Eu já disse aqui no BPM que contar com o conhecimento e a ajuda de uma doula me deu toda a tranquilidade necessária para que eu seguisse com a minha gravidez serenamente. Eu nutria várias dúvidas e não tinha uma relação tão próxima com a médica e a obstetra que acompanhavam o meu pré-natal. Igualmente, por morar em outro país, não contava com aquela presença diária e suporte das mulheres mais velhas e mais experientes da minha família.
A relação doula x mãe é sutil, intuitiva, íntima, cúmplice. Trata-se de um apoio feminino que só uma “mulher que serve” – significado da palavra doula, que se origina do grego – é capaz de compreender e oferecer.
A doula é uma profissional treinada, para nos ajudar no pré, durante e pós-parto. Ela através de muita conversa, muita informação, nos proporciona um bem-estar físico e emocional capazes de nos fazer viver este momento tão especial de uma maneira tranquila.
Com o apoio de uma doula as dores de todas as fazes da endogestação e exogestação ficam mais suportáveis.
A prestação dos seus serviços pode começar antes ou depois do parto, mas em geral, ela se inicia previamente ao nascimento do bebê, com um primeiro encontro de apresentações, prosseguindo, mais ou menos, assim:
No pré parto a doula nos traz informações de qualidade para que possamos (mãe e pai/parceiro) vivenciar o momento de dar à luz sem medo. Deste modo ela explica: como “funciona” o parto, as suas fases, etapas; os procedimentos existentes – quais deles são bem-vindos durante e após o parto e quais, apesar de muito usados, são considerados desnecessários e dispensáveis na maioria dos casos, de acordo com as atuais evidências científicas e orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). E, além de nos ajudar a nos prepararmos física (preparação do períneo, por exemplo) e emocionalmente, ela também conta o que é e escreve com a gente o Plano de Parto – uma carta onde nós falamos aos médicos que nos atenderão na hora H como preferimos passar pelas diversas fases do trabalho de parto e como desejamos que o nosso bebê seja cuidado após o nascimento.
Durante o parto (sendo permitida a sua presença por parte da maternidade) ela faz uma interface entre nós pais e a equipe médica que nos atende. Ela pode auxiliar: explicando os termos médicos e os procedimentos que deverão ser realizados; aliviando as dores, através de métodos não farmacológicos – fazendo massagens, guiando trabalhos de respiração e relaxamento, etc.; envolvendo o pai, incentivando e mostrando como ele pode nos ajudar; e oferecendo, sobretudo encorajamento e apoio emocional.
Enquanto no pós-parto, a doula é uma assistência preciosa no aleitamento; no apoio emocional e psicológico; na criação do vínculo mãe e bebê; nos cuidados básicos com o recém-nascido. Ela minimiza os nossos desafios, nos encorajando a termos confiança e a acreditarmos nos nossos próprios instintos. Também tem doula que oferece serviços práticos/organizativos, como, cuidar da casa, fazer almoço ou janta durante um puerpério difícil, auxiliando com o filho primogênito de pouca idade, ou simplesmente nos dando um tempo para que possamos tomar um banho gostoso, e por aí vai…. Um amparo ideal para nós que nos aventuramos longe da família e dos amigos próximos.
A doula não é médica, obstetra, enfermeira ou parteira, ela é doula. E para tanto faz um curso específico para sê-la. Essa é uma profissão que envolve especialização como qualquer outra. Contudo, ela não realiza procedimentos médicos, não faz exames e nem receita medicamentos. A doula não substitui nem um dos profissionais tradicionalmente envolvidos no pré-natal e parto. Em outras palavras, mesmo com o seu apoio continua sendo indispensável ter acompanhamento médico. É a união do ginecologista, do obstetra e da doula, a sinergia dessas diferentes competências, que nos dá uma contribuição a 360 graus. Para que tudo aconteça ao seu melhor é importante que se tenha clareza nos papéis, nas competências e na possibilidade de intervenção de cada um. Por isso descrevo muito brevemente a função desses três profissionais:
O ginecologista é um médico especializado em ginecologia e obstetrícia, a sua função é diagnosticar e tratar, mesmo com a colaboração de outros especialistas, os distúrbios que afetam o sistema reprodutivo feminino, inclusive durante a gravidez. É ele quem faz as consultas, realiza os controles diagnósticos (ecografias, diagnósticos pré-natais), solicita exames e receita medicamentos quando necessários. Ele pode nos acompanhar durante toda a nossa gravidez que seja fisiológica ou que necessite de cuidados e tratamentos específicos.
O obstetra é a figura de saúde de referência nos casos de gravidez fisiológica (quando existe alguma patologia ele a direciona à um ginecologista). É ele que cuida da saúde materna e neonatal, realizando exames diagnósticos e fazendo consultas de controle para verificar a nossa saúde e a do nosso bebê. Ele tem a capacidade de reconhecer situações fora da norma e de fazer com que a figura médica competente intervenha sempre que necessário. Bem como nos dá assistência (hospitalar ou fora) durante o trabalho de parto, no parto e no pós-parto fisiológicos. Já durante o período puerpério ele pode se revelar uma ajuda preciosa, como por exemplo, nos problemas de aleitamento, fornecendo dicas de como cuidar do neném e apoiando a nossa recuperação física.
Ao passo que o papel da doula é aquele que descrevi acima. Ela vem na nossa casa sempre que a chamamos, nos ajudando e sustentando nos momentos de ânsia, medo, expectativas… A sua valência tem um sentido de aconchego, mas também de uma real ajuda prático/organizativa no nosso cotidiano. Enfim, ela intercede em tudo que NÃO diz respeito aos aspectos de saúde médica.
Outra observação legal é que a doula não substitui a presença do pai (ou de qualquer outro acompanhante). Muito pelo contrário, ela o ajuda a ser mais presente participando ativamente do trabalho de parto e do parto. Com o seu auxilio o pai/acompanhante descobrirá como nos confortar através de massagens, de suporte físico às posições que nos deixam mais confortáveis e com palavras de incentivos.
Aqui na Itália toda gestante tem o direito de ter um acompanhante no parto – desde que, não seja Cesárea. Diferentemente do Brasil, aqui os pais/parceiros não podem entrar no centro cirúrgico junto com a mãe. Nem mesmo a doula, que é uma profissional, pode acompanhá-la. Aliás, apesar da atuação da doula durante o parto ser reconhecida e estimulada pelo OMS, a entrada dela não é permitida em todos os hospitais. Por isso, antes de escolher a maternidade em que irá dar à luz verifique se é possível ter o pai/parceiro e a doula nesse momento para evitar sustos na última hora.
Muitas mulheres acham que só devem procurar uma doula se quiserem um parto normal ou se quiserem fazer um parto em casa. No primeiro caso, essa afirmação não é correta, pois ela te dará todo o suporte necessário e te orientará sobre o que levar em consideração na hora de escolher o tipo de parto. Geralmente, ela incentiva o parto natural e dificilmente incita a uma cesárea eletiva. O que não significa que ela não concorda e não te acompanhará em uma Cesárea necessária – devido aos riscos que o parto pode causar a você e ao seu bebê. Visto que, mesmo que se faça uma Cesárea ela terá o seu papel. E em relação ao parto em casa, a doula também a acompanha, porém, esse parto requer mais do que uma doula e as gestantes a procuram para obterem indicações de profissionais alinhadas ao seu desejo de parto humanizado. Assim, para realizá-lo a gestante geralmente contrata, além da doula, um médico e um enfermeiro. Mais uma vez é sinergia desses profissionais que corrobora para que você tenha a melhor experiência de parto possível. Para estes casos, também é fundamental que você se informe com o teu obstetra.
Enfim, estudos e pesquisas demonstram que a figura da doula é de enorme valia, dado que a sua presença aumenta significativamente a satisfação geral da mulher e da família com a gravidez e o parto. Eles mostram ainda que o parto que conta com a sua assistência, tende a ser mais rápido e a necessitar de menos intervenções médicas, quer dizer, diminui: a duração do trabalho de parto; os índices de cesáreas; os pedidos de analgesia peridural; o uso de ocitocina; o uso de fórceps. Tal como, o seu apoio combate a depressão pós-parto.
O melhor modo de encontrar uma doula é o famoso boca-a-boca, porém se você não conhece ninguém que conheça uma, aqui na Itália, é possível pesquisar em dois sites: Associazione Professionale Mondo Doula, Associazione Doule Italia; e especificamente aqui em Genova, no portal We Love Moms. Além dos blogs e grupos de Facebook.
Quanto ao custo, a relação do que é caro e do que é barato é muito relativa, mas todas as que contatei tinham um preço x benefício muito justo e factível.
E ah! Você pode contatá-la em qualquer período da gestação. O importante é que haja muita empatia entre vocês, cada uma tem o seu modo de trabalhar, e você deve escolher aquela que te transmita confiança para que realmente surja a cumplicidade entre vocês.
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Citações e fontes: Associazione Professionale Mondo Doula | Associazione Doule Italia | We Love Moms
3 Comments
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Aqui em Milão, no hospital Sacco, o pai pode entrar na cesarea.
A dificuldade que vi é que não tem como ter acompanhante no pós -parto
Ah que legal, Luara que deixam o pai entrar. Não entendi, no entanto, o que você quis dizer sobre o acompanhante no pós-parto. Eles não deixam ninguém ficar com a mãe, é isso?