Fico bastante assustada com algumas coisas que estão acontecendo no mundo. Realmente, não costumo acessar muitos às notícias de cunho negativo porque acho que essa energia influencia muito o meu dia e procuro me focar em coisas positivas, mas tampouco tenho como ignorar a misoginia e a homofobia do meu newsfeed.
A verdade é que não pensava que em pleno século XXI as pessoas ainda continuassem tão preconceituosas e sexistas, que defendessem atitudes agressivas contra outras só porque estas sejam diferentes. Pessoalmente, esse tipo de pensamento me lembra bastante ideais arianos de que existe uma raça superior e isso me assusta muito.
Fiz essa introdução para dar início ao meu texto desse mês. Embora seja mês da mulher (e acho que todas merecem todo o respeito do mundo – não pelo sexo, mas sim porque somos seres humanos), decidi escrever sobre o respeito a gêneros e opções sexuais, sobre o viver e deixar viver.
Embora as Filipinas sejam um país católico no qual as pessoas querem saber de tudo da sua vida, percebo que existe certo respeito quando se trata do let it be, ou seja, do “deixar ser”. O respeito à liberdade da auto-expressão é enorme, algo que nunca tinha conhecido antes: embora na Europa exista respeito à individualidade, em nenhum lugar do mundo havia visto tantos transgêneros (ou transexuais) e travestis integrados na sociedade quanto vi aqui no Sudeste Asiático.
Aqui, não importa a sexualidade ou a forma como alguém se veste: se essa pessoa atender o perfil desejado da empresa em termos de comportamento e qualificação profissional, ela terá grandes possibilidades de ser contratado. Então não é anormal ver mulheres trans no banheiro retocando a maquiagem ou homens trans vestidos com camisa e terno, algo que seria inconcebível no ambiente de trabalho machista brasileiro ou até em muitos lugares do mundo ocidental que são considerados mais liberais.
Nos Estados Unidos, por exemplo, segundo um artigo de Crosby Burns e Jeff Krehely de maio de 2011 para o Center for American Progress, algo entre 15 a 43% dos homossexuais enfrentaram discriminação em seus ambientes de trabalho e 90% dos trabalhadores transgêneros enfrentaram alguma forma de assédio ou maltrato ainda que a executiva mais bem paga nos Estados Unidos, Martine Rothblatt, tenha nascido um homem.
Segundo a Folha de São Paulo (em uma reportagem incrível, diga-se de passagem), no Brasil, embora não exista estatística precisa, se comenta que 90% dos trangêneros se prostituem por não serem aceitos no mercado de trabalho tradicional. Pessoalmente, acredito que os números sejam bastante altos: é só lembrar dos comentários em tom jocosos e brincadeiras sobre homossexuais que são feitos no dia a dia brasileiro; embora soem como piadas, para mim, isso demonstra falta de respeito.
Seria imprudente da minha parte dizer que aqui, nas Filipinas, não exista preconceito e que não há transexuais que se prostituam; ambos existem. A prostituição na região do Sudeste Asiático é um problema endêmico que afeta não somente transgêneros, mas homens, mulheres e crianças. E o preconceito contra os trans também existe, mas em menor escala. Segundo o estudo Injustice at Every Turn (Injustiça a Cada Esquina, em tradução livre), 56% dos entrevistados encararam rejeição da própria família e estes foram os que mais enfrentaram desafios sociais e de auto-aceitação. Isso quer dizer que 44% dos entrevistados foram aceitos pelas suas famílias como eram.
E aqui, assim como na Tailândia, existem shows de transgêneros de diversos níveis e qualidade e eu os adoro. Mas é igual verdade que no Sudeste Asiático, os trans também são contratados como vendedores de lojas, maquiadores profissionais (em lojas como a MAC), contadores, funcionários do departamento de RH e em qualquer outra profissão, e acho isso incrível.
Não posso ser hipócrita e falar que a primeira vez que vi um homem em skinny jeans e batom vermelho caminhando na rua em plena tarde de sábado foi algo que passou batido; a verdade é que fiquei bastante chocada e, inclusive, comentei com a minha mãe sobre isso. Ela simplesmente chacoalhou os ombros e me disse “quem disse que batom vermelho e skinny jeans são exclusivos para mulheres?”.
Acredito que a forma como a maior parte de nós se veste e comporta é determinado pela sociedade onde estamos inseridos, e qualquer coisa que fuja à regra estabelecida é considerado anormal ou estranho. Até aí, consigo entender. O que não consigo compreender é a necessidade de se impor o “normal” de alguém como se fosse um padrão que devesse ser seguido, já que o padrão de “normalidade” muda de indivíduo para indivíduo.
Critico muito as Filipinas de forma geral, mas esse aspecto do live and let live, do let it be, é algo que admiro e muito. Porque nem tudo pode agradar a todos, mas deve sempre haver respeito. Todos temos sim o direito de não gostar de algo, mas temos o dever ainda maior de respeitar a sua existência. A luta nunca foi por direitos privilegiados para ninguém, mas sim por direitos civis equivalentes para todos.
OBS: Os trans (transgêneros ou transexuais) são pessoas que nasceram como mulher e se sentem como homem, ou o revés. Só para esclarecer!
20 Comments
com certeza no Brasil existe muito preconceito, muito, mas muito mesmo…
sou cristão e vejo isso de dentro do olho do furacão!!!… e o pior, pelo que vejo a tendencia é o preconceito aumentar…
#MaisAmorPorFavor
Oi Yuri! Obrigada pelo seu comentário! Sou à favor do Amor e do Respeito palavras que escrevo com letras maiúscula porque assim o merecem! <3 #MaisAmorPorFavor! Um beijo enorme
Tati, amei o seu texto! Extremamente pertinente, oportuno e super bem escrito como sempre. Beijo, gata!
Gatan, Fer!!! Obrigada pelo seu comentário e elogio! Super beijo!
Ótima matéria Tati. Trabalho numa empresa que não utiliza o preconceito como ferramenta e emprega pessoas independentemente de sua orientação sexual. Mas sei que temos um longo caminho a percorrer, e torço para cada dia darmos um passo a frente do preconceito praticando mais o amor. bjs..
Oi Sandra! Obrigada pelo comentário e pelo carinho!
Acho que ainda há muita falta de respeito não só pelas opções sexuais (porque, vamos combinar que o que eu faço na minha vida pessoal é problema meu, correto? Hehe!), mas falta muito respeito pela identidade de gêneros. Acho até normal você considerar errado alguém ter nascido de um sexo e sentir que pertence a outro (como é o caso dos trans), afinal, julgamos as coisas baseados em como fomos criados e ambiente, enfim, em nosso conhecimento. Errado, para mim, é qualquer forma de violência que inclui também a imposição de como um deve viver a sua vida… Live and let live, como já cantaria o queridíssimo Paul McCartney!
Um beijo enorme e obrigada outra vez!
Oi Tati adorei o texto! Infelizmente o preconceito é grande não somente contra os trans, gays, lésbicas, mas em geral, com todas as pessoas que fogem às regras e convenções sociais. As pessoas esquecem que a cultura muda e que tudo é fruto de um momento histórico, social e cultural.
Temos muito que aprender no quesito respeito, tolerância e solidariedade, elementos fundamentais rumo à uma humanidade mais evoluída e civilizada. Incluo os animais e nosso próprio planeta. Parabéns! Precisamos de textos reflexivos para trazer mais pontos de vistas.
É com muita educação (mais do que só informações) que combateremos a ignorância.
Oi Cris! Obrigada pelo elogio e pela leitura! Concordo com você… Acho que o preconceito é muito grande contra tudo, mas não só contra aquilo que foge às convenções sociais, mas também ao que é diferente… Acho que independente de qualquer coisa, temos que ter, acima de qualquer coisa, respeito.
Não me julgo isenta de preconceitos; todas as vezes que o fiz, me deparei com algo e percebia o quão preconceituosa ainda era. Mas acho que perceber e aceitar essa minha falha são os pequenos passos que dou para me transformar em uma pessoa mais humana e, consequentemente, mais tranquila.
Acho que a educação é fundamental nesse processo todo! Como coloquei no texto, minha mãe (que é mara!) mostra-se, muitas vezes, mais cabeça-aberta que eu! E agradeço todos os dias por ter sido criada por uma pessoa tão linda que me deu a chance de ser um ser humano que consegue entender que o mundo é um pouco maior que uma caixinha de fósforos… Enquanto nem todos tem essa cabeça, acho que cabe a nós continuar segurando a bandeira dos direitos igualitários, não é? Um beijo!
Tati querida, amei seu texto. Muito bem colocado e esclarecedor. Parabéns.. Vou segui-la… Beijokas
Oi Cris! Obrigada pelo elogio e pelo comentário! Acho mesmo que o importante é o respeito! No Brasileiras pelo Mundo, escrevo uma vez ao mês, mas você sempre pode visitar o Trotamundos! Um beijo!
A leitura do desconhecido é um fascínio, mas a convivência deve ser mais dura.
Oi Danielle! Isso é bem verdade! Mas também tem muito a ver com aceitação, sabe? O mais duro foi eu deparar com a verdade de que, no fundo, eu também era preconceituosa… Eu, super liberalzinha, que acreditava ter uma cabeça super aberta… E me descobri preconceituosa! Mas, como dizem, para que possamos mudar, a primeira coisa a se fazer é aceitar que há algo em nós que temos que mudar, correto? Demorou quatro anos, mas estou no processo! Um beijo!
Este material é legal, pois digo que recentemente em uma novela teve um beijo de duas senhorinhas interpretada por duas grande atrizes que esta gerando uma comoção total de preconceitos,desrespeitos e etc.
Oi Danielle,
Eu acompanhei a reação do Brasil com o beijo da Fernanda Montenegro e da Nathalia Timberg e acho que foi o máximo! <3 O que me assustou foi a reação das pessoas que criticaram o beijo quando, no mesmo capítulo, a Glória Pires dormiu com três e matou um para incriminar outra pessoa e uma mãe bateu na filha até ela perder o bebê que carregava... Achei bem legal a frase: e se chamássemos o beijo homossexual só de beijo? =)
#MaisAmorPorFavor!
Um beijo
Gostei!!!
Ee acho que esse é o primeiro passo para qualquer tipo de mudança.
=) E continuamos nosso caminho… Sempre! Obrigada!
Interessante isso. O país é tão católico e aceitar a diversidade ao mesmo tempo. Faz a gente pensar e ter esperança de que nem tudo está perdido nesse mundo. Obrigada por compartilhar sua experiência!
Oi Lu! Então, há preconceito sim, só que em menor escala… É mais o conceito de que ninguém liga muito para que o outro faz… Claro que vejo tudo isso através dos olhos de uma expatriada, mas é minha perspectiva sim, de que há maior aceitação dos trans em território asiático! Um beijo!
Oi,sou Brasileiro e namorei uma moça Filipina e ela não gostava de ser beijada na boca,segunda ela as Filipinas são tímidas e não tem por costume beijar na boca,gostaria de saber se isso é uma coisa pessoal ou se realmente as mulheres Filipinas são reservadas quando se trata desse comportamento