O verão está aí e, por todo o hemisfério norte, nos deparamos com milhões de pessoas correndo atrás do sol, brigando por um lugar para esticar sua toalha nas areias da praia ou piscina e ‘pegar uma cor’, certo? Sim, menos na China, nas Filipinas, como no texto O Ideal de Ser Branco (e acho que Japão e Coreia também).
Aqui as pessoas fogem do sol como se fosse uma praga contagiosa. Na China o ‘fashion’, ‘chic’, bacana é ser branco. Transparente, se fosse possível. E para isso não se mede esforço. Aí vocês podem estar pensando: ‘mas eles estão certos, o sol em excesso faz mal à pele etc etc.’ Realmente, mas esse motivo não é o que impulsiona essa repulsa compulsiva ao astro rei. O que motiva é o preconceito! Sim, isso mesmo.
Desde a época do Império, o tom de pele morena, bronzeada de sol, era sinônimo de trabalho braçal, nas plantações, cuidando de animais, carregando as coisas e as pessoas pelas cidades e vilas. Já os nobres ou os que tinham uma posição financeira privilegiada não precisavam fazer esse serviço: pagavam para que empregados o fizessem. Com isso se expunham menos ao sol e a pele era mais clara e sem manchas.
Essa diferença foi sendo reforçada com o passar dos tempos e hoje chegou num ponto bizarro, onde nem o sol indireto, aquele que tomamos quando dirigimos ou andamos na rua, é bem visto. Quanto mais eu quero mostrar que sou rico, tenho dinheiro e poder, mais branco preciso ser.
Como uma sociedade de consumo voraz, milhões de objetos e acessórios são desenvolvidos e aprimorados ano a ano para possibilitar esse sonho de consumo social. Mais ou menos como as lentes de contato verdes e azuis para aqueles que sonham em ter olhos claros e não tiveram a possibilidade genética para isso. =]
Vindo morar na China, entendi o verdadeiro significado da palavra ‘sombrinha’ que, no Brasil, usamos erroneamente, em algumas regiões, para denominar guarda-chuva. Sombrinha aqui é exatamente para fazer sombra. E hoje estão cheias de tecnologia, com forros que refletem o sol e bloqueiam ainda mais sua ação.
Para as mulheres então, a busca pelo ‘branco ideal’ é motivo de exaustivos tratamentos e cuidados diários. As roupas frescas de verão possuem mangas sobressalentes para serem usadas quando se expõe ao sol, andam de bicicleta ou scooter. As viseiras são verdadeiros capacetes e chapéus de abas largas, vendidos em qualquer esquina. Mas não pensem que munidas de um desses itens elas se sentem protegidas. De jeito nenhum: eles são usados em conjunto, todos de uma só vez. E quem tem uma condição financeira mais abastada, ainda pode se dar ao luxo de comprar acessórios para carro que cobrem os braços e as mãos com proteção de raios UVA e UVB!
As roupas de banho, então, são um caso à parte: parecem mais roupas de mergulho em alto mar. Mas isso só para os que se atrevem a enfrentar o sol nos horários de pico, ou seja, das 8:00 às 18:00. Praia e piscina só lotam aqui quando a sombra prevalece ou preferem as piscinas cobertas para se refrescar sem riscos.
E os cremes acompanham essa ‘necessidade’ do mercado. As grandes marcas de cosméticos e produtos antiidade são vendidos com o selo ‘whitening’ ou branqueadores em português, claro! Quando vim para cá, nem me preocupei em trazer estoque de cremes, já que havia visto mil propagandas de todas as marcas recomendadas pela minha dermatologista no Brasil. Triste realidade quando percebi que na China, achar um produto somente anti-idade e com filtro solar fator 20 ou 30 era mais difícil de encontrar que sandálias havaianas!
Agora desespero mesmo, eles sentem quando veem um grupo de laowais (estrangeiros) se esbaldando nas piscinas dos condomínios às 10 da manhã, com os termômetros batendo nos 40°C. Pedem para sairmos porque vamos queimar a pele. E para explicar que no ocidente pele bronzeada é o ‘must’!?!?
Até a próxima!
11 Comments
muito interessante
Acho um barato essas diferenças culturais. Aqui na Dinamarca o pessoal é perseguidor do sol: tem dias em que pode estar até ventando, mas se der um solzinho por mínimo que seja, o povo já sai arrancando a camisa e tirando os vestidinhos curtos e sem manga e os shorts do armário… Ou então, no alto verão, saem todos em debandada para o sul da França ou para a Espanha. É de rachar de rir! No começo eu não entendia essa busca desenfreada pelo sol mas depois de passar o inverno aqui, sei bem o porquê!! O mais curioso é notar que praticamente todos os países asiáticos têm essa ‘ditadura contra o sol’. Bacana o seu texto!
Obrigada Cristiane. Mas vale ressaltar que aqui também tem um inverno de arrepiar, morei no norte da China onde as temperaturas chegam aos inimagináveis 30° ou 40° negativos, com o dia raiando as 8:30am e anoitecendo as 3pm. E nem assim o povo quer saber de sol…rs. Eles não gostam de sol. Fato…rs. Beijo.
Gente incrivel como os paralelos de culturas de paises em desenvolvimento, veja o motivo pelo qual os chineses querem ser branco é associado a ser parte de uma classe social de elite, nao fazem trabalho braçal, rsrsrsr No Brasil, a gente mostra isto atraves do carro, das roupas de marca, da casa, rsrsrsrrsr mas o principio ö o mesmo, somente os meios sao outros! Na Dinamarca, muito bem relatado pela nossa querida Christiane, como é um pais rico, as pessoas procuram o bem estar, e naturalmente como o sol tem todo um efeito importante no nosso sistema biologico, onde ele é limitado, as pessoas o procuram sempre que podem! Afinal neste caso o sol se torna o objetivo de luxo! rsrsrsrr Otimo texto! adorei, aqui na Suiça, as pessoas procuram o sol sempre, mesmo no inverno, pois afinal de contas esquiar e a vida na montanha é exatamente pra estar acima das nuvens cinzentas de inverno e aproveitar pra recarregar o deposito de vitamina D e luz, pra levantar os animos tao necessarios no inverno! Namasté! 🙂 e viva o nosso astro rei que é vida! mas como tudo com equilibrio sem excessos!
Ah, Ana Cristina… não pense você que é só o sol que determina status aqui. Isso era na época da Revolução Cultural em que não se tinha bens de consumo. Agora, além da pele ultra branca, ainda tem o carro, a roupa de griffe e a bolsa mais cara que se puder encontrar! =]
Obrigada pelo comentário.
Beijo
Adorei!
Fiquei imaginando as pessoas e as roupas (para variar…) e como sempre, sou a favor do estilo chinês de se vestir rs…
Essa questão do quesito brancura estar ligado ao preconceito, melhor eu nem falar nada… Ai que preguiça desses preconceitos!
Parabéns Chris! Como sempre, aumentado meus conhecimentos da vida chinesa que eu custo a entender muitas vezes 😉
Barbara, não se desespere. Se eu que estou aqui há 9 anos e tento me interar da cultura, de vez em quando entro em curto circuito interno… imagina quem nunca pisou aqui! =]
Beijo.
Tambem acho engracado, devo admitir, sem “sociologiar” (palavra inventada) rs, essa coisa de fugir do sol. Outro dia, em Bruxelas vi uma excursao de chineses passando na rua, estava sol e claro nao faltaram as sombrinhas rsrsrs..cada povo com suas manias 😉 x
Sim Ann! E viva as diferenças!! rs
Beijo.
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