Se você é brasileiro e se encontra em outra pátria, você certamente já enfrentou uma das decisões mais difíceis que podem ser tomadas: a de deixar a sua terra natal e recomeçar a vida em outro país. Ao mesmo tempo, se você ainda não tiver dado esse primeiro passo, é sempre válido se preparar para o fato de que essa decisão não parecerá tão definitiva ao longo do tempo.
A verdade é que, dificilmente, você vai encontrar apenas coisas boas na sua nova vida e ter absoluta certeza, todos os dias, de ter tomado a decisão certa. Além disso, a saudade daquilo que era bom no Brasil, vai pegar, e você pode ter uma tendência a generalizar as suas experiências.
Deixe-me explicar melhor. Se você nasceu e cresceu em uma cidade, tem seus amigos de infância, os de adolescência e ainda um círculo grande de conhecidos, pode ter a impressão de que, no Brasil, as pessoas fazem amigos íntimos com muita facilidade. Mas a verdade é que, se você tivesse nascido e crescido em uma cidade da Inglaterra, o mesmo poderia ser verdade por aqui. Ou seja, no fim das contas, você sempre será brasileiro, e, ainda que ame de paixão a terra da Rainha Elizabeth, aqui, você sempre será estrangeiro.
Mas se me sinto em casa, que história é essa de ser estrangeiro?
Faço uso deste termo, em sua maneira mais simples – a de alguém que veio de fora. E, como alguém que veio de fora, você até pode ser bem sucedido, bem quisto, educado e etc, mas a sua família mora em outro país, os seus amigos de infância são de outro país, a língua-mãe é outra (na maioria dos casos) e até o porte denuncia que você é diferente.
Além disso, ser estrangeiro vai muito além dessas características mais óbvias. Ser estrangeiro significa que você esta aprendendo do zero, ou quase, sobre tudo aquilo que é socialmente aceito na nova cultura. Significa que você terá olhos de observador e que, provavelmente, uma opinião positiva ou negativa sobre os comportamentos que vê. Também significa que, muito provavelmente, será mais aberto à opinião pessoal das pessoas e mais desapegado sobre essas opiniões serem socialmente aceitas ou não (afinal, os comportamentos considerados aceitáveis, mudam sim de país para país).
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Se é tão bacana ser “cidadão do mundo”, tem alguma coisa nisso que não é legal?
O lado ruim de todo esse “distanciamento” meus amigos, é que você, provavelmente, adquirirá o hábito de se perguntar “qual país é o melhor”?
E meu Deus, que hábito complicado! Já é difícil ter informação e experiência de vida suficiente para dar uma de “crítico de cinema”, mas, além disso, ficar comparando qualquer coisa, a todo momento, faz você não se entregar à sua nova realidade, não cultivar a gratidão que só é possível quando vivemos o momento presente livre de julgamentos.
Dito isso, se você me perguntar se eu estou livre deste hábito, terei que admitir que não, não estou. Eu amo esse país, tenho orgulho da história (boa parte dela), da música, das artes, do modo de pensar e agir que se cultiva por aqui, além da gratidão pelas inúmeras oportunidades profissionais que encontrei. Porém, muito seguidamente, minha mente começa a divagar e termina em: será que tudo isso compensa ter que ficar longe da família? E o pior: será que fiz certo em criar meu filho na Inglaterra?
Primeiramente, precisamos estar atentos sobre como estamos enxergando a realidade. No exemplo dado, é claro que nada se compara à família, mas quando adultos, não veremos nossos familiares todos os dias e nem serão eles que nos garantirão qualidade de vida.
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Além disso, é simplesmente impossível ter certeza sobre os caminhos que escolhemos tomar. Entrar nessa é ficar pensando: “E se eu tivesse feito outra faculdade”, “e se eu tivesse casado com aquela pessoa”, “e se eu tivesse optado por outro caminho”? Simplesmente, nunca saberemos.
Então, o que fazer quando as incertezas tomam conta?
Mas e então, o que fazer nessas horas? Bem, como personal coach, essa é uma pergunta que eu ouço bastante. E a verdade é que ninguém, nem sequer você mesmo, terão a resposta de como a sua vida poderia ser se você tivesse feito outras escolhas, ou tivesse no caso, optado por ficar no Brasil. Portanto, a minha sugestão é que você se lembre, nem que deva fazê-lo todos os dias, que hoje você está onde está e nunca mais viverá esse dia, essa semana, ou ano, novamente. This is it.
Por óbvio, se você se encontra em uma situação complicada, infeliz, e sabe que algo precisa ser feito, este texto não é para você. Cansar-se de uma situação verdadeiramente ruim é uma etapa necessária para promover mudanças importantes na vida e, escolher ficar por comodidade ou medo, nunca é uma boa solução.
Mas se o seu problema é o hábito de se questionar incessantemente, lembre-se de que hábitos novos precisam ser exercitados como se fossem um músculo do nosso corpo. Não é depois de um dia positivo que você consegue se livrar de um hábito destrutivo que vem cultivando há muito tempo.
Que práticas do dia a dia podem lhe ajudar a cultivar novos hábitos?
Mudar a fisiologia, através da prática de meditação, exercícios físicos e até com a escolha de ambientes e pessoas agradáveis, ajuda muito. Além disso, se algum hábito estiver verdadeiramente atrapalhando a sua paz, escrever os possíveis cenários alternativos e encará-los de frente, também pode auxiliar à mente a se aquietar (ou auxiliá-lo a realmente mudar de vida).
Porém, o mais verdadeiro e importante, é que tudo nessa vida é experiência e, quem seríamos nós sem vivê-las, e sem elas para contar?
2 Comments
Texto incrível!
Muito obrigada, Bruna! 🙂