Há meses que eu tinha decidido escrever sobre os meios de transporte em Santiago, a capital do Chile. Acabou coincidindo que, justamente quando chegou o momento de escrever esse artigo, houve um protesto dos taxistas da cidade contra os serviços oferecidos pelos aplicativos Uber, Easy Taxy e Cabify.
Os motoristas bloquearam os acessos ao aeroporto o que obrigou muita gente a descer e caminhar carregando as malas para não perder o voo. No meio desse caos, um turista brasileiro faleceu por conta de um ataque do coração.
Como em todos os lugares do mundo, esses aplicativos enfrentam resistência do táxi tradicional, mas se eles têm tido bastante procura dos usuários existe uma razão para isso. Não é difícil pegar um táxi na rua na capital chilena, mas sempre existe a possibilidade de enfrentar um taxímetro alterado, ou cair no velho golpe da nota de dez mil pesos chilenos.
Muita gente já conhece porque, infelizmente, caiu no conto do vigário. Funciona assim: você paga a corrida com uma nota de dez mil pesos e o taxista diz que você passou uma nota de mil. Na pressa, a maioria nem se dá conta e passa o restante que falta. Não é lenda urbana! Uma prima que veio em abril a Santiago já sabia do golpe e mesmo assim caiu!
Claro que existem maus profissionais em todas as categorias e não podemos generalizar. O que me deixou espantada foi ver as lideranças do movimento dos taxistas afirmando que eles não se consideravam responsáveis pela morte do turista brasileiro, já que a família admitiu que ele tinha histórico de problema cardíaco. Um pouquinho de empatia não faria mal nesse momento.
Esses aplicativos fazem sucesso aqui em Santiago porque é uma cidade onde os moradores, em geral, estão acostumados a usar as novas tecnologias. Assim como os passageiros recorrem ao Uber, muitos motoristas usam o Waze para definir o melhor trajeto e fugir dos engarrafamentos em Santiago. Já os usuários do transporte público – que têm um cartão recarregável para ser usado tanto no ônibus, como no metrô, – recorrem ao Twitter para saber das condições do metrô.
Tudo isso ajuda a melhorar o transporte e a locomoção na cidade que já está colapsada. Quem é de São Paulo pode pensar que o trânsito aqui é maravilhoso, mas temos que respeitar as dimensões das duas cidades e considerar o número de habitantes.
Um grande problema
Cada vez mais carros novos começam a circular nas ruas de Santiago. De janeiro a julho desse ano, foram vendido 190.755 automóveis segundo dados da Associação Nacional Automotora do Chile. Somente em julho foram 28.092 carros, o que representa 24,7% a mais do que no mesmo período de 2016.
A Região Metropolitana, onde está Santiago, liderou esses números com 16.736 automóveis. Além do problema do colapso do trânsito, quem mora em Santiago precisa lidar com a poluição do ar (saiba mais aqui). Esse ano já foram 60 eventos de acordo com o Ministério do Meio Ambiente. Quando os índices de poluição estão graves, o governo decreta restrição veicular (o famoso rodízio).
Quando isso acontece, logicamente, os proprietários de veículos precisam usar outro meio de transporte. Mas os serviços oferecidos pela empresa Transantiago e pelo Metro também estão no limite. Todos os dias, a frota de 6.600 ônibus das sete empresas que prestam o serviço fazem mais de 3 milhões de viagens. Já o Metro transporta 2 milhões e 200 mil passageiros diariamente. Isso é quase metade da população de 5,15 milhões de habitantes da cidade segundo o Censo de 2015.
Sempre vejo muitos turistas elogiando os serviços do metrô de Santiago e, realmente, a empresa oferece um bom serviço. O problema acontece na hora do rush. É um pesadelo como em todos os metrôs das grandes cidades. Você viaja como uma sardinha e isso, definitivamente, não é legal!
Sou sua amiga bicicleta
Para fugir desse caos, os moradores de Santiago têm recorrido a uma outra alternativa: a bicicleta. A cidade tem 230 quilômetros de ciclovias e as viagens de bicicleta representam 7% do total, com um milhão de viagens por dia. Os dados foram obtidos numa pesquisa realizada pela Intendência de Santiago e a organização Bike Santiago em 2016. O levantamento mostrou que 50% dos entrevistados deixou de usar o transporte público e 13% abandonou o carro particular para usar a bici.
Além das ciclovias sinalizadas, outro estímulo para usar a bicicleta como meio de transporte são os serviços de empréstimo em espaços públicos. Você retira a bicicleta num ponto e pode devolvê-lo em outro. Alguns desses serviços são oferecidos pela administração da comuna (bairro), outros por empresas privadas como o Banco Itaú.
Mas, por incrível que pareça, até mesmo os ciclistas estão enfrentando problemas para circular na cidade. O principal deles é a falta de estacionamento. Existe uma norma do Ministério de Habitação e Urbanismo que estabelece a construção de um estacionamento para bicicletas a cada dez vagas para carros em construções públicas e privadas. Infelizmente, a lei não tem sido cumprida como deveria.
Aqui em casa, não temos carro porque moramos no Centro e estamos perto de duas linhas de metrô e de várias outras de ônibus. Meu marido adotou a bicicleta como meio de transporte para ir ao trabalho há quase cinco anos e não se arrepende. Ele roda quase 21 quilômetros por dia para ir e voltar do trabalho. Chegando lá, tem vestiário com chuveiro, o que facilita bastante essa logística.
Eu, particularmente, evito bastante o metrô nos horários de mais movimento e, quando é inevitável, consulto a conta deles no Twitter para saber se está tudo bem, ou se tem algum atraso. Esse ano, comecei a usar o Uber eventualmente, quando tenho que ir a algum lugar distante. Até o momento, não tive nenhum problema com o serviço e recomendo para todo mundo.
Sempre que queremos fazer um passeio fora da cidade, ou para algum lugar bem afastado, alugamos um carro, pois o preço da diária compensa. Depois que nossa filha nasceu, pensamos em comprar um carro, mas por enquanto ainda não sentimos a urgência. Espero que continue assim. Mesmo porque ainda não tenho a minha carteira de motorista chilena.
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