Recomeçar é um tema constante na vida das mulheres que escrevem para esse blog. Assim como eu, muitas de minhas amigas e companheiras tiveram que empacotar e desempacotar tudo inúmeras vezes para dar início a novas vidas em países diferentes. Algumas aceitam os fins e os recomeços de forma mais tranquila, mas eu não; sempre sofro muito. Sou taurina, sabem, e como tal, não gosto de mudanças. Mas meu ascendente em Aquário e minha lua (maluca) em Peixes me deixam inquieta e há momentos que preciso partir, embora queira ficar… Contradições que fazem parte de mim.
Em julho de 2007, empacotei minhas coisas e parti do Brasil, despedindo-me da minha família no aeroporto em prantos. Não foi fácil, mas era algo que sentia que tinha que fazer.
Aprendi muita coisa nos aproximadamente 1000 dias que passei na Ilha Esmeralda (nome poético da Irlanda, dado por William Drennan no seu poema “When Erin first rose“, devido à cor verde intensa do seu campo) e amei cada momento, até aqueles que foram bastante duros e só queria pegar o avião para fugir de volta ao colo de minha mãe. Dublin me recebeu de braços abertos e cada segundo valeu a pena. Lá, aprendi:
01- Nunca subestimar um dia de sol: um dia de sol pode ser algo raro e deve ser aproveitado, nem que seja jogado na grama do parque. É dia útil e você tem que trabalhar? Almoce no parque, se entregue ao sol.
02- Saia na chuva; você não é feito de açúcar: a frescura de “não vou sair na chuva para não me molhar” deixa de existir em solo irlandês já que em uma coisa que se pode contar é a garoa quase constante de Dublin (segundo o Met Éireann, chove, na costa leste, aproximadamente 150 dias por ano).
03- Depois da tormenta, sempre vem o arco-íris: mesmo que o dia pareça nebuloso e sombrio, o sol sempre volta a brilhar. E, quem sabe, você tem a sorte de ver um arco-íris ou até mesmo um duplo?
04- Dias ensolarados e gelados ou dias nublados e menos frios?: às vezes, as escolhas que a vida coloca na sua frente não são fáceis… Outras vezes, não é uma questão de escolha, mas de aceitar aquilo que vem.
05- A história de outro país é minha; não cabe a mim dizer se está correta ou não: para mim, o IRA era um grupo terrorista; cresci com essas notícias no Jornal Nacional. Quando comentei isso com meu chefe na época, ele ficou louco e me deu uma lição da história irlandesa. E entendi o outro lado, daqueles a quem chamava de terrorista. Ambos os lados tinham seus motivos. O que os noticiários contam são simplesmente pontos de vista.
Fui então para as Filipinas em busca de desafios maiores, coisas que o Fazendão não podia mais me proporcionar. Com muita esperança, parti de Dublin para começar uma nova vida na Ásia.
Como disse, mudar é, para mim, uma loucura. Além dos aspectos psicológicos, gosto de comprar e sou bastante apegada àquilo que tenho. Sou, por exemplo, colecionadora de imãs de geladeira dos lugares onde estive. Um ou dois imãs não pesam, mas quando se visitou a quantidade de países que visitei e quando se compra dois imãs por país, a coleção fica pesada.
De uma forma ou outra, consegui colocar tudo que tinha em malas e caixas que dividi entre Manila e Brasil. Minha mãe não gostou nada em receber as duas malas e quatro caixas de roupas e cobertores de inverno que cabiam a ela, mas sabia que a maioria das roupas que usava na Irlanda não poderia ser usada nas Filipinas.
Cheguei à cidade caos em pleno outubro, com um calor que há anos não sentia. Inchei como um baiacu e não parava de suar; parecia uma fonte… Então, nem mesmo as roupas de verão irlandesas serviam para aquele país que parecia desconhecer o frio! Meus mais de 1000 dias de verão contínuo começavam…
Todos os (pré) conceitos que tinha antes de ir a Manila caíram por terra no momento que o carro saiu do aeroporto a caminho do hotel. Naquele momento, sabia que não teria a vida saudável de correr pela praia todas as manhãs como imaginava porque, ainda que houvesse praia, ela seria um aterro sanitário de tão suja e, aos poucos, descobri que a população já não falava o espanhol…
Nos quatro anos que tenho lá vivido, aprendi a viver pacificamente com Manila, mas isso não quer dizer que não tenha meus momentos de loucura ou mesmo que passei a amar a cidade; a respeito. E, embora minha convivência com Manila tenha sido dura, sei que minha vida tomou esse rumo por causa dos meus sonhos e desejos porque, lá, na Ilha de Lost, onde aprendi tanta coisa, minha vida mudou outra vez…
01. Embora estude o lugar onde vai morar, não se prenda aos preconceitos e se abra para o novo: li sobre as Filipinas antes de ir e, por saber que eram colônia espanhola, achei que fosse desenvolver o espanhol. Só que não sabia que ele havia sido substituído pelo inglês como um dos idiomas oficiais…
02. A vida funciona através de caminhos estranhos; tenha coragem de percorrê-los: na vida, havia pensado em morar na Ásia, muito menos em um país que me era desconhecido. Ainda assim, quando a vida me apresentou o desafio, fui e embora não goste de Manila, sei que tudo aconteceu como forma de realizar um sonho… E, aos poucos, as peças começaram a se encaixar. Sabia que embora não gostasse de Manila, era o caminho que tinha que percorrer para atingir um objetivo ainda maior.
03. Mas o tempo do Universo não é o mesmo tempo que o seu: há momentos que você se perguntará se as coisas não podem caminhar com mais rapidez. A verdade é que tudo que você quer será, um dia, seu, mas o tempo que isso ocorrerá depende do quão duro você trabalhar para montar o quebra-cabeça que a vida deu. E cada coisa acontece no seu tempo ideal.
04. O lugar onde está pode não ser o seu “lugar feliz”, mas sempre haverá momentos felizes onde quer que se esteja: só reclamar tampouco adianta. Temos que buscar as coisas que nos fazem felizes ainda que não estejamos no nosso lugar feliz… Eu, que amo viajar, sempre que me sinto muito sufocada pela cidade, fujo para algum outro lugar. Ou saio com meus amigos… Para reclamar e rir!
05. Diferentes pessoas, outras culturas, diferentes verdades: a cultura asiática é bastante diferente da cultura ocidental. A primeira vez que caminhava pela rua e ouvi um arroto que balançava o mundo, quase morri de nojo. Mas, para os filipinos e muitos asiáticos, isso é normal. Os filipinos comem com colher e boca aberta. Nós, ocidentais, somos barulhentos e extravagantes. Cada qual com a sua verdade.
Nessas mudanças todas, e com toda a dor que elas me causam, as alegrias foram maiores e nunca me arrependi em escolher a estrada, em escolher o incerto sobre a certeza que era minha vida antes de sair do Brasil. Como dizia Bilbo, ao Frodo, “é um negócio perigoso sair de sua porta. Você dá um passo na estrada e se não tomar cuidado com seus pés, não há como saber aonde será levado”… Enquanto espero o rumo que meus pés irão tomar em 2015, me pergunto… E você? Que recomeços deseja para 2015?
18 Comments
Se animar de vim para Aus, já sabe 🙂
Haha! Aline, a Austrália estava na minha lista de “possíveis lugares para fugir da Ilha de Lost”, junto com a Nova Zelândia (que é sonho – sou geek e quero conhecer o lugar on o Senhor dos Anéis foi filmado), Canadá e, claro, minha forever beloved Espanha! Morro de vontade de conhecer a terra dos cangurus e, todas as vezes que batia a loucura, pensava em comprar a passagem e ir embora daqui! Hehe! Mas aprendi muito nessas ilhas perdidas no meio do Pacífico… It’s been a fun ride, with all its ups and downs! =)
Então, mas vem dar um break ai da Ilha de lost e curtir a organizada Perth :-). Nova Zelândia é um sonho, mas queremos alugar uma van e ficar um mês passeando por lá. Aqui na AUS dizem que a Tasmânia é uma mini NZ.
Dá um break e organiza as ideias…. convite feito 🙂
=) Obrigada, Aline!!! Estou super tentada em aceitar o convite! Hehe! Who knows? Talvez antes que eu vá ao velho continente! Hehe! (e, além das paisagens, as pessoas seriam um alívio para meus olhos cansados! Hahahah)
Eu decreto que Tati vai morar na Espanha em 2015…. e que vem conhecer o Chile logo, logo 😀
Mudar é dolorido, divertido, cansativo, admirável…. Adorei as tuas reflexões e observações, como sempre 😀
Assino embaixo!!! Mil vezes, se possível! Hahahah! Joy, tenho MUITA vontade de conhecer o Chile, em especial Valparaiso! Acho que deveria ter começado essa vida de Trotamundos quando fiz 20 e não com quase 30 anos! Haha! Mas era muito caro viajar, há alguns anos, do Brasil… Lembra dos financiamentos? Hahaha! Mas Chile está na listinha Trotamundos! =) Beijos!
Top, Tati! De acordo com a maioria das coisas, pequenas variações somente porque eu gosto de contrariar… Hahaha sacanagem! Te amo e tomara que a gente consiga se ver logo, pq to com saudades e a conexão do seu skype é péssima!
Hahahah! Ah, gatona, mas é meu ponto de vista!!! Obrigada por ler o texto!!! Te amo muito!!! E temos que nos ver, no midway: isso é, Espanha querida! Haha! Um beijo!
Nossa, quantas mudanças e para países tão diferentes em termos de cultura…admiro sua coragem! Achei muito importante o que vc falou sobre não se prender a preconceitos, e também aceitar certas coisas que são da cultura local mesmo. Só assim a gente se adapta e se reinventa! Ótimo texto, parabéns!
Oi Luciana! Pois é… Muita gente chama isso de coragem, mas eu não sei não… Nunca pensei nisso por esse ângulo; para mim, foi meio seguir o meu caminho, me entende? =)
Mas obrigada pelo elogio! E, embora entenda que muita coisa faz parte da cultura, eu sou reclamona por natureza e muitas vezes fico xingando! Haha! Um beijo!
Tati, amei seu blog!!! Estou aqui tentando trilhar meu caminho para 2015 também e umas das possibilidades do futuro seria mesmo as Filipinas. Esse ano vou começar um curso na área de Business. Você acha que essa área é boa para trabalhar aí em Manila? Precisam de gente que fale inglês e português?
Agradeço desde já!
Oi Regina, feliz 2015!
Entâo, os campos que mais contratam para inglês e português são as áreas de contabilidade (há uma necessidade enorme de mão de obra nesse campo) e traduções. Há bastante campo de trabalho, já que muitas empresas de BPO estão vindo para cá! Leia o post que escrevi sobre empregos (https://brasileiraspelomundo.com/filipinas-emprego-e-oportunidades-53102173), abra a cabeça e venha, se é isso que você realmente quiser!
Um beijo e boa sorte!
Oi Tati, adoro ler seus posts. São contos. Você sabe colocar até a parte dolorosa de uma maneira irônica/ engraçada 🙂
Entendo seu drama. Tucson está nos EUA, mas é um lugar no meio do nada e, às vezes, também me incomodo com certos hábitos americanos, como comer (tudo) com as mãos e até meter a mão na travessa, sair de pijama como se fosse a roupa mais fashion. Ah! Eles arrotam também…rs…
Eu, como você, também acredito que devemos nos apegar às coisas positivas sempre e aqui temos sol quase todos os dias ano e, com isso, belíssimos pores do sol.
Espero que em 2015 você encontre o seu ‘lugar (sempre) feliz’.
Mwah!
Oi Cleo! Obrigada pelos elogios! =) Acho que, no final, se não pudermos rir de nós mesmos, a vida se torna muito amarga! Hehe!
Estou chegando à conclusão que só nós, brasileiros, e mais uma meia dúzia de povos não saem de pijama na rua! Em Dublin, era mega-comum e muitas vezes quando vou ao 7/11 embaixo da minha casa aqui, vejo a galera com calça que só pode ser de pijama… Já disse para meus amigos: o dia que sair de casa de pijama, por favor, me internem que eu não serei mais eu! Hehe!
Adoro os pores-de-sol! Eles sempre me deixam felizes!!!
E que você tenha um 2015 incrível também!
Beijos
Talvez eu nunca conheça as Filipinas, não tenho nem cacife pra isso, mas admiro muito, as vezes não é só querer é ter coragem também. Congratulations!!!!!
Acho que querer é o mais importante… A coragem… Bom, a gente coloca na mala! A verdade é que nunca vi essa parte da minha vida como coragem, mas como um trajeto natural da minha vida. Claro que dar o primeiro passo não foi fácil: foi preciso de certa falta de consciência e muita vontade! Então, o que se seguiu foi… Natural! Um beijo!
Fiquei intrigada. Gostaria de saber os dez motivos para morar nas Filipinas!
Oi Dani!
Há meses estou pensando nisso porque queria escrever algo, mas nunca cheguei a uma conclusão porque acho que isso é muito subjetivo. E, para mim, cuja vontade de sair de Manila existe desde que cheguei, é ainda mais subjetivo… Acho que a melhor coisa foi lidar com meus próprios preconceitos e entender que cada um é cada um, mas todos nós temos um ponto de vista diferente.
Minha amiga compartilhou esse post e achei bem legal: http://mevoyalmundo.com/ventajas-desvantajas-manila-filipinas/
Um beijo!