Sempre que viajo para conhecer um novo lugar pesquiso, converso com pessoas que já estiveram no local e peço dicas. No entanto, acredito que por mais que registremos todas as informações que buscamos, somente quando chegamos ao tal destino é que entendemos minimamente sua dinâmica ou a vida como ela é por lá.
Quando decidi ir para a Cidade do Cabo, não conhecia ninguém que já tivesse ido para lá, por isso, tive o desafio ainda maior de descobrir sozinha se gostaria de fazer e conhecer o que havia pesquisado. Claro que senti frio na barriga em diversas situações, dei a cara à tapa mesmo, mas tenho certeza de que todas as situações foram excelentes oportunidades para que eu aprendesse a me virar. Para mim, a graça da viagem era exatamente essa.
A primeira dificuldade que encontrei quando cheguei em Johannesburgo foi no aeroporto onde fiz a conexão para a Cidade do Cabo: o sotaque carregadíssimo do inglês das pessoas. Sério, um inglês com o qual não estamos acostumados. Depois da recepção do funcionário da imigração eu só pensava: huummm é bom mesmo eu me preparar, porque os sul-africanos têm 11 línguas oficiais e o inglês é só uma delas. Leia mais aqui sobre isso.
Durante pesquisas anteriores que eu havia feito sobre mobilidade, sempre me deparava com informações que reforçavam a ideia de que não seria bom uma mulher ficar “batendo perna” sozinha, pois infelizmente os índices de estupro na África do Sul são alarmantes. Com tais constatações, obviamente eu não ficaria dando sorte para o azar. Claro que eu andava e até fazia alguns passeios sozinha, mas sempre com cautela e usando táxis com frequência.
Aliás, táxi por lá é barato mas sempre há os taxistas honestos e os espertos. Passei por boas e más situações. Assim como no Brasil, muitos taxistas tentaram me enrolar, davam voltas e mais voltas, diziam que conheciam o destino enquanto o taxímetro ia rodando para que, ao final, eu pagasse mais.
Outra situação pela qual passei por várias vezes, posso dizer que foram situações até bem engraçadas, foi por conta da mão inglesa. Levei alguns dias para me acostumar com o volante do lado esquerdo, entrar no carro do lado contrário e me lembrar de que o sentido do trânsito também era inverso ao que eu estava acostumada. Não preciso dizer que quase fui atropelada váriassssss vezes, mas depois ria sozinha de tudo isso com o coração quase saindo pela boca.
Outro aspecto que me chamou a atenção foi o uniforme escolar usado pelas crianças. Perto da minha casa havia uma escola e diariamente eu via crianças indo para a aula. Elas usavam um uniforme lindo, impecável.
Um dia, parei um grupo de meninas a caminho da escola e perguntei se poderia fotografá-las. Como qualquer grupo de adolescentes, elas adoraram a ideia, fizeram poses e, ao final, quiseram checar se meu clique havia sido certeiro, umas fofas!
Já que estou falando de alguns hábitos locais, não posso deixar de comentar sobre algo muito importante: a comida. Particularmente adorei a culinária local, mas devo alertá-los de que a comida em geral é bem apimentada, muito mais do que estamos acostumados.
Como estava estudando, no meu dia a dia almoçava em um restaurante self-service praticamente ao lado da minha escola que era sensacional. O lugar era grande, com diversas opções, mas imaginem que o arroz, o feijão, os legumes e a carne eram bem apimentados. Foi uma delícia conhecer novos temperos e sabores, mas toda essa orgia gastronômica ressuscitou uma gastrite que estava bem adormecida, por isso, tive que tomar alguns cuidados.
A Cidade do Cabo é uma cidade litorânea e quem gosta de peixes e frutos do mar passará muito bem por lá. O prato que experimentei não era apimentado e foi servido com arroz. Confesso que até estranhei a falta de pimenta, mas também estava muito gostoso.
Foi interessante observar alguns locais comendo com a mão. Até então, só tinha observado uma cena semelhante em um History Channel da vida. Costumo achar situações como essas especiais, porque é uma oportunidade de vivenciar algo completamente diferente. Encaro como uma forma de aprendizado.
Tive a oportunidade de visitar um restaurante turístico chamado Mama África. Estava ansiosa para conhecer o ambiente e o cardápio diferenciado. Como gosto de experimentar, pedi logo as carnes exóticas: Springbok (um tipo de gazela), Kudu (um tipo de antílope), avestruz, javali e carne de veado que vieram acompanhadas de um purê e um excelente vinho.
Aliás, os vinhos sul-africanos são maravilhosos, (leia mais aqui sobre os vinhos). Muitos me perguntaram se realmente tive coragem de comer carnes deste tipo, se não havia passado mal etc e tal. Digo a todos que adorei a experiência, só não gostei de uma das carnes. Se um dia voltar para a Cidade do Cabo com certeza visitarei este restaurante novamente.
Também tive o prazer de conhecer o Mzansi Restaurant, que fica em uma township (favela) em Langa, no subúrbio da cidade. O restaurante fica em uma parte da casa da proprietária que cozinha, recepciona os convidados, conta a história da família e do restaurante que é emocionante. Além da comida típica e do atendimento incrível, há uma banda tocando músicas locais que são contagiantes. Quando todos terminam de jantar, a proprietária com sua banda (sendo o marido um dos componentes) convida a todos para dançar, tocar os instrumentos e tudo vira uma grande festa que eu simplesmente amei!
Leia sobre pontos turísticos na Cidade do Cabo!
10 Comments
Demais Lili, adoro seus relatos de viagem!!! Me sinto viajando com você!!! =D
Camile querida,
Fiquei feliz em saber que vc tem gostado dos meus textos.
Muito obrigada pelo carinho!
Bjs,
Lili
Olá. Adorei a postagem.
Não faz muito calor para os alunos vestirem esse tipo de roupa não kkk?
Beijos <3
Olá Kareem,
Tudo bem?
Respondendo sua pergunta, uma das coisas mais interessantes que vi durante minha viagem, foi o uniforme das crianças, achei lindo. Quando estive na África do Sul, era primavera, então o uniforme deles não parecia ser “demais”. Talvez eles até sintam calor, mas como também venta bastante e quando esfria é pra valer, imagino que estejam acostumados 😛
Obrigada pela sua mensagem!
Bjs,
Liliane
Muito legal o seu texto, Lili. Podia escrever mais e mais que não nos cansaria nunca. Parabéns! Quando você cansar de “pesquisar” pode pensar na carreira de escritora. Viajar o mundo todo e depois registrar tudo em livro. Que tal?
Ivaldo,
Fico feliz em saber que tenha gostado do meu texto. Não sei se você sabe, mas para mim, seria um sonho ficar viajando, viajando e escrevendo sobre as descobertas e experiências de cada lugar que conhecesse, adoraria! Enquanto isso não acontece, ficarei registrando minhas experiências por aqui. Aliás, também estou adorando 🙂
Muito obrigada!
Bjs,
Lili
Olá! Ameiiii seu diário de viagem. Você pode só falar um pouco mais sobre a violência com as mulheres. Quero ir sozinha em janeiro e isso é a única coisa que está um pouco turvo para mim e para as minhas amigas que estão desesperadas c a possibilidade de eu ir sozinha pra lá sabendo da violência. Obrigada!!!
Olá Anne Caroline!
Obrigada pela sua mensagem.
Então, respondendo sua pergunta, não sei te falar detalhadamente sobre questões relacionadas à violência em Cape Town, cidade que estive.
Desde o momento que comecei a me preparar para realizar a viagem, procurava me informar já que até então, não conhecia ninguém que tivesse ido para lá.
Falando da minha percepção, pelo fato de saber que existia certa violência (assim como as grandes capitais brasileiras) e ser estrangeira, sempre tomava alguns cuidados, mas sinceramente, nada de neuras, tomava os mesmos cuidados que normalmente tomo em minha cidade, São Paulo.
Espero ter te ajudado. Sinta-se a vontade para escrever quando quiser.
Bjs,
Liliane
Olá! Gostei muito das suas dicas. Me fez ter uma ideia de como são as coisas quando sairmos do Brasil. Gostei do blog e fiquei seu fã. Você escreve muito bem.
Eu tenho vontade de conhecer a Africa do Sul, agora mais ainda com suas dicas.
Um abraço e obrigado.
Olá Cláudio!
Fico muito feliz em saber que eu possa ter te inspirado a conhecer a África do Sul.
Fiquei muito contente em receber sua mensagem.
Ngiyabonga! (Muito obrigada em zulu!)
Um grande abraço,
Liliane