Minhas percepções sobre minorias na Croácia.
Enquanto morava na Croácia, sentia muito forte em mim o desejo de escrever sobre temas como preconceito, machismo, racismo, etc. que existe lá assim como existe em todo canto do mundo, mas nunca soube se realmente um dia chegaria a escrever sobre isso.
Faz um ano que voltei para o Brasil e me parece que agora é a hora de escrever sobre alguns desses assuntos, porque me sinto muito mais leve e tranquila para falar a respeito.
O que gostaria de deixar claro é que, assim como em todos os outros textos que escrevi aqui no blog, o que escreverei nas próximas linhas terá sempre ligação com as experiências e com os sentimentos que tive durante esse um ano de intercâmbio na Croácia, e que também tentarei ser o mais cuidadosa e educada possível nas palavras seguintes por ter consciência da delicadeza do assunto.
Homossexualidade na Croácia
No meu primeiro mês de intercâmbio eu estava encantada com tudo novo, a arquitetura diferente, com as pessoas novas que estava conhecendo, com as comidas e até com o frio. Então, quando fazia mais ou menos quarenta dias que estava morando em Zagreb, em um dia que voltava da faculdade para o dormitório e passava por uma rua meio escondida, vi um homem segurando a mão de outro homem. Parece normal para nós, mas naquele momento percebi que aquela fora a primeira vez que vi algum gesto em público em Zagreb de um casal homossexual.
Fiquei alguns dias pensando sobre o assunto, tentando observar mais alguns gestos diários parecidos com aquele que eu havia reparado, mas não me lembro exatamente quando aconteceu de novo, ou se aconteceu.
No dia que vi esses dois homens de mãos dadas, tive uma conversa de noite com a menina croata que morava comigo. Foi ainda mais estranho. Ela me disse que não tinha nenhum amigo ou amiga homossexual, ou que tenha se declarado como, só que tinha um amigo de um amigo que ela suspeitava que era gay. Ela também disse que desconhecia qualquer lugar ou balada, por exemplo, como temos no Brasil, que seja especialmente destinada a esse público.
É importante comentar que é comum em toda a Europa que nas casas noturnas/baladas mais populares, se toque muito pop, então as músicas que normalmente tocam em baladas gays aqui no Brasil, essas mesmas tocam em todos os tipos de baladas por lá, até porque, especialmente no caso da Croácia, me parece que os gays não têm tanta abertura para expressarem suas vidas amorosas em público. (Isso não é uma regra e também não quer dizer que não há nenhum bar ou balada gay lá, apenas que esses espaços são menos comuns e não tão divulgados como no nosso país).
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Com certeza tudo isso está em processo de evolução, assim como aqui no Brasil, mas me parece que aqui estamos em debates um pouco mais à frente onde outras situações vão aparecendo na discussão.
Há negros na Croácia?
Outra situação que me chamou muito a atenção depois de mais ou menos cinco meses morando em Zagreb foi quando vi um negro na praça central da cidade. Foi a primeira vez que vi um negro lá e até o fim do meu ano morando na Croácia, não conheci nenhum croata negro. Essa reflexão me abalou muito quando estava no segundo semestre do intercâmbio, porque pode parecer um detalhe, mas lembrando de como as coisas aconteciam no Brasil, me pareceu como se eu estivesse vivendo em outro planeta, um planeta só com brancos.
Essa é uma daquelas reflexões que levam a gente de um extremo a outro, de uma visão para o seu oposto em cinco segundos, e isso não quer dizer que chegamos a uma conclusão, muito menos que se chegamos a alguma e que ela é certa. Estou tentando passar aqui um pouco das minhas emoções e da minha percepção particular de algumas características daquele espaço.
A Croácia nunca teve um histórico grande de imigração negra, e até por isso vemos poucos negros pelo país e principalmente que são nascidos lá.
Imigrantes na Croácia
Falando de imigração e particularmente dos últimos cinco anos, vimos em muitos noticiários como aumentou consideravelmente o fluxo de migração de pessoas vindo de países como Síria, Afeganistão e entre outros, para a Europa.
Quando eu estava decidindo a respeito do destino do meu intercâmbio, ou seja, na segunda metade de 2015, lembro-me muito bem de ter ouvido meu pai me chamar do sofá da sala enquanto assistia ao noticiário, pois ele queria me mostrar que muitos desses refugiados estavam passando pela Croácia.
No feriado de Páscoa de 2016, quando estava no intercâmbio, viajei para uma cidade do interior croata chamada Slavonski Brod e em uma conversa com a mulher que me hospedava, ela me disse que fazia trabalhos voluntários com os refugiados que ainda passavam por aquela região que era a considerada como de maior fluxo de migrantes do país. Segundo ela, esses refugiados apenas passavam pela Croácia porque o real objetivo deles era chegar até países como a Áustria, Itália, França, mas principalmente à Alemanha. Ou seja, eles precisam de uma colaboração muito passageira da Croácia com suprimentos médicos, cama para passar poucos dias, espaço para lavar roupas, etc. e não esperavam exatamente se estabelecer no país.
Então me apareceu outra reflexão a respeito de quantos imigrantes eu havia conhecido em Zagreb, na capital croata. Quantas pessoas de outros países que foram à Croácia, aprenderam croata, moravam e trabalhavam no país?
A conclusão que cheguei de tudo isso é que como já escrevi em outro texto aqui no blog, a língua croata é uma língua muito difícil de aprender ao mesmo tempo em que é uma língua utilizada apenas na Croácia, um país sem grande expressão e influência mundial economicamente falando. Outro ponto, é que por não ser um país tão forte economicamente (muito pelo contrário, há vários problemas financeiros por lá), não há também uma estrutura de trabalho muito boa. A taxa de desemprego é considerada alta e, pelo que percebi, pode-se trabalhar em terras croatas sabendo falar somente inglês, mas é muito importante se dispor a aprender o mínimo da língua local.
Espero que esse texto tenha de alguma forma, levantado reflexões, pensamentos e questões em você sobre esses temas em diversos países no mundo. Com certeza tudo isso acontece de formas diferentes em lugares diferentes do planeta, e por que não observarmos esses aspectos quando visitamos um país novo, mesmo que por pouco tempo? Acredito ser um bom exercício de percepção para todos nós, não é não?
Obrigada mais uma vez por ter chegado até aqui e até a próxima!
3 Comments
Muito legal seu relato. Estava assistindo um seriado Croata e me dei conta exatamente desses elementos. E fui pesquisar o assunto e achei seu texto. Obrigada por compartilhar suas percepções.
Obrigado pelo texto! Vou pra Croácia em Agosto! Parabéns pela sua coragem e determinação
Olá Wilton! Obrigada pelo seu comentário.
Se você precisar de ajuda ou serviços aqui na Croácia, durante a sua viagem, fique a vontade par entrar em contato com a gente. Somos especialistas na região e, como sou brasileira, falamos português 🙂
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Ficaremos felizes em recebê-los ????
Abraços!