Proibição do uso de sacolas plásticas no Quênia
Em agosto de 2017 entrou em vigor a lei que promove o banimento das sacolas plásticas no Quênia. Fui de viagem para passar férias no Brasil e quando voltei, minhas vizinhas e amigos só sabiam falar sobre o que fariam com os resíduos do lixo, uma vez que até os sacos de lixo foram banidos.
A proibição pegou a todos de surpresa, apesar de sabermos que a discussão sobre o uso das sacolas plásticas vinha sendo feita, ninguém imaginou que a implantação da lei seria de forma tão rápida e que inclusive os sacos de lixo daqueles pretos, seriam banidos.
Eu morava em Curitiba quando vivia no Brasil, então para mim, era natural a separação do lixo, prática esta, incorporada nas famílias de Curitiba desde que eu era criança. Quando a lei no Quênia foi aprovada, acreditei que junto viriam as ideias sobre reciclagem e separação do lixo. Seria lógico banirmos todos os tipos de sacolas plásticas e reciclarmos o restante, algo que facilitaria muito o descarte dos resíduos, uma vez que agora não teremos mais nada para colocar a quantidade massiva de lixo que uma família produz. Infelizmente não foi o que aconteceu.
Mesmo fazendo a reutilização dos potes e garrafas pets, comprando em embalagens biodegradáveis e alimentando-me de forma mais natural possível, após o banimento das sacolas, me dei conta da quantidade impressionante de lixo que eu e minha família produzíamos e agora tinha o agravante de que, do dia para a noite, não saberia o que fazer com isso. Nem eu e nem ninguém no Quênia sabíamos como carregar os nossos dejetos até o caminhão de lixo. Eu tenho consciência que a destinação do lixo não termina no caminhão de lixo, mas até hoje, não nos foi dado alternativa sobre o que fazer com os resíduos que produzíamos. Algo para pensarmos.
Considerada uma das leis mais rígidas contra o plástico existentes no mundo, a lei prevê que o uso, venda ou fabricação de sacolas plásticas podem levar a uma prisão de até 4 anos ou a uma multa equivalente a 40 mil dólares. O simples ato de andar pela rua carregando uma sacolinha de plástico geraria uma multa de até 10 mil dólares. Eu vi, na rua onde moro, uma senhora ser abordada por um grupo de policiais e ser ameaçada de ir presa caso continuasse a usar a sacola plástica.
A ideia da proibição em si, me pareceu excelente, afinal o Quênia, assim como o mundo, afunda-se em plástico. Somente uma medida assim poderia realmente reduzir o consumo e a poluição por plástico. A questão é que, a meu ver, da forma que foi feita de uma hora para a outra, não nos deu alternativa nem criaram-se maneiras para descartar o lixo. Não existem sacolas biodegradáveis, estações de reciclagem e nem separação consciente do lixo. Ou seja, houve o banimento, mas não houve nada para educar a população sobre a reutilização e reciclagem do restante dos recipientes plásticos.
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Em minha casa comecei a guardar toda e qualquer caixa de papelão para poder servir como alternativa aos sacos de lixo. Pacotes de arroz (de plástico), pacotes que acondicionavam papel higiênico (também de plástico) e potes diversos foram reciclados para virarem contêineres de lixo. Sacos de papel e embalagens diversas foram reutilizadas das mais diversas formas. Então me pergunto, apesar da ideia ter sido excelente, será realmente que foi a mais acertada? Porque não educar e criar empresas recicladoras de lixo, que além de ajudarem ao meio ambiente gerariam empregos para a quantidade de desempregados que há por aqui? Como fazer para consumir alimentos que vinham embalados de forma inadequada e ainda assim utilizavam-se de sacolas e bolsas plásticas para serem vendidos? O que fazer com a imensa quantidade de garrafas pets existentes?
As verduras pré lavadas, por exemplo, já não vinham mais em sacolas plásticas. Excelente, deve estar pensando você que lê o meu texto, mas na realidade elas deixaram de ser embaladas em sacolas plásticas para serem embaladas em contenedores PET, um material, a meu ver, muito mais caro e difícil de ser rejeitado do que as sacolas. A água continua sendo vendida em garrafa pet e as indústrias continuam embalando o arroz e o feijão em sacos plásticos.
Acredito que o Quênia tentou, de maneira desajeitada, acertar na medida, mas errou na forma como foi executada. Ao deixar as pessoas sem alternativas para despejarem seus rejeitos, criaram-se imensos depósitos de lixo orgânico. Em algumas ruas e favelas de Nairóbi, as pessoas começaram a jogar seus lixos diretamente nas ruas, por não terem alternativas para embalar o lixo e depositar no lugar adequado, criando grandes focos de proliferação de ratos e baratas. Pessoas com acesso à água, começaram a jogar restos de comida na rede de esgoto, através dos vasos sanitários, ou levando os restos diretamente aos latões de lixos dos seus condomínios luxuosos e daí jogados diretamente nos caminhões de lixo. Lembrando que o lixo não é separado entre orgânico e reciclável! Enquanto isso as favelas continuam se afundando em um mar de garrafa pet, que poderiam gerar uma renda para a imensa massa pobre que existe por aqui.
Quando a lei entrou em vigor, cerca de 40 mil postos de trabalho foram fechados ao serem encerradas as fábricas de sacolinhas plásticas. Tudo bem, pode pensar você, mas em um país aonde a taxa de desemprego é de 40% este corte de 40 mil postos de trabalho foi uma medida extremamente perigosa e impopular. Deixo aqui uma dica, poderia o governo financiar empresas recicladoras de lixo e assim compensar em parte os 40 mil postos perdidos. Medida que, de quebra, resolveria o nosso problema de não sabermos o que fazer com os plásticos que, inevitavelmente, teremos ainda que produzir.
Apesar de ter exposto os contras de uma proibição sem um mínimo de planejamento consciente, acredito que o caminho da proibição do uso de sacolas plásticas é uma via que todos os países deveriam tomar e creio que seja uma grande solução para a imensa quantidade de lixo que produzimos. Convido todos que leram este texto a pensarem mais sobre os resíduos que produzimos em casa e nas formas que podemos reutilizar e reciclar o lixo, mesmo em lugares onde esta reciclagem é feita de forma constante.