Comida orgânica na Espanha.
Uma das coisas que mais me impressionaram quando mudei para Espanha foi o preço bastante barato e a ótima qualidade em geral da comida vendida nos supermercados. Mas confesso que quando cheguei por aqui não me impressionou em nada a oferta de orgânicos, mas isso porque eu fazia compras sempre no mesmo mercado, o Mercadona que é um mercado bom e com produtos de qualidade e que era vizinho da minha casa, mas que coincidentemente é o único que não vende nadinha de orgânicos em suas prateleiras até hoje.
Os produtos orgânicos, também chamados na Espanha de bio ou eco, antes eram encontrados com mais facilidade somente em lojas especializadas de produtos naturais mas, do último ano para cá, eu notei que a quantidade de produtos ecológicos aumentou muito em todas as outras redes de mercados daqui que frequento, algumas redes, inclusive, já são bastante conhecidas e tradicionais no restante da Europa em terem um espaço reservado para a venda desses produtos, como é o caso da rede Alemã Lidl, o Al campo (Auchan), o Hipercor do Corte Inglês e mais recentemente também o Consum e o Carrefour, que começaram timidamente reservando um pequeno espaço que vem crescendo a cada dia e hoje ocupa prateleiras e espaços consideráveis.
A Espanha hoje é o décimo país no ranking mundial de consumo de alimentos orgânicos e respeitosos com o meio ambiente.
Eu adoro consumir alimentos ecológicos e como os preços por aqui não são tão impeditivos, aos poucos acabei por incorporá-los em praticamente dois terços de tudo o que comemos em casa. Desse um terço não orgânico, a maioria são peixes e frutos do mar que são itens que consumimos bastante, afinal adotamos muito da maravilhosa dieta mediterrânea, e são sempre do tipo convencional, já que eu nunca encontrei na Espanha peixes ou frutos do mar ecológicos.
Nos produtos industrializados, a diferença de preço não é tão grande entre os ecológicos e não ecológicos como detergentes, leites vegetais, tomate puro triturado, massas, cafés, feijões e lentilhas já prontos, além dos azeites e vinhos. Já nos produtos frescos como frutas, verduras, mel, carnes e derivados, a diferença de valor pode chegar a 30% ou até mais nos produtos eco.
Acredito que essa diferença que pagamos mais caro na comida ecológica compensa muito na economia que fazemos com remédios e produtos de beleza. Pessoalmente notei uma melhora bastante grande na minha saúde, disposição em geral e aparência física como pele, cabelos, etc. Sem contar no benefício imensurável para o planeta na escolha desses produtos.
Sou do time que acredita que, ao comprarmos produtos orgânicos, estamos incentivando e estimulando da maneira que está ao nosso alcance como consumidores uma agricultura mais sustentável e que é boa para todo mundo, humanos e natureza.
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Dos produtos ecológicos que eu consumo com mais frequência, sei que ovos, mel e frangos bio são os mais caros e podem chegar a custar até o dobro do não bio/eco mas, ainda assim, continuam a ser muito baratos se temos como comparação os preços praticados no Brasil, pelo menos na época em que eu ia no mercado.
Para dar uma ideia de valores, eu fiz uma seleção de alguns dos produtos ecológicos de mercado que compro com frequência e os preços dos não ecológicos do mesmo padrão. Alguns produtos têm uma diferença de apenas 10 centavos.
Preços em Euro, em novembro 2018:
Produto | Orgânico / Ecológico | Convencional |
Detergente | 1,29 | 0,75 |
Leite vegetal aveia/avelã | 1,99 | 1,45 |
Tomate triturado | 1,49 | 0,93 |
Macarrão integral | 0,99 | 0,89 |
Azeite | 3,55 | 2,35 |
Café | 2,99 | 2,10 |
Vinho | 3,99 | 2,39 |
Lentilha cozida em vidro | 1,79 | 0,68 |
Alho | 1,59 | 1,25 |
Banana | 2,65 | 1,29 |
Mel | 3,25 | 1,00 |
Frango | 5,20 | 3,60 |
Ovos | 1,99 | 1,45 |
- Vinhos comparados similares, ambos com denominação de origem de Alicante.
- Azeites extra virgem similares, ambos da marca própria do mesmo mercado.
A Espanha atualmente é o país europeu com a maior área e superfície plantada de alimentos ecológicos, claro que grande parte dessa produção também é destinada à exportação.
Apesar do mercado orgânico na Espanha estar em plena expansão, há dados de um crescimento no consumo de 14% em 2017. O espanhol ainda não dá muita prioridade a esses alimentos se comparados com o restante da Europa.
Segundo pesquisas, na lista de prioridades na hora da escolha do consumidor espanhol, vem primeiro o fato de ser ou não um produto que por aqui eles chamam de “produto de proximidade”, já que os produtos locais são bastante valorizados em cada região e, em seguida, ser um produto de temporada. É um hábito espanhol comer a comida da estação e valorizar as receitas específicas e tradicionais para cada época do ano.
Escuta-se muito, até nos programas culinários de tevê, que esses dois fatores que já são bastante culturais da Espanha, por si só já fazem do produto mais ecológico. O que é verdade em certo sentido, já que esses produtos acabam sendo mais sustentáveis por não necessitarem de tantos transportes e logísticas que são obviamente poluentes, e também por serem de época não necessitarem tantos fertilizantes e/ou agrotóxicos em excesso.
Eu penso que um dos motivos para os produtos orgânicos ainda não estarem na prioridade na lista dos consumidores espanhóis seja compreensível, até pelo fato das regras da comunidade europeia serem muito mais rígidas e os limites permitidos de agrotóxicos serem infinitamente menores do permitido no Brasil, mas isso é uma suposição minha.
Agora, um fato inegável é que o uso e venda de agrotóxicos na Espanha são extremamente controlados se compararmos com o Brasil. Lembro quando eu vivia no sul de Minas que em qualquer casa de produtos agrícolas você poderia comprar quase todo tipo de veneno sem nenhum controle. Sem falar nos agrotóxicos e afins que aqui já foram abolidos há muitos anos e que infelizmente ainda são permitidos no Brasil.
O que não é o caso do glifosato, que infelizmente ainda é utilizado na Europa, apesar da resolução do parlamento europeu de 24/10/2017 que propõe banir o uso do mesmo até 2022 no continente. Ou seja, já existe uma resolução europeia que aboliu e proibiu o glifosato para uso não profissional a partir daquela data, e também banirá e abolirá o uso em escala definitivamente até 2022.
Parece tão óbvio que até uma criança sabe não ser bom para a saúde passar veneno na comida que em seguida vai comer! Mas enfim, existe toda uma indústria global por detrás dos agrotóxicos desde a década de 70, e mais recentemente por detrás dos transgênicos e a questão é bastante polêmica.
Um dos fatores que pesaram bastante na soma da nossa decisão de mudança, foi o uso e abuso de agrotóxicos no Brasil que me incomodava bastante, antes mesmo da aprovação recente da conhecida PL do veneno, que infelizmente afrouxou ainda mais o uso de agrotóxicos e transgênicos.
Espero e torço sinceramente que um dia o Brasil reverta esta direção, banindo o uso do glifosato e transgênicos, e que passe a valorizar e aumentar a produção de produtos orgânicos e sustentáveis.