Pontos negativos de Berlim
Chegando o inverno e aquela hora de se questionar: “por que mesmo eu me mudei pra Alemanha e, mais precisamente, para Berlim?”. Sim, é difícil, como dizem, ainda que eu goste de frio e não me incomode de andar encapotada dos pés à cabeça. Mas será que, com exceção do clima, tudo mais em Berlim é lindo e maravilhoso, como a imagem idealizada que as pessoas tem na cabeça de viver em um país no norte da Europa? Não exatamente! E vou contar por quê.
Quando me mudei no fim do ano passado para Berlim, apesar de ter amado a cidade logo de cara, encontrei alguns aspectos que me incomodaram um pouco e que, mesmo me adaptando, às vezes incomodam. E que aspectos seriam esses? Ainda que essas razões sejam pessoais, já encontrei muita gente que concorda com elas, e espero que sejam dicas úteis para vocês que pensam em se mudar pra cá.
Nos primeiros passos de qualquer mudança as dificuldades iniciais fazem a gente sentar no chão e chorar, literalmente. Tudo parece muito difícil, a busca do apartamento, o início da morada, as burocracias e papeladas. Tratando-se de Alemanha, e mais especificamente de Berlim, pode apostar que esses passos serão ainda mais complicados. Conheço gente que se mudou aqui, em um período de 6 meses, para 3 ou 4 lugares diferentes! Fora os valores de aluguel que tem aumentado a cada ano e o famoso “anmeldung”, registro de endereço quando mudamos para algum lugar aqui (confira texto publicado no BPM com primeiros passos em Berlim).
Daí vem o segundo ponto: a inconstância da cidade. Como uma das maiores capitais na Europa, Berlim recebe diariamente dezenas de pessoas em busca de uma nova vida ou apenas de novas aventuras. E, do mesmo jeito, outras dezenas de pessoas se mudam daqui diariamente. Desde que comecei a trabalhar já me despedi de mais gente do que podia imaginar. Do grupo de 12 pessoas com quem iniciei o treinamento na empresa, metade já foi embora da cidade, voltando para seus países de origem ou para a cidade onde moravam antes. Haja festinhas de despedida!
Outro ponto que certamente desencoraja muita gente de se mudar para cá, ou desistir no meio do caminho, é a língua. É possível se virar na cidade com inglês, mas certamente a luta é bem maior por um lugar ao sol, um emprego decente e um salário ideal. Falar alemão não é essencial, porém conta pontos em diferentes profissões, as quais sem a língua nem adianta tentar buscar nada. E me corrijam se eu estiver enganada, mas infelizmente, nunca conheci ninguém que saiu falando alemão fluente em menos de dois anos.
Leia também: tudo que você precisa saber para morar na Alemanha
E o que dizer do povo alemão? Não concordo inteiramente em dizer que os alemães são grossos e que é impossível fazer amizade com eles. Nesse tempo aqui, já conheci muitos alemães simpáticos e abertos a conhecer gente de fora. Mas também não posso dizer que todos são pessoas doces e amigáveis. Tem sim muito alemão grosso e mal-humorado, principalmente por ser uma cidade grande e com gente estressada como em qualquer outra capital. Mas eles tentam!Para mim, pessoalmente, pior do que gente mal-humorada, é gente que bebe muito e se torna desagradável e até violenta. Berlim é uma cidade de vida noturna intensa e também com um grande nível de alcoolismo. As bebidas aqui são super baratas (mais barato beber cerveja do que água ou refrigerante, por exemplo) e é permitido beber em quase todo lugar. E ainda que seja proibido beber nos transportes públicos, por exemplo, não há cena mais comum do que gente bebendo nas estações ou nos trens. Não é apenas a bebida que dá essa cara de “party hard”, a cidade tem uma atmosfera meio “dark”, principalmente no inverno, com os dias terminando às 4 da tarde, ruas pouco iluminadas e festas de música eletrônica regadas a álcool e drogas, em que só se permite a entrada de pessoas vestidas de preto e com aparência “gótica” ou excêntrica.
Para completar a imagem “dark” da cidade, cacos de vidro e garrafas (também por conta do “Pfand”, saiba mais aqui) são vistos comumente na rua, em diversas partes da cidade, fora o cheiro de xixi das estações e lixo espalhado no chão. Sim, Berlim é uma cidade suja! Esqueça a imagem de vilazinha alemã, organizada e limpinha. A capital da Alemanha pode te surpreender, no quão suja, caótica e barulhenta ela pode ser. Mas, obviamente, há bairros mais limpos e organizados do que outros. E o caos faz parte de qualquer grande capital ou metrópole mundial.
O destaque para a cidade no cenário mundial, e as lutas políticas e de imigração, também levantam um outro aspecto que pode afastar as pessoas da ideia de morar em Berlim: o risco de ataques terroristas. Berlim é uma das capitais mais abertas e misturadas da Europa, com gente de todo o mundo vivendo aqui. Ao mesmo tempo que isso é lindo de se ver, porque há uma certa harmonia na convivência, a cidade é alvo de ataques daqueles que querem destruir essa paz de diferentes povos vivendo juntos em um mesmo lugar. Me sinto mais segura aqui do que vivendo no Brasil, mas basta ver uma mochila perdida por aí e já imaginamos que pode ser uma bomba prestes a explodir…
Para finalizar, um último ponto que pode ser bem controverso: impostos. A Alemanha é um país que cobra impostos altíssimos e quanto mais você ganha, mais impostos você paga (o que não deixa de ser bem justo). Isso pode ser sim considerado um ponto negativo da cidade e do país. Mas será que o retorno que se tem ao pagar tantos impostos não é válido? Depois de um ano vivendo em Berlim, ainda não “colhi” muitos frutos, mas aos pouquinhos vou conhecendo gente e casos que mostram que o que pagamos em algum momento é retribuído de diferentes maneiras. Comparando com Brasil e Grécia, não há dúvidas de que o retorno aqui é muito maior.
Negativos ou não, dependendo da perspectiva de cada um, esses fatores fazem de Berlim a cidade que é e levantam sentimentos contraditórios nas pessoas. Ainda assim, amo a cidade desse jeitinho e não mudaria nada!