Meus primeiros três anos na Romênia.
Existem duas coisas que eu amo na vida: viajar e escrever. Ter a chance de escrever sobre minhas viagens e aventuras desse lado do oceano traz uma alegria enorme para mim! E quando paro para lembrar de tudo que já passei nesses 3 anos de Romênia, dá uma mistura de saudade, alegria, orgulho, e outros sentimentos que mal sei explicar.
O ano era 2014 quando começamos a planejar nossa mudança para o velho continente. Entre trancos e barrancos, maridão e eu finalmente entramos num acordo e batemos o martelo para nosso destino: Bucareste. Fiquei feliz? Não. Tive medo? Muito. Tive expectativas? Nenhuma, pois não tinha conhecimento nenhum sobre o país, então não tinha nem o que esperar dessa mudança.
Textos na internet me davam uma ideia da Romênia turística, mas pouquíssimos me mostravam o dia-a-dia no país. E dos pontos de vista que encontrei, nenhum era brasileiro. Mas eu acredito muito no destino, e acredito que tudo nessa vida tem um propósito. Então após alguns meses de preparo, colocamos nossas roupas e esperanças nas malas e no início de 2015 cruzamos meio mundo para chegar aqui.
Não foi um início fácil. Éramos três (eu, marido e nossa filha na época com 4 anos). Já tínhamos morado fora do Brasil quando éramos solteiros e sem filhos (eu em Londres, ele em Bruxelas), mas o que estávamos fazendo dessa vez era além do que jamais poderíamos imaginar. Chegamos em março, fim de inverno/início de primavera (teoricamente), mas em uma noite chuvosa e fria, em uma semana que passamos com
temperaturas ainda perto de 0 graus, com direito a até um último suspiro de neve. Tudo era cinza, triste.
Optamos por morar em uma área, digamos assim, “popular”, onde as coisas não são exatamente lindas ou organizadas como as áreas nobres da cidade, mas era o que podíamos arcar naquele momento. Nessa área “popular”, tive o primeiro contato com os romenos “populares”. Pessoas simples, que não falavam outro idioma além do romeno.
A principal característica que notei logo de cara foi que os romenos falam alto. E por ser um idioma completamente desconhecido para nós, não dava para saber se eram conversas animadas ou grandes brigas.
Os primeiros dias foram de descobertas, e aos poucos fui conhecendo áreas mais centrais
da cidade, partes históricas, museus. Para minha alegria, não demorou muito para o tempo começar a melhorar, possibilitando passeios ao ar livre, pelos tantos parques que Bucareste oferece.
Leia também: dez motivos para morar na Romênia
Em um mês aqui, comecei no meu novo trabalho. Qual não foi a minha surpresa ao me deparar com uma quantidade tão grande de romenos falando os mais diversos idiomas (francês, italiano, português, espanhol, russo, alemão), todos trabalhando ali no mesmo lugar. Foi meu primeiro contato mais próximo com a cultura, e vi como essas pessoas eram diferentes dos “populares” que encontrava nos arredores da minha casa.
Pessoas jovens, que falavam o inglês e até o português. Fui super bem recebida por pessoas atenciosas e prontas para me ajudar no que fosse preciso.
Passados 3 anos, percebo que foi ali que a engrenagem começou a funcionar para mim e minha família. O calor da primavera e as árvores ficando verdinhas novamente, junto ao calor humano e à receptividade dos novos amigos que comecei a fazer foram tornando minha experiência uma agradável surpresa. Passei do momento “zero expectativa” para o momento de construir minha opinião sobre o país baseada em minha própria experiência, sem um “pré-conceito” de outras pessoas, e hoje vejo como isso foi importante.
Aprendi a conhecer as pessoas dentro da minha casa antes de conhecer o que tem lá fora. Até hoje sinto muita falta do que deixei para trás, mas agora eu sei que era o momento certo e a melhor decisão para a fase em que estava em minha vida. Construí uma nova rede de relacionamentos, e hoje tenho amigos que são como família, tenho colegas de trabalho, conheci pessoas que talvez fosse melhor não ter conhecido, mas que de certa forma também me ensinaram a valorizar quem realmente importa. E esse círculo todo inclui tanto romenos, quanto brasileiros, além de outras nacionalidades.
Mas para além de tudo isso, aprendi a respeitar uma cultura tão diferente da minha, e aos poucos me tornei parte de tudo isso, da forma que dá. A Romênia me recebeu de braços abertos e me oferece hoje condições de vida que infelizmente o meu país, que eu tanto amo, não pôde me oferecer.
Não é um país perfeito, as pessoas não são todas maravilhosas, a burocracia por vezes irrita, o trânsito é caótico, e muitas coisas que amo do Brasil não são encontradas aqui. Mas mesmo assim, ficar aqui é uma escolha minha, então cabe a mim fazer dessa experiência um aprendizado para a vida.
Leia também: custo de vida na Romênia
E se hoje, nesse mundo tão louco em que vivemos, eu pudesse dividir um único conselho com você que está lendo esse texto e também pensa em fazer as malas como eu fiz há 3 anos (seja lá qual for o seu destino), meu conselho seria esse: abra sua mente, abra o coração e abrace essa oportunidade como uma grande chance de aprendizado pessoal.
Mude-se, mas com uma mente preparada para aceitar a mudança que também virá de
dentro de você. Entenda que você estará fazendo parte de algo muito maior, então aceite, respeite o espaço em que irá se inserir, entenda o fato de que existem muitas culturas nesse mundo, e ninguém é melhor do que ninguém; nós somos apenas diferentes.
Morar fora é uma experiência difícil, por vezes dolorosa, mas se fosse fácil, não teria graça. E acima de tudo, não há dinheiro no mundo que pague esse aprendizado que ficará marcado para sempre em sua vida.
2 Comments
Ju, vc eh uma inspiracao! Morar em um lugar completamente diferente do nosso lar e um desafio mesmo! Espero que a gente possa se encontrar em breve por esse mundo! Um beijo bem grande
Amanda, querida, obrigada pelas palavras! Você conhece bem esse desafio né! 🙂 Também espero que em breve a gente possa se reencontrar, beijão!