Desde que mudei pra Turquia as perguntas dos meus amigos se repetem. Como é viver aí? O que tem parecido com o Brasil? Tem muitas regras? Você usa véu agora?
Curiosidades legítimas, pois também já foram as minhas quando estava descobrindo o país, eu só sabia que era um país islâmico e que já havia sido o império turco-otomano por conta das aulas de história do ensino médio e o que poderia ser perigoso por conta da novela Salve Jorge.
Antes de vir pela primeira vez pesquisei sobre o país e achei muita informação sobre a vida nas cidades grandes, Istambul, Ankara e İzmir, mas acabei não morando em nenhuma delas e tampouco são parecidas com onde vim morar, Yalıkavak, uma vila no litoral.
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A segunda é que o costume na vila era a família dividir as terras entre os filhos, aos filhos homens eram dadas as terras mais altas nas montanhas porque eram melhores para o plantio e as mais próximas à praia, que eram menos produtivas, iam para as filhas.
Mas vejam que ironia, o machismo na escolha das terras dando as piores para as mulheres permitiu que essas mesmas mulheres fossem as que mais lucrassem com as terras no futuro. Hoje são hotéis e restaurantes, o coração da cidade.
Eu me mudei no começo do verão e posso dizer que é a melhor época para ver a cidade nascer. As casinhas são de até dois andares, branquinhas, muitas flores e árvores nas ruas que deixam a cidade bem perfumada quando começa a ventar, até hoje não sei se o cheirinho vem das flores ou das oliveiras, mas é bom, suave e docinho.
A vila tem poucos moradores fixos, mas muitos de veraneio, a cada grau a mais no verão, a cidade ganhava mais vida, mais gente.
Descobri que mudei para um pequeno paraíso, a vila é toda rodeada pelo Mar Egeu, atrai turistas de todas as partes do mundo e seu vizinho Bodrum é conhecido como a Riviera Turca, daí já dá pra imaginar né?
O mar é calminho, as águas claras azuladas e mais frias do que no Brasil sem dúvida, o chão é de pedras, então, entrando devagarinho fica tudo bem. O que eu acho estranho é não ver a linha do horizonte. Há sempre montanhas ou ilhas do outro lado, descobri que essa é a diferença entre ir para a praia num Mar ou Oceano.
As pessoas passam literalmente o dia todo na praia no verão e vão todos os dias, me dava até uma agonia ver tanta gente vermelha, tipo camarão mesmo, só pensava: “Meus Deus, esse povo não tem medo de pegar insolação, não? Não passam um protetorzinho?” Não é que não goste de praia, amo, cresci em uma, Enseadas dos Corais-PE, mas nunca fui com tanta frequência quanto o pessoal vai aqui e no começo realmente achava um exagero.
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Mas agora que os dias estão ficando mais frios com o outono chegando. Comecei a entender melhor, pois já sinto falta da praia e no Brasil nunca tive essa sensação porque é verão o ano todo, tanto faz ir em maio ou dezembro, mas aqui não dá, e o pessoal aqui já sabia dessa sensação e por isso o full time na praia.
Por Yalıkavak ser um lugar que vive de turismo, a aceitação de outros povos e culturas é bem natural. É possível usar shortinho, cabelão solto, biquíni, beber álcool sem nenhum questionamento, às vezes você percebe o olhar curioso, acho que é devido a estética diferente, mas até agora nada desrespeitoso ou recriminatório.
Na mesma praia onde eu estava com meu biquíni havia mulheres com o corpo todo coberto, nadando felizonas como eu, cada um na sua cultura e respeitando o espaço do outro.
Sei que não é assim em toda cidade na Turquia, que apesar do estado laico em algumas regiões, a religião dita as regras e eu não seria exatamente bem-vinda, mas aqui eu sou.
A vida perto da praia é a vida que eu conheço e poder continuar a vivê-la aqui foi uma sorte. Os dias ainda estão quentes, as pessoas amigáveis e a brisa do mar constante faz a minha experiência inicial de morar numa cidade na Turquia mais fácil.
7 Comments
Eu tenho uma curiosidade, o pessoal aí não fala muito pra você que você não se parece brasileira por causa da sua aparência?? Eu não sei porque mas tem alguns gringos que acham que no Brasil todo mundo é negro kkk
Sim, que sou muito branca e muito magra, só o cabelo que por ser cacheado eles reconhecem como sendo do Brasil. Mas nunca disseram nada a mim, mas ao meu marido e ele me contou, eles evitam falar da aparência, do físico, pra eles é desrespeitoso. Pra mim dizem que me passo por turca fácil.
Não nos conhecemos, mas sua mãe é uma amiga muito querida. Sua apresentação desse lindo e misterioso país fez nascer em mim o desejo de conhecer, principalmente quando você fala do mar Egeu. Mesmo estando familiarizada com o Mar, tenho a impressão que o azul do Mar Egeu é inigualável! Obrigada por compartilhar conosco sua experiência.
É realmente totalmente diferente o mar, vale a pena conhecer.
Achei muito interessante pois lá eles respeitam todas as pessoas independente de qualquer cultura e muito bonita também o lugar e Concordo com você Marília, pois eu não esqueço da minha cidade Natal Pesqueira, suas origens pois eu moro no Cabo de Santo Agostinho a 15 anos mas não esqueço minhas origens. Sinto-me feliz e fico feliz por você também ter sido bem recebida pelas pessoas que te acolheram. Te desejo sucesso na sua vida. Bjs
Maravilha de matéria Marília. Obrigada por nos proporcionar conhecer as belezas da Turquia.
Já estou ansiosa aguardando mais novidades. Em breve conhecerei esse paraíso.
Em breve, você vai adorar.