Domingo no Bahrein
Domingo é dia de curtir preguiça, almoçar com a família e colocar as séries em dia não é mesmo? Pelo menos aqui no Bahrein, essa ilha de apenas 765 km² no meio do golfo árabe, a resposta é não. Nada de acordar tarde e curtir o longo preparo do famoso almoço de domingo ou colocar o papo em dia com a família. Aqui, o domingão é dia útil e o pior deles. É o primeiro dia útil da semana.
Você deve estar pensando: “Mas já tá cheio de gente aí que odeia o domingo, pelo marasmo, a programação televisiva ou, simplesmente, por saber que o fim de semana está acabando e amanhã já é segunda-feira”. Ora, pra você eu digo: podia ser pior. E se o domingo fosse a própria segunda-feira? A razão para isso, tal qual o domingo como dia de folga na cultura ocidental, está ligada à religião.
Os dias úteis da semana nos países islâmicos são de domingo a quinta-feira, enquanto o final de semana é reservado às sextas e sábados. Isso se dá porque o país segue os costumes do Islã, onde o dia sagrado é a sexta-feira, que deve ser reservada à adoração e à reza. Inclusive, o próprio nome dado ao dia da semana que corresponde à sexta-feira significa “dia de oração”, mas não são todos os países Islâmicos que seguem essa rotina, como é o caso da Indonésia e do Marrocos.
Com relação ao trabalho, as jornadas variam entre os setores público e privado. Os escritórios, empresas e serviços públicos folgam obrigatoriamente às sextas e aos sábados. Já no setor privado, o sábado é facultativo. Ou seja, as empresas escolhem se vão trabalhar ou não. Na maioria dos casos de que tenho conhecimento, as empresas funcionam normalmente no sábado. Assim como no Brasil, existem algumas diferenças de horário, ou até revezamento de folga. Já as escolas, todas seguem obrigatoriamente o descanso de dois dias e não oferecem atividades aos sábados, retornando às aulas normalmente no Domingo.
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A adaptação a essa mudança, no meu caso específico, foi relativamente dolorosa. E isso não se deu só pela mudança do final de semana, mas também pela quantidade de dias trabalhados, que passou de cinco no Brasil para seis aqui no Bahrein. Na empresa onde trabalho, a jornada é oito horas diárias, de sábado à quinta. Folga, só na sexta.
O fim de semana de apenas um dia fez com que eu tivesse que me programar ainda mais para cumprir minha agenda de compromissos como afazeres domésticos, lazer ou mesmo descanso. Com dois dias livres você pode optar por viajar com a família, sair na sexta à noite, acordar tarde no sábado e ainda contar com o domingo para recarregar as energias.

Confesso que foi, e está sendo, bem complicado conciliar tudo, mesmo depois de um bom tempo por aqui. A maioria dos festivais e eventos culturais acontecem no sábado, como feirinhas e atividades ao ar livre. Então, se não for feriado nacional, a gente passa vontade e confere pelo Instagram.
Objetivamente, não faz muita diferença trabalhar no sábado e domingo e folgar na sexta-feira ou qualquer outro dia da semana, o que conta é o descanso. Estar no trabalho enquanto todo mundo está descansando e se divertindo soa bem desanimador, e é, às vezes. Mas a questão é que aqui, você não está sozinho, o comércio funciona normalmente, as pessoas trabalham e a vida segue.
O que também auxilia bastante é o fato de que seus familiares, amigos e boa parte do mundo ocidental estão de folga. Então, com aquela programação tradicional de fim de semana, em termos de entretenimento, e acompanhando a maioria dos conhecidos também na rotina de fim de semana, mas o fardo muito mais tranquilo de ser carregado.
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Outro aspecto dessa mudança de hábito é ter que se acostumar a sair para trabalhar aos sábados e domingos, enquanto o resto do mundo está curtindo um fim de semana normal. Acompanho as festanças e eventos pelo mundo afora, as reuniões de família e amigos e até o futebol de domingo pelas redes sociais enquanto trabalho.
Porém, como tudo nessa vida, a gente se acostuma, dá um jeitinho e acaba criando novos hábitos. Minha experiência, de forma geral, tem sido bem interessante, com uma rotina de trabalho bem agitada. Já nem me apego mais a qual dia da semana é, ou não é.
Depois de alguns anos, no entanto, desenvolvi um método infalível: listar todas as atividades e compromissos para sexta, encher a agenda. Começar logo cedo com uma corridinha na rua, arrumar a casa, lavar a roupa e fazer um almoço especial. Tudo lindo no papel. Mas, na vida real, passar metade do dia na cama, pedir comida da rua e ficar o restante do dia no sofá assistindo TV. Afinal de contas, a gente merece um descanso.
1 Comment
Excelente estreia, Raíssa!
Você é uma mulher fascinante e, com certeza vai deixar excelentes dicas para as mulheres do mundo.
Parabêns!
Beijos.
Mamãe e Nanda.