O assunto “morar em outro país” traz uma porção de temas que eu considero extremamente interessantes. Alguns deles conseguem abraçar a minha atenção e o meu interesse durante horas e horas. Um destes temas é a nossa constante necessidade de adaptação no novo país e as consequentes mudanças que esta traz para o nosso dia a dia.
Cada um de nós cria estratégias muito particulares para ajudar no processo de adaptação e, geralmente, a inclusão de novos hábitos e a perda de alguns outros podem funcionar como grandes facilitadores. Quando acrescentamos um novo comportamento na nossa rotina e o repetimos diversas vezes, seja ele positivo ou negativo, ele vai se tornar um hábito.
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Os novos hábitos podem ser adquiridos de forma imperceptível ou totalmente consciente. Eu confesso que me espantei quando me dei conta, depois de muitos meses morando na Áustria, que eu adquiri hábitos que nunca imaginaria que fariam parte da minha rotina. Costumes austríacos que eu achava interessante, mas muito distante da minha vida. E, assim, de repente, me pego fazendo exatamente aquilo que no começo eu achava que nunca iria fazer! Daí me veio a pergunta: “Mas quando foi que isso virou um hábito?” Foi, de fato, imperceptível.
Mas e quando estes novos costumes são adquiridos de forma consciente? Eu diria que você percebe que está agindo de uma maneira nova e você sabe que possui a possibilidade de manter o seu velho modo de agir, mas opta por abandoná-lo. Desse modo, poderá incluir o novo hábito que veio com a vivência no novo país.
Abaixo, descrevi cinco hábitos que foram adquiridos e perdidos após um longo período vivendo aqui no velho continente.
Apenas uma refeição grande no dia
O primeiro país que eu morei quando saí do Brasil foi a Irlanda. Eu era estudante e morei alguns meses na casa de uma família irlandesa, o que me possibilitou conhecer bem a cultura e os costumes locais. Naquela época comecei a entender que muitos países não têm o costume de manter duas grandes refeições no dia (almoço e jantar), como no Brasil. Não apenas esta família irlandesa, mas muitos outros amigos de diversos países europeus que fui conhecendo com o tempo me explicaram que normalmente eles fazem apenas uma grande refeição no dia, almoço ou jantar. Por exemplo: um lanche frio no almoço e um jantar bem servido (ou vice-versa).
Arroz, feijão e um bife para o almoço e macarrão para o jantar? Nem pensar! Eu confesso que achava esse hábito muito estranho e sentia muita fome caso eu não complementasse aquele lanche frio sem graça com algum outro acompanhamento quentinho.
Ao chegar aqui em Viena não foi diferente, mas percebi que os austríacos fazem o inverso. Geralmente eles deixam a refeição mais leve para a noite e se alimentam bem no almoço. É bem comum eles jantarem apenas pães com frios e patês. Algumas vezes, com alguns vegetais, também: tomate, pimentão e pepino são os queridinhos na Áustria.
Conforme a minha convivência com os locais foi aumentando, fui percebendo que aos poucos fui deixando de sentir necessidade de manter as duas grandes refeições e esse hábito se incorporou totalmente no meu dia a dia.
Consumismo diminuiu
Depois que eu tive que colocar os meus pertences de uma vida toda no Brasil dentro de duas malas de 23 kg e depois de passar por três grandes mudanças de país com estas mesmas malas, acabei entendendo que eu realmente consigo viver com menos.
Tenho até hoje guardado em minha memória a fala de uma amiga muito querida que funcionou como um “click” dentro de mim. Logo na minha primeira semana morando em Dublin, no gelado mês de fevereiro, tive que sair à procura de um casaco de inverno. O pensamento veio de forma quase automática: “Para passar o inverno na Irlanda, preciso de pelo menos dois casacos.” Minha amiga alemã, espantada ao ver que eu tinha pego dois, perguntou: “Por que você precisa de dois casacos se você já vai ter um?” Esta frase me marcou.
É um exemplo meio bobo, mas foi o momento em que me dei conta de que durante anos da minha vida eu comprei muitas coisas sem precisar, de fato, delas. Foi o começo de um consumo mais consciente. Hoje, depois de 4 anos fora do Brasil, consigo viver com menos da metade do que eu costumava ter e isto é surpreendentemente libertador!
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Abandonei o uso de salto alto
Sempre fui apaixonada por sapatos de salto alto e costumava usá-los no dia a dia de São Paulo. No entanto, manter esse hábito nas cidades aqui da Europa é um belo desafio. Depois de poucas semanas que deixei o Brasil, eles foram conscientemente abandonados e hoje uso mais para festas ou ocasiões especiais. Um hábito perdido e que também trouxe uma sensação libertadora. Hoje, priorizo o conforto e aproveito muito melhor as caminhadas que faço pela cidade. Os meus pezinhos agradecem diariamente!
Misturar água no suco e misturar água com gás no vinho branco
Um hábito austríaco! Sim, eu sei que soa muito estranho. No meus primeiros meses em Viena não conseguia entender como as pessoas gostavam de beber um suco tão aguado e quase sem sabor. Aqui na Áustria é muito raro ver alguém que gosta de tomar sucos naturais ou industriais sem adicionar bastante água. Além disso, os xaropes de frutas e flores (flor de sabugueiro) são bem comuns, principalmente entre as crianças.
Fui, também, adquirindo este hábito com o tempo e de forma imperceptível. Hoje eu só consigo tomar suco com muita água misturada e sou apaixonada pelo Spritzer (vinho branco misturado com água com gás)! O lado positivo: o meu consumo de água aumentou.
Cuidados de beleza: faça você mesma!
Um hábito que foi adquirido na marra. Aqui na Áustria o preço de serviços como: manicure, pedicure, depilação, design de sobrancelhas e etc. custam bem caro se comparados com o preço que temos no Brasil – de um modo geral. Eu nunca fui a salões de beleza para estes serviços aqui em Viena, apenas para corte de cabelo. Desde que cheguei aqui, aprendi a fazer tudo sozinha e, de quebra, descobri o quanto posso economizar todo mês sem precisar pagar por estes serviços!
Se vamos adquirir novos hábitos, que sejam apenas os positivos! Fico muito feliz quando percebo como a Europa influenciou de forma benéfica o meu dia a dia. Acredito que cada um destes novos costumes contribuem não apenas para minha adaptação ao país que estou vivendo hoje, como também para um estilo de vida que considero mais leve e que faz mais sentido para mim.
Um abraço e até o próximo post!
1 Comment
Perfeito…