguém genuinamente preocupado com a sua felicidade e o seu bem-estar. Alguém que vai te ajudar a se adaptar à nova cultura e te ajudar a elevar a sua autoestima. Um companheiro vai te ajudar a compreender as regras, a língua e os hábitos do novo país. Que vai te levar ao supermercado e ao shopping, e encontrar as coisas que são importantes para você. Que vai te deixar dirigir ao lado dele e te explicar as regras de direção do lugar. Que vai te explicar como se portar em certas ocasiões para você não se expor. Que vai te ajudar a praticar a língua do novo país sem te criticar, mas te corrgindo com carinho para que a sua fluência melhore. Que te ajude a escolher médicos e dentista com os quais voce se sinta confortável. Enfim, fazer com que voce se sinta em casa, em seu novo país e entender todo o esforço e sacrifício que você esta fazendo. Alguém que cuide de você, não de uma maneira paternalista, mas carinhosa. Como dizia a minha avó, quem ama, cuida!
O terceiro elemento desta equação é a cumplicidade. Cumplicidade acontece quando o casal está na mesma sintonia. E um casal que escolhe enfrentar o desafio de um casamento multicultural sabe que a famosa química que existe entre casais tem que ir um pouco além, e é isto ajuda a criar esta cumplicidade. Porque nós passamos por experiências únicas que acabam nos unindo mais. O fato de só podermos contar com os nossos maridos no começo por causa da distancia da familia solidifica esta cumplicidade. O importante é estarmos sempre ajudando e apoiando o outro com muito carinho, compaixão e empatia. Este cuidado mútuo se torna cumplicidade e isto é muito perceptível quando olhamos nos olhos um do outro e vemos que podemos sim contar com a pessoa com a qual escolhemos casar sem que haja dúvida nenhuma. Eu sempre me derreto quando vejo casais se olhando e percebo a cumplicidade entre eles.
O quarto elemento da equação é a vontade de estar junto. Sem esta vontade nada é possível. Não há amor que resista. Aqui nos Estados Unidos usamos muito a expressão “Where there’s a will, there’s a way” (onde se tem vontade, se dá um jeito) que é muito verdadeira. Quando temos vontade de estar com uma pessoa arrumamos tempo, esquecemos do cansaço, não damos importância para a distância. Enfim, fazemos de tudo e passamos por cima de qualquer obstáculo para estar junto daquela pessoa.
O quinto elemento desta equação é a confiança. A confiança é a maior fonte de ciúmes. E confiança leva tempo para se desenvolver. Você tem que conhecer bem a pessoa a ponto de acreditar que ela esta sempre sendo honesta com você. Mas para criar um ambiente propenso a gerar confiança nos temos que estar preparados para ouvir as verdades e agir com maturidade. Nem sempre a verdade é fácil de ser dita e de ser ouvida. Muitas vezes a verdade dói. Nós, brasileiros, de modo geral, temos dificuldades em dizer não. Em muitas culturas, o não é muito normal. Então, quando nos disserem não ou nos contarem uma verdade dolorosa temos que parar, pensar sobre ela e assimilá-la sem fazer drama. Aceitando o fato de que só através da verdade conquistaremos a confiança. E viver com alguém sem desconfiar constantemente desta pessoa é libertador.
Se nós investirmos nosso tempo e energia nestes cinco elementos, amor, companheirismo, cumplicidade, confiança e vontade as nossas chances de ter um casamento muito feliz se ampliam exponencialmente. Em nos casos que eu citei acima, os 67% de casamentos multiculturais que eu atendo, eu vejo isto claramente. Há uma maior vontade de estar juntos, cumplicidade, companheirismo de confiar no seu parceiro. Não há aquela vontade constante fazer joguinhos usando ex-namorados, de brigar a troco de nada, de botar a culpa de tudo no outro. Eu vejo mais casais multiculturais criando um ambiente saudável em casa aonde o amor floresce. E não existe nada melhor do que morar em um lar repleto de amor e confiança.
3 Comments
Adorei a matéria… É bem realista e esclarecedor! Você tem este te em inglês? Se eu somente traduzir no google não vai ficar tão bom como você escreveu. Obrigada!
Obrigada, Carol! Infelizmente eu so escrevi em português. E como estou de ferias não vou conseguir traduzir para o ingles agora.
Você tem este texto em inglês?