Pense bem antes de decidir se mudar para Israel.
Morar fora do seu país de origem parece encantador, e é o sonho de muitos, mas há momentos difíceis e delicados para enfrentar. Saber lidar com as diferenças de cultura, idioma, costumes, entre outros itens, exige um grande esforço, paciência e energia.
Embora Israel seja considerado país desenvolvido, e por conta disso tenha inúmeros atrativos para imigração e turismo, elenco abaixo alguns pontos que acredito sejam os mais desafiadores:
1 – Conviver com a tensão permanente de ataque terrorista. Embora a violência urbana daqui seja quase zero, sempre há a preocupação com possíveis ataques de terror. Como o país é praticamente todo rodeado de inimigos (Líbano, Jordânia, Síria, Egito e Palestina) o perigo é iminente.
O último grande conflito ocorreu em meados de 2014, no qual depois de Israel ser bombardeado diariamente por foguetes, os chamados “kassamim” (foguetes de fabricação caseira, cheio de explosivos, sem sistema de comando, ou seja, são lançados sem alvos precisos), lançados a partir da Faixa Gaza, Israel iniciou a operação batizada de Tzuk Eitan. Foram dias de muita tensão. Crianças sem aula, alguns comércios fechados, famílias moraram temporariamente em outras cidades, alarmes tocando a todo o momento. Muito pânico espalhado pelo país.
Para quem não está acostumado ao que chamo de “clima de guerra”, conviver com esta realidade pode não ser muito fácil, principalmente no início.
2 – Alto custo de vida. Embora possamos afirmar que o salário de Israel seja (bem) superior ao do Brasil, já que o salário mínimo/hora aqui equivale a USD 6,75 (seis dólares e setenta e cinco centavos) e do Brasil é de USD 1,35 (um dólar e trinta e cinco centavos), iniciar a vida em Israel pode custar caro e é um choque para muitos. Claro que depois de algum tempo, seu salário se acomodará aos seus custos e estilo de vida, pois embora a vida seja cara, em geral os salários são bons. Mas como disse, o inicio não será fácil. Exemplos: preço médio do quilo de carne R$ 80,00 (oitenta reais), manicure R$ 60,00 (sessenta reais), litro de gasolina R$ 7,00 (sete reais).
3- Aprender o idioma. Definitivamente este é um grande desafio. O alfabeto hebraico não é o mesmo ao qual estamos habituados. A escrita é completamente diferente. E escreve-se da direita para esquerda. Por um período, e para algumas situações, é possível se virar com inglês, mas uma hora o hebraico vai fazer falta.
Tarefas simples e cotidianas, como efetuar depósito em banco, agendar uma consulta médica, preencher um cheque, que você faria de olhos fechados no Brasil, aqui em Israel poderá ser uma grande e penosa aventura.
4 – O estilo e jeito bruto e direto do israelense (obviamente há exceções). Vejo que é muito difícil para o brasileiro lidar com uma cultura na qual tudo é dito direta e rispidamente. Simplesmente não estamos acostumados a isso. E esse pode ser um grande desafio para o novo imigrante. O israelense é muito generoso, solícito e verdadeiro. Mas é bruto. E isso nos choca. Ele fala alto, muito alto. Grita. Reclama muito. Assisto discussões em todos os tipos de lugares: hospitais, escolas, bancos, mercados, não há exceção. Muitas vezes é difícil distinguir entre uma simples conversa, brincadeira ou briga. Aqui você poderá presenciar cenas que não existem no Brasil. Certa vez queria comprar pão no mercadinho. Como eu não sabia direito o idioma, me confundi com o preço unitário e o do pacote de 12 pães. Eu tinha entendido o preço de 10. Virou uma pequena confusão e o vendedor já sem paciência, simplesmente abriu o pacote, tirou com sua mão dois pães, jogou o pacote na minha frente e disse: “Pronto, agora tem 10. Vai. Leva esse.”
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Com o tempo a gente acostuma. E aos poucos vai gostando do israelense.
5 – Paciência é uma palavra que não se sabe o significado aqui. As pessoas não têm paciência, para quase nada. Fila é outra coisa que não existe. As pessoas vão se aglomerando e vence o mais forte. Triste assim. No cinema, no elevador, no parque, no trem. Ninguém se organiza em filas, é um tumulto enorme e muito desagradável.
6 – A semana inicia-se no domingo. E sábado é o dia do descanso, o sagrado shabat. Muita gente trabalha na sexta, tem comércio aberto até o meio da tarde, e é aquela correria para deixar tudo pronto para shabat. Então, o clima é de que a semana útil tem 6 dias e um dia descanso. Ok, assim é a determinação dos 10 mandamentos, mas no Brasil não funciona assim. Leva-se um tempo até se acostumar à essa dinâmica.
7 – Dirigir é um teste de paciência. É verdade que os pedestres são muito respeitados, mas os motoristas são apressados, impacientes e intolerantes. Isso pode ser o principal motivo da ocorrência de tantos acidentes. A principal causa de morte em Israel ainda é o câncer, mas os acidentes fatais preocupam os cidadãos, que por vezes culpam o governo por falta de estrutura. Mas, vindo do Brasil e comparando a infraestrutura dos dois países, vejo um abismo enorme. As estradas são ótimas, sinalizadas e seguras. Como o país é pequeno, muita gente se locomove através das estradas, e isso gera um enorme fluxo de automóveis. Entretanto, entendo que, se tomassem mais cuidados (sinalizar com seta, aguardar o momento certo de ultrapassagem e até mesmo estacionar corretamente), muitas vidas seriam poupadas.
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8 – Se você é judeu, enfrentará problemas comuns de qualquer imigrante. Mas se você não é judeu e quer se mudar para Israel, prepare-se. E muito, pois não será fácil. Como turista você poderá ficar no máximo até seis meses. Se tiver um visto de trabalho ou estudo, a situação é melhor. Mas se não tiver nenhum deles e ainda assim quiser realizar seu sonho de morar na Terra Santa, tenha em mente que será muito difícil e terá muito obstáculo para enfrentar, pois o Estado de Israel foi criado para receber os judeus e seus descendentes que estão espalhados pelo mundo.
Um abraço!
15 Comments
Acabei de voltar de uma viagem de férias a Israel e é bem isso que a Priscila expõe no texto. Mas de fato é um país fascinante.
Muito obrigada Avany. E você está certa, apesar dos desafios, Israel é um país fascinante. Espero que volte!
kkkkkkkkk rindo muito com alguns costumes deles ex. a paciencia
Acho que me adaptaria mais ou menos facilmente aos empecilhos mostrados em seu post. Claro, se tivesse algum traço de sangue judeu em minhas veias, o que não é o caso. Porém, a questão das filas, para mim, seria intransponível. Há duas coisas que odeio na vida. A primeira é ter que entrar em uma fila, mas, se eu entrar, a respeito custe o que custar. Portanto, a segunda coisa que mais odeio é suportar gente querendo furar uma fila. Assim, se fosse morar em Israel, eu não duraria muito tempo, pois não toleraria aguardar 2 horas em um local e depois ver pessoas que acabaram de chegar conseguirem, sem nenhuma justificativa plausível, ser atendidas primeiro. Eu chegaria às vias de fato todos os dias.
Francisco, obrigada pelo seu comentário. De fato, a questão das filas é bem complicada por aqui. Também me irrito bastante, pois eles não sabem (ou não querem) se organizar. Tem que ter muita paciência! Mas, felizmente, há outras atitudes deles que compensam, como a generosidade. Se precisar, eles oferecem a própria casa, comida, etc. Não há lugar perfeito, não é mesmo? Continue acompanhando meus posts. Abraço!
Shalom Priscila.
Meu avô me contou que ele era descendente de judeu, é difícil conseguir a nacionalidade israelense?
Do jeito que algumas cidades brasileiras estão acho que a questão da guerra seria adaptável, até porque com as sirenes, os abrigos e toda a preparação que a população recebe, a sensação que tenho é de que tudo o que é possível ser feito, tem sido feito. Ao contrário da guerra urbana que vivemos atualmente no Brasil.
Priscilla sou estudante de direito aqui no Brasil, tenho fé judaica, apesar de minha família ser cristã católica ou protestante, e moro na Bahia em uma cidade extremamente cristã no modo inconsciente de viver e ser. Não possui sinagogas em minha cidade, o mercado de trabalho, a comida e o estilo de vida não é nada kosher. Quero morar em Israel pra conseguir viver de modo judaico, desde as festas aos costumes, tu acha que vale a pena esse esforço, e para trabalhar em israel como um profissional do direito, com um diploma brasileiro, o que tu acha? e para estrangeiro abrir comercio em Israel no setor alimentício? é muito burocrático o país? acerca dos impostos, qual a tua impressão comparado ao Brasil?
Priscila,
Aqui no Brasil, um turista fica no máximo 3 meses. E é assim em quase todo mundo. Por que Israel deveria ser diferente nesse aspecto?
Vc disse q houve muito pânico em todo o país na última guerra de Gaza. O que vc não viu é que, enquanto no Brasil, morrem 60 mil assassinadas por ano, proporcionalizando a taxa brasileira para a população de Israel, 30x menor, daria 2.000 pessoas/ano no Brasil, mas em Israel, mesmo contando todas as vítimas de guerras, terrorismo e homicídios, não morrem nem 1/10 disso por ano. A vida humana tem um valor diferente lá. Aqui, nada vale.
Finalmente, vc acha o israelense ríspido. Muito melhor ser verdadeiro e ríspido, do que falso e suave.
A sexta como um meio dia de trabalho e o sábado como um dia de descanso é exatamente o mesmo que ocorre no Brasil no sábado e no domingo. Muito embora o shabat não seja apenas um dia de descanso. É um dia para fortalecermos nossa conexão com o Eterno, com nossos familiares, com nossos amigos.
Quem dera o brasileiro aprendesse com o israelense como lidar com a violência humana. Lá, os violentos estão perdendo a guerra. Aqui, está ganhando.
1 – Conviver com a tensão permanente de ataque terrorista: Não conheço UM israelense sequer que vive tenso com ataques terroristas. Agora, conheço um monte de brasileiro que vive tenso com a violência, principalmente o carioca.
2 – Alto custo de vida: Aqui no BR não somos roubados pelo Governo. Já aí vemos o retorno dos impostos. A gasolina aqui já beira os R$ 5,00. E o salário mínimo é de R$ 960,00. Em Israel é R$ 5600,00. Faça a matemática e veja quem se ferra mais.
3- Aprender o idioma: Nisso você tem razão.
4 – O estilo e jeito bruto e direto do israelense (obviamente há exceções): Como nosso amigo Hélio comentou, “muito melhor ser verdadeiro e ríspido, do que falso e suave.”. Mas isso é subjetivo pois tem gente que prefere ser bem tratado, mesmo sendo falso. Ok.
5 – Paciência é uma palavra que não se sabe o significado aqui: Concordo em termos.
6 – A semana inicia-se no domingo: com o tempo se acostuma, não é o fim do mundo.
7 – Dirigir é um teste de paciência: posso afirmar que o teste de paciência é dirigir no Rio. Em Israel, as estradas parecem um tapete de tão bem cuidadas que são. O que irrita é a maneira que o israelense estaciona seu carro, chega a ser surreal.
8 – Se você é judeu, enfrentará problemas comuns de qualquer imigrante: Sim, é preciso se encaixar na lei do retorno para se fazer alyah para receber toda ajuda do Governo, coisa que nenhum País do mundo faz. Nos outros países você precisa pagar uma fortuna para conseguir o visto para viver lá, sem ajuda alguma!
Priscila, você tem um post sobre as coisas boas de Israel?
Olá,
A Priscilla Yosef parou de colaborar conosco.
Obrigada,
Edição BPM
Tipo uma piada isso né? Eu vivo na Palestina, os unicos inimigos é Israel tentando invadir as terras.
Priscila, Sou jornalista e de família judaica e por indicação de amigos estou pensando em fazer um intercambio do Masa para Tel aviv durante 5 meses. Você conhece pessoas que tenham feito? Eu falo um pouco de inglês mas faço aulas particulares e a ideia é aperfeiçoar o idioma e claro, como boa jornalista, aprender outro na bagagem hahaha no caso o hebraico!
Olá Stephani,
A Priscilla Yosef parou de colaborar conosco, mas temos outra colunista em Israel chamada Aline Rod que talvez possa te ajudar.
Você pode entrar em contato com ela deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM
Olá sou Moisés! Sou descendente de uma família judaica e sigo todas as tradições do meu país.
Como q faço mora e estudar e trabalhar no país??