Quando morava no Brasil, eu sempre me senti não pertencente. Nunca concordei com o jetinho brasileiro, gosto de regras e senso de justiça. Também não sou o esteriótipo de mulher sarada das academias. Não sou muito chegada num samba, pagode e nem sertanejo. Durante o Carnaval prefiro viajar para algum lugar bem longe da farra. Com isso, sempre tive comigo que não era lá muito brasileira. Porém, foi morando no exterior que descobri que sim, sou muito brasileira, latina, e não há vergonha nenhuma nisso.
É incrível ser brasileiro no exterior. Toda vez que falo que sou brasileira, a resposta é um sorriso alegre, e às vezes curioso, como se fôssemos um misto de exotismo (florestas, natureza, vida livre) com conhecimento (morando fora, falando inglês e vindo de uma das maiores capitais do mundo).
Brasileiros falam alto, com paixão, têm brilho no olho. Alguns se incomodam com esse “calor” nosso (às vezes até eu quando vejo um grupo de brasileiros barulhentos no metrô), mas outros muitos admiram e acham interessante.
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Quanto a ser mulher e brasileira, não tem como escapar do misticismo que se criou em torno da gente. O tom bronzeado da pele, mesmo quando acho que estou branquela, se destaca dos europeus. Até o jeito de andar é diferente! Quando contei que tinha feito cirurgia plástica no nariz para uma amiga daqui, ouvi dela: “nossa! típico de brasileira”. Nunca tinha parado para pensar que até isso entra como esteriótipo. Para ficar mais claro, apenas faça uma busca no google imagens por “mulher brasileira” e depois “mulher inglesa”, e você verá a diferença de percepção. Na maioria das vezes, culpo o próprio Brasil por exportar esse ideal de beleza para o mundo, nas propagandas e filmes. Essa é a imagem que transmitimos. Fazer o quê?
Ao invés de negar minhas origens, passar a falar mais baixo (juro que tentei, mas não dá!), não cumprimentar amigos com beijos e abraços, e me vestir de maneira mais “recatada”, que não desse indícios da minha brasilidade, decidi aceitar.
Não foi fácil. Vir para Inglaterra para me sentir brasileira não estava nos meus planos. Contudo, entendi que talvez eu seja a chance de mostrar um outro lado da mulher brasileira para o mundo (começando pelas pessoas mais próximas). Sim, somos vaidosas e preocupadas com a beleza, mas não fúteis. Estudamos e trabalhamos muito para conseguir o que queremos. Família e amigos são bens que não abrimos mão. E quem não gosta de ouvir uma risada verdadeira quando alguém conta algo engraçado?
Aqui também descobri que o sangue quente corre na veia dos nossos amigos italianos e espanhóis, que também falam alto, gostam do calor e, mais importante, abraçam os amigos sem precisar de motivo. Tive a sorte de dividir o ano de mestrado com dois deles, e fez eu me sentir mais próxima do Brasil, mesmo que com gringos.
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Ser brasileiro é ficar duas horas na fila de espera da votação para presidente e fazer amizade com as pessoas ao seu redor. Saber quando vieram, onde moram, como conseguiram visto e quantas vezes voltam ao Brasil por ano. É acenar para o jurado do Master Chef, quando o vê dentro de um restaurante, e receber um brinde “no ar” como resposta, enquanto todos a sua volta só viam e comentavam baixo que ele estava ali. É ir na loja de comidas brasileiras e ficar feliz da vida comprando goiabada, guaraná e pão de queijo.
Com orgulho, viciei meus amigos e namorado em brigadeiro.
No ano passado, tive a chance de assistir a um jogo de futebol do Brasil pela primeira vez, em Londres. Sentir aquela energia e vibração da torcida foi emocionante. Foi ali que entendi que sim, temos um jeito diferente de andar, falar, comemorar, e que eu sou verdadeiramente brasileira, com muito orgulho e com muito amor.