Há 7 anos conheci o amor da minha vida, trabalhávamos juntos para uma empresa de cruzeiros e nos apaixonamos, ele americano e eu brasileira. A vida de tripulante é cômoda, não se paga aluguel, comida e transporte para se locomover; não se perde tempo arrumando casa, cozinhando sua própria comida e enfrentando engarrafamentos, tudo é muito prático e excitante!
Viajamos o mundo inteiro, cada dia estávamos em um país diferente. Após 1 ano juntos decidimos casar, e com essa decisão o desejo de ter um porto fixo, um lar. Não imaginávamos quantas barreiras enfrentaríamos, não só a linguística quanto cultural e burocrática.
Muitos casais vivem um conto de fadas em alto mar, porém não sobrevivem a vida em terra, é necessário muito companheirismo, perseverança, paciência, amor e lealdade para enfrentar todos os obstáculos e enfim alcançar a estabilidade de uma vida “normal”.
Inicialmente optamos por morar no Brasil, muitos não compreenderam nossa decisão, a maioria dos brasileiros consideram morar nos Estados Unidos um sonho, uma utopia. Entretanto, sempre fui muito pé no chão, meu marido não tinha casa própria e nem ao menos um carro, sem contar o risco de não encontrar um bom emprego já que meu diploma não é válido aqui, seria necessário que eu estudasse por mais 2 anos em uma Universidade local para validá-lo (o que é não é barato).
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Na minha terra eu tinha um apartamento, um carro, diploma e a certeza que conseguiríamos um emprego.
Infelizmente a crise no Brasil atrapalhou nossos planos e meu marido decidiu trabalhar como comissário de bordo nos Estados Unidos, no início fui resistente, já planejávamos ter filhos e seria difícil iniciar uma família se ele estivesse sempre viajando, no entanto, aos poucos fomos amadurecendo a ideia e concluímos que seria o emprego ideal devido aos inúmeros benefícios.
Foi extremamente difícil lidar com a distância, especialmente após eu ficar grávida e ter nossa filha, porém fomos muito maduros e focamos em um futuro melhor, é preciso se sacrificar para alcançar metas que a princípio parecem intangíveis; em 2018 finalmente nos estruturamos e nos mudamos definitivamente para a terra do tio Sam.
E agora, onde morar?
A base onde meu marido trabalha é Washington D.C, o ideal seria morar próximo, pois quando ele estivesse “on call” poderia ficar em casa aguardando, desta forma estaria em casa com muito mais frequência. Entretanto, as coisas não são tão simples como parecem, o custo de vida em Washington D.C é altíssimo, não teríamos condições financeiras de arcar com aluguel e todas as outras despesas, ainda mais para quem tem filhos.
Resolvemos morar em Kansas City no Estado de Missouri, onde ele nasceu e sua família reside, por ser uma cidade do interior o aluguel é acessível, sem contar que é possível encontrar casas e apartamentos extremamente confortáveis (luxuosos, no meu ponto de vista brasileira de classe social baixa) por 950 dólares por mês.
Escolhemos alugar um apartamento, desta forma não precisamos nos preocupar com manutenção, a estrutura de habitações na América do Norte é muito diferente da América do Sul, há ar condicionado e aquecedor central, além de outros detalhes complexos de engenharia que requerem reparos constantes. Além do mais, desfrutamos da área do condomínio que possui piscina, quadra de esportes, ofurô, academia, salão para reuniões e eventos, espaço para piquenique e churrasco.
Lamentavelmente aqui não tem base para a empresa United Airlines, então eventualmente nos mudaremos quando meu marido tiver a possibilidade de ser transferido para uma cidade com custo de vida tão acessível quanto aqui.
O aeroporto é extremamente pequeno e não há voos internacionais diretos, com exceção de alguns para o Canadá e para Islândia (apenas durante o verão). Outro fator desfavorável é a falta de transporte público, não há ônibus na cidade, já ouvi dizer que há um que sai de manhã e só retorna à noite, ou seja, não há condução pública, todos têm automóveis por falta de opção.
Para quem não sabe, há 2 cidades chamadas Kansas City, uma situa-se no Estado de Kansas, e outra, no Estado de Missouri onde resido.
Quando trabalhava em navios, fui diversas vezes em algumas cidades da Florida e Texas, sendo assim posso comparar claramente as cidades. A população das cidades turísticas é composta por diversas nacionalidades, então é possível encontrar comidas e restaurantes do mundo inteiro, os cidadãos são mais sociáveis e festivos.
Kansas City é habitada majoritariamente por americanos, como toda cidade pequena, então o choque de cultura para um estrangeiro é maior. Ainda assim há restaurantes e lanchonetes internacionais, inclusive brasileiros, e é possível encontrar diversos itens como leite condensado, creme de leite e leite ninho no “Walmart”, todavia nada se compara a variedade das cidades grandes.
As pessoas são simpáticas, prestativas e educadas, mas individualistas, cada macaco no seu galho; estou aqui há 6 meses e não conheço nenhum vizinho, ainda não descobri se o problema está na minha logística de não sair muito com uma filha pequena, ou no inverno cruel que mantém as pessoas prisioneiras no seu canto ou, de fato, na personalidade de quem vive aqui, quando descobrir conto para vocês.
Antes de me mudar entrei na página do Facebook, brasileiros em Kansas City, o que foi imprescindível pois conheci pessoas incríveis e já nas primeiras semanas fiz amigos queridos e que me ajudaram muito. Ter pessoas com as mesmas raízes por perto é muito importante.
Aos poucos vou me adaptando e tenho certeza que também farei muitos amigos americanos, tudo é questão de tempo, achar que nossa cultura e povo são melhores é extrema ignorância, é preciso aprender a lidar com as diferenças e enxergar as qualidades.
A saudade do Brasil me acompanha todos os dias, mas sinto gratidão todas as vezes que não preciso enfrentar horas em um banco, desperdiçar horas do meu dia presa em engarrafamento, me apertar no início do ano para pagar IPVA, me estressar com burocracias sem lógica, ter medo de sair na rua falando ao celular, parar no sinal temendo ser assaltada e vários outros pontos absurdos que nos indignam no nosso país.
Aqui não é perfeito, nenhum lugar do mundo é, entretanto, aqui é o melhor lugar para a minha família atualmente e estou muito feliz morando em Kansas City, no Missouri.