Por mais que cursar o ensino superior no exterior seja, incontestavelmente, o sonho de muitos, existem vários estereótipos e ilusões relacionados a tal atividade. Nada de se espantar, afinal, a mídia põe em alta assuntos como imigração e, atualmente, sobre a crise dos refugiados sírios na Europa e o Brasil com seus problemas sociais e extrema direita.
Nesses contextos, alguns « fenômenos » acontecem, entre eles os seguintes: ou podemos perceber, no meio de todos, quem realmente é racista e xenófobo ou podemos notar também uma espécie de falsa solidariedade e compaixão.
Por que não estudar Relações Internacionais, diante de um contexto político tão cheio de crises televisionadas como o atual? Por que não ajudar os necessitados? Por que não aprender vários idiomas e « viajar pelo mundo »?
Responder essas perguntas, na minha opinião, não é insensível pois também já tive que passar pelo dilema de escolher minha carreira e passei por essa etapa com muita angústia e indecisão. Minhas experiências e eventuais conclusões sobre o estilo de vida que vivo podem, portanto, ajudar jovens que, evidentemente, também têm o talento e dedicação necessários para triunfar em carreiras tão disputadas como diplomacia, negócios internacionais e assuntos que estejam associados ao curso de RI em geral.
Posso dizer que o curso é bastante intelectual. No primeiro ano, tive disciplinas de introdução à Política (mencionando nomes como Max Weber, Karl Marx e Francis Fukuyama), Política Britânica (debatendo sobre os sistemas políticos, conservadores e trabalhadores, por exemplo), Teorias de Relações Internacionais (focando-se em realismo e liberalismo), Relações Internacionais desde 1945 (discutindo os efeitos da Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria), Filosofia Política (discutindo a natureza humana, principalmente levando as opiniões de Thomas Hobbes e John Locke em consideração), Mídia (estudando alienação e marketing) e, obviamente, Inglês Acadêmico que, embora não me seja difícil, ainda pode surpreender já que a Inglaterra têm suas próprias regras para referenciar textos (em Keele, usava-se o sistema de Harvard) e existe preocupação em se escrever algo imparcial e confiável.
Embora esteja satisfeita com o curso, ainda assim percebo certa diferença entre o sistema educacional de minha faculdade britânica e a brasileira de meus amigos. Ouvi dizer que o Brasil constantemente dá provas para os alunos e que estes são praticamente obrigados a « decorar » conteúdo de inúmeras páginas.
Acredito que isso não seja benéfico para o estudante, futuro intelectual, empreendedor ou empregado. O foco não deve ser produzir muito, senão produzir com qualidade. Em Keele, minhas redações tinham grande peso nas médias finais e a prova tradicional em si era, normalmente, feita por duas ou três partes: questões de ABCD, questões discursivas e redação. Geralmente, as redações valiam levemente mais do que as duas outras partes da prova, evidenciando a importância em saber se expressar e absorver conteúdos de maneira eficaz. Obviamente, haviam professores que eram um pouco rígidos e arrogantes, que queriam influenciar a maneira do aluno escrever, justificando tais atitudes pela necessidade de ser « imparcial “, mas isso não é um problema da universidade em si, senão um problema frequentemente encontrado em ambientes acadêmicos nos quais intelectuais precisam se sentir seguros de si mesmos diante de alunos peculiares e igualmente pensadores.
Tive o prazer de conhecer alunos muito talentosos e dedicados, com grandes ambições para a vida, mas também muitos alunos sem quaisquer opiniões políticas e outros que abusavam seus direitos de se estudar no exterior sendo bancados pelos pais. Conheci uma pessoa que teve seu visto de estudante cancelado pelo governo britânico devido ao excesso de ausências. Conheci também alunos que, por causa do governo de seus próprios países, simplesmente se calavam durante discussões políticas. A variedade me motivava muito.
Talvez alguns leitores pensarão que o que escrevo é interessante e até mesmo desejável, mas gostaria de mencionar aqui que admirar culturas estrangeiras não significa esquecer ou até mesmo desmerecer a sua própria. O brasileiro têm seu valor e, quando trata outras nacionalidades com respeito, pode ser muito admirado e apreciado. Infelizmente, algumas pessoas atribuem qualquer característica pessoal à nacionalidade de alguém, mas acredito que o aprendizado que realmente levei de todas minhas viagens internacionais é que a natureza humana permanece intacta independentemente do idioma falado. Tive experiências agradáveis e desagradáveis no exterior, porém ambas foram e continuam sendo igualmente válidas para mim.
Espero que meu texto ajude àqueles que estão flertando com a ideia de estudar Relações Internacionais. É uma bela escolha – não me arrependo de ter escolhido o caminho que escolhi, porém preciso evidenciar que as dificuldades burocráticas de se manter em qualquer país estrangeiro são inúmeras e que o processo não é fácil. Sair de seu país, por mais que brevemente, requer muita maturidade e esforço. O ambiente pode ou não ser melhor ao que você está habituado, mas isso não quer dizer que você é automaticamente privilegiado e destinado ao « sucesso ». Este, seja o que for, é um processo constante e começar qualquer carreira pensando somente nisto dificilmente gerará resultados que não sejam ansiedade e depressão. Pensem nisso antes de estudar qualquer coisa – sem exageros! – e os frutos de seus estudos, trabalho ou até mesmo vida pessoal serão benéficos.
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1 Comment
oi, tudo bem? quanto era a mensalidade do curso de RI? pretendo fazer em keele também haha
bjs, adorei seu texto, meu deu uma luz hahahah