Deixei minha carreira no Brasil para ser babá pelo mundo
Antes de eu ir embora do Brasil pela primeira vez, eu trabalhava no departamento de Marketing de uma empresa de Telemarketing. Atendia o 0800 da empresa e ajudava na mão de obra dos eventos. Tinha 20 anos de idade e estava cursando Letras na faculdade porque queria ser professora de inglês.
Não gostava de onde trabalhava porque a a empresa tinha uma dinâmica bem corporativa, que visava bastante o lucro e o funcionário ficava sempre em último plano, então, era muito estressante.
Sempre gostei da área de comunicação e estava nesse meio. Gostava também das pessoas que trabalhavam comigo, mas o ambiente e o modo que a empresa funcionava não me agradavam. Eu já sonhava em morar fora fazia um tempo e, então, assim que terminei a faculdade, decidi largar esse emprego para fazer um intercâmbio.
A minha chefe da época foi bem legal comigo, tivemos uma conversa e ela me ajudou me mandando embora, assim, peguei o dinheiro da rescisão e investi no meu sonho de ir embora do Brasil. E foi assim que eu embarquei para os Estados Unidos para ser Au Pair.
Quando contei para os meus pais que estava planejando largar o meu emprego e ir embora do Brasil para trabalhar em algo que não tinha nada a ver com o que eu planejava para o meu futuro, a minha mãe não concordou com a idéia e se posicionou contra logo de início.
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Ela queria que eu entrasse no mercado de trabalho e começasse a dar aulas de inglês, mas eu não me sentia segura suficiente para dar aulas ainda. Eu queria morar em um país estrangeiro para aperfeiçoar o meu inglês e conhecer outras culturas antes de começar uma carreira. Mas a minha mãe não achava que valia a pena eu deixar o Brasil, perder a chance de começar uma carreira em uma profissão que gostava para tomar conta de crianças nos Estados Unidos.
Ela criticava porque para ela não fazia sentido largar um emprego “descente” para trocar fralda.
Apesar de que saber que minha mãe só queria o melhor para mim, eu não achava que estava perdendo uma chance e, sim, acreditava que morar fora me traria muito mais conhecimento e abriria portas, mesmo que não tivesse o emprego dos sonhos.
Os trabalhos de babá, faxineira, garçonete, pedreiro, ajudante de cozinha etc, são classificados como subempregos porque não exigem uma qualificação profissional, ou seja, você não precisa ter um diploma para ser uma diarista, por exemplo. Mas esses empregos não são menos importantes, só pelo fato de que
não exigem que você tenha um curso superior.
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Todas essas funções são importantes e contribuem para o funcionamento da sociedade. Seriam esses subempregos que pagariam as minhas contas enquanto estivesse realizando meu sonho de conhecer o mundo, então, resolvi não escutar a minha mãe e embarcar mesmo assim. Foi a melhor coisa que fiz na minha vida! Eu vivi, sim, momentos de estresse trabalhando como babá, mas estava muito mais feliz.
Até então eu não sabia o quanto gostava de crianças. Nunca fui muito fã dos pequenos e também nunca tive o sonho de ser mãe, mas me apeguei bastante às quatro crianças de que cuidei.
Além disso, foram momentos incríveis, viajei muito, conheci pessoas maravilhosas, vivi vários amores e me meti em muita confusão. Foram experiências que eu jamais viveria se tivesse ficado no Brasil investindo em uma carreira.
Depois de 3 anos vivendo essa experiência nos Estados Unidos, voltei para o Brasil com o meu inglês muito melhor e consegui um emprego como professora.
De professora fui promovida à Coordenadora Pedagógica, e depois à Coordenadora de Marketing e Eventos mas mesmo conquistando todos esses títulos, percebi que não era exatamente aquilo o que eu queria.
Quando conversava com alguém e a pessoa perguntava “Mari, o que você faz?” eu respondia “sou Coordenadora de Marketing e Eventos”. Nossa, soava até bonito e as pessoas falavam “Uau, que importante!”, mas ninguém sabia o que eu passava sendo “importante”. Eu perdi cabelo, tive ataques de pânico, problemas de estômago e intestino. Fui ao médico, fiz vários exames e não descobriram nada de errado até que um médico disse “você está tendo uma crise aguda de ansiedade causada pelo estresse”. Tive que tomar antidepressivo e fazer terapia.
Foi quando descobri que aquilo que eu vivia não era uma realização profissional. No fundo eu queria estar trabalhando como babá, me estressando menos e conhecendo o mundo afora. Então, novamente, e com mais de 30 anos, larguei tudo e fui embora para a Austrália ser Au Pair de novo.
Dessa vez, a minha mãe não falou nada, até ela percebeu que não adiantava trabalhar em uma empresa e ter um cargo alto, se aquilo me deixava doente e infeliz.
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Hoje, moro nos Estados Unidos, voltei por causa do meu marido, que, inclusive, conheci por causa das minhas andanças pelo mundo. Trabalho como babá, faxineira, dou consultoria de mídias sociais, edito vídeos, faço de tudo um pouco.
Claro que tenho meus sonhos profissionais e pretendo estudar para realizá-los, mas ficar doente não quero nunca mais. Sigo meu coração e trabalho no que precisar, porque o que importa não é um cargo e uma profissão que soam bonito aos ouvidos, mas sim fazer aquilo que te deixa mais feliz.
8 Comments
Querida Mari! Estava eu dando uma olhada no site aqui no trabalho (aqueles 5 minutinhos antes de começar oficialmente o dia) e teu texto apareceu. Parece que veio na hora certa, como se fosse planejado para eu ler ele.
Digo isso pois tem sido uma semana bem decisiva pra mim, onde depois de várias crises de desânimo, decidi que meu tempo aqui chegou ao fim. Foi inclusive ontem à noite, depois de conversar com minha família, que decidi que vou largar meu bom e estável emprego aqui, pra trabalhar no verão com qualquer coisa que envolva contato com gente, com turistas, a coisa que eu mais amo fazer. Já havia feito isso há uns anos atrás como estudante e fui feliz em cada segundo daquela experiência. Decidir isso me deu um medo tão, tãão grande! De largar o certo para o incerto, de me arrepender depois. Mas, ao mesmo tempo, me deu um entusiasmo que há tempos eu não sentia! Eu lembro dos tempos quando eu trabalhava num bar e isso me deixava mais feliz do que ficar no computador o dia inteiro.
Admiro demais a tua coragem de, aos 30, largar teu cargo importante pra voltar a um emprego mais básico, porque eu sou um pouco mais nova e meu emprego não é tão qualificado assim. Assim, ler teu relato nessa manhã me inspirou e me deu mais forças pra seguir no incerto, entendendo que só depende de mim fazer o melhor pra que isso se torne algo a mais no futuro. E, mesmo que não der certo, ao menos eu vou ter tentado, né? Tem tantas coisas a se ver e aproveitar por aí, no Brasil, no mundo, que ficar doente por trabalho é loucura.
Muita sorte na sua jornada!
Oi Isadora, tudo acontece por um motivo né? Olha ai, bem quando vc precisava vc se deparou com meu texto. Eu fico muito feliz em inspirar as pessoas e uma coisa que posso te dizer é… vá em frente, tente mesmo. Bjs e boa sorte.
Olá Mari, tudo bem?
A Aline Eclair minha vizinha de infância compartilhou seu texto, me identifiquei muito.
Morei na Irlanda durante 3 anos, hoje moro no Brazil assim como um a boa parte da popução estou insatisfeita.
Qua país você recomenda para mudança?
Obrigada e abtaços
Oi Rosi. Que legal, eu trabalhei com a Aline na primeira empresa que citei no texto :). Se vc quer imigrar de vez e não voltar mais pro Brasil eu recomendo países como a Austrália, o Canadá, a Nova Zelândia e outros que facilitam mais para imigrantes e tem mais chances de vc conseguir residência permanente. Já os Estados Unidos, por exemplo, é bem mais difícil conseguir a residência permanente, tem jeito tem mas é bem complicado, a não ser que vc se case, dai é garantido.
Oi Mari, estou passando pelo mesmo processo. Desde 2012 com o desejo de realizar na vida pessoal mundo a fora. Quero ir para os Estados Unidos, e tudo que vejo, é muita burocracia. Não quero perder a fé, mas sinto que estou longe de realizar este sonho, pois não gostaria de ficar ilegal e não vejo outras formas de entrar para estudar e trabalhar que não seja dando entrada somente como turista. Não sei mesmo o que fazer. Teria algum conselho, algum caminho para tornar isso realidade? Obrigada ????????
Oi Karen. Tem várias formas de vc tentar a vida fora. A primeira coisa é vc tem q pensar é: vc quer ir embora pra sempre? ou ter só uma experiência e talves retornar ao Brasil depois de um tempo? Se vc nunca morou fora talvez vc nao saiba a resposta para essas perguntas, pq so depois q vc tem a experiencia mesmo qvc vai sentir se aquilo é pra vc ou nao. Os Estados Unidos é um pais bem chatinho pra imigrar, pq os vistos sao dificeis, mas nao é impossivel. Me manda um direct pelo instagram que eu te passo mais infos a respeito. > @entrenamentedemari. Bjs
Q texto inspirador. Como eu gostaria de ter 1 oportunidade de morar e trabalhar fora para poder dar uma vida melhor para minhas filhas…no meu caso a intenção é mais financeira mesmo. Parabéns
Olá Priscila. Obrigada. Querer é poder, não se esqueça disso.