Quando me mudei para o sudeste asiático, em 2014, nunca havia ouvido falar nesse fenômeno que acomete muitas cidades da região e acredito que a maioria dos brasileiros também não. Haze, palavra em inglês para névoa ou neblina, é o nome da fumaça que invade os países do sudeste asiático todos os anos por décadas. Ha notícias de que desde 1970 esse problema atinge Cingapura e países como Malásia e Indonésia.
Essa fumaça é causada exclusivamente pelas queimadas intencionais de plantações de palma usada na fabricação de óleo de palma (palm oil) na Indonésia, mais especificamente na região de Sumatra. Já falei sobre essas queimadas e suas outras consequências nesse texto aqui, quando morava na Malásia, que também é uma das responsáveis por este e outros problemas causados pelas queimadas.
A fumaça tóxica conhecida como haze invade as cidades normalmente no segundo semestre de cada ano – que é a época de pouca ou nenhuma chuva – e dura 2 meses, podendo variar seu tempo e intensidade. Ela é trazida pelo vento e como Cingapura fica geograficamente na frente de Sumatra, é um dos países mais afetados, além da própria Indonésia e Malásia.
Com a chegada da haze muitas atividades cotidianas da população são afetadas. Escolas são fechadas e uma simples caminhada na rua pode se tornar um desafio. O cheiro é forte e causa ardência nos olhos e garganta. Pode causar diversos problemas respiratórios em pessoas mais suscetíveis e também em crianças e idosos. Problemas mais graves são causados a longo prazo. O uso de máscaras próprias é recomendado pelo governo. No início eu mesma ficava relutante em usar, já que esteticamente até assusta, mas esse ano não teve jeito. A máscara foi necessária e me ajudou muito. Fazer esporte ao ar livre deve ser evitado e a maioria das academias que realizam atividades ao ar livre acabam cancelando suas aulas ou eventos.
Beber muita água e se manter em locais fechados com ar condicionado, até mesmo em casa, é o melhor a fazer para se proteger da haze. Outra coisa é sempre se manter informado sobre os níveis de poluição do ar no site do governo, atualizado a cada 3 horas.
Essa fumaça é considerada extremamente prejudicial à saúde por conter diversos poluentes; entre eles, os mais preocupantes são o dióxido sulfúrico e monóxido de carbono. O índice de poluição é chamado de PSI (Pollutant Standards Index). Esse índice varia de 0 a 300, sendo considerado de alto risco quando acima de 300.
O ano de 2015 está sendo considerado pela NASA o pior ano de todos os tempos desde 1997, com níveis altíssimos de poluição aqui em Cingapura e países vizinhos, com índices chegando a mais de 300 em Kuala Lumpur e em Cingapura, aos 280; estes são índices considerados muito altos e prejudicais à saúde. Em 2013 Cingapura chegou a registrar 401 PSI. Sumatra, na Indonésia, estava em estado de emergência nesse mesmo período.
Além da fumaça que prejudica a nós e aos animais que vivem na cidade, trabalho escravo infantil e adulto ocorrem nas plantações e também a morte de milhares de animais selvagens que já estão em extinção.
Esse é um problema gravíssimo que milhões de pessoas enfrentam aqui do outro lado do mundo e sobre o qual outros milhões sequer têm conhecimento.
O governo de Cingapura atua ativamente com o governo da Indonésia para tentar acabar com as queimadas, mas ainda não obtiveram sucesso. Resta-nos torcer para que esse problema chegue ao conhecimento de cada vez mais pessoas e que isso ajude a reduzir o consumo desse óleo, utilizado em praticamente todos os produtos industrializados, para que consequentemente acabem as queimadas.
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