Infelizmente os números de mulheres que sofreram e sofrem assédio é muito mais alto do que imaginamos. Quando pensamos que só acontece com as outras, nos enganamos e podemos vir ser a próxima vítima.
Não podemos nos calar mais, depois dos últimos eventos no Brasil temos que verbalizar o que nos está preso na garganta:
- Mulheres devem ser respeitadas sempre, apesar de parecer algo tão simples, é ainda necessário relembrar alguns homens
- Não quer dizer NÃO
- Não me toque sem meu consentimento
- Não pense que lê os meus pensamentos
Abaixo seguem relatos de várias colunistas que foram vítimas, no Brasil e no mundo, de assédio ou algo pior.
Cristina – Romênia
Ano 2000, São Paulo, barzinho frequentado por jovens abastados, na Vila Olímpia. Estava eu lá, espremida na espera do bar. Atrás, um homem mais velho do que a média, se apertava às minhas costas. Foi tudo muito rápido. Senti um mexer estanho e uma coisa quente e gosmenta na saia. Quando me dei conta do que se tratava, ele já havia desaparecido. Acompanhada das amigas, fui ao banheiro e confirmei o acontecido: ele ejaculou em mim, tranquilamente, no meio do bar. O que senti? Uma raiva imensa e um nojo sem tamanho. Procurei o segurança do local, e aí veio o sentimento de impotência. Contei o que tinha acontecido. Apontei o agressor. O que ele fez? Me olhou com desdém e disse que era melhor eu ir para casa. Eu fui, morta de ódio, enquanto ele ficou, provavelmente à procura de outra vítima.
Vanessa – Dando a volta ao Mundo
Geralmente, quando estou em situações de alto risco, paraliso. É involuntário. E não foi diferente quando fui assediada pela primeira vez num trem lotado da capital do RJ, indo para o estágio. Eu tinha 15 anos. Lembro-me como se fosse hoje da minha lágrima escorrendo. Tive medo, pavor de reagir. Sequer olhei para trás para ver a cara do tarado, que esfregava o seu genital molhado na minha calça. Nojo, vergonha e impotência, eu senti. Paralisada, aguentei calada aquela situação e outras mais. Hoje, após 23 anos, vejo que o abuso continua, mas o silêncio não! O nosso grito é contra a impunidade. Se a lei não prevê este tipo de crime, lutemos juntas para que seja estabelecida uma.
Juliana – Japão
Acredito que como toda mulher, as situações de assédio foram mais recorrentes do que eu gostaria de contar. No transporte público, todos os dias precisava me apertar nos cantinhos e sempre evitei sentar no corredor, já que era quase certeza que seria importunada por pessoas de pé. Já tive que sair correndo na rua de medo, já tiraram uma foto minha dormindo no ônibus, e mais de uma vez entrei em lugares que eu não queria só pra me livrar de um assédio. Além de, claro, sempre fazer amizades nos banheiros femininos quando tem um cara perseguindo, só pra dizer que estou acompanhada. Até aqui no Japão já aconteceu. Roubaram roupas minhas que estavam no varal, um homem perguntou ao meu marido se poderia passar uma noite comigo porque nunca havia ficado com uma brasileira e, talvez o que tenha me dado mais medo: um homem ficou por meia hora tentando entrar no meu campo de visão, mesmo que eu mudasse de lugar ou de posição, pra me falar obscenidades. Quando eu me levantei, ele fez o mesmo e precisei chamar o meu marido para que ele parasse. Fiquei muito assustada.
Ana – Áustria
Tarde fria em Porto Alegre. 22 anos, sozinha na parada do ônibus, recebo o anúncio de um assalto. Homem jovem, maior que eu – e eu tenho 1,80 de altura -, coloca o braço sobre o meu ombro e ordena: “continua caminhando e não pia, senão arrebento a tua cara, porque sou ex-presidiário e não perco nada”. Após furtar meus pertences, ele nos direciona a um lugar totalmente ermo. Ali, despiu-se, perguntando: “tu queres com ou sem camisinha?”. Horrorizada, gritei um sonoro “não”, já que as aulas de Direito Penal sobre estupro assim ensinavam. Não suficiente, o criminoso declarou: “bom, tu já viu bastante a minha cara. Agora vou ter de te matar.” Eu sou advogada e qualquer um sabe o que os criminosos fazem quando encontram policiais e advogados em uma situação assim e o que me denunciava era um livro de Direito que tinha pego emprestado. Então, além de ser mulher eu era mulher-advogada. Ele mandou que me ajoelhasse. Eu disse novamente “não”. Após eternos minutos de intensa conversação, ele desistiu (creio que estivesse totalmente drogado), não me tocou e ainda me deu dinheiro para pegar o ônibus de volta para casa. Fui direto à delegacia e descrevi tudo o que passei. Nunca fui chamada para posteriores acompanhamentos do caso. Recebi o apoio da minha família e dos amigos/as; fiz um mês de terapia e tudo voltou à normalidade. A única surpresa veio de algumas mulheres do meu círculo profissional questionarem o por que de eu não ter reagido. Sem comentários.
Vivian – Polônia
“Aconteceu comigo aos 12 anos no ônibus: um cara falando comigo sentado atrás mim e eu muito inocente, no começo da conversa, respondendo. Não me virava para trás pra “conversar”, de alguma forma, mas sabia que algo estava estranho. Quando ele começou a alisar meu braço eu gelei, só rezava pra ele não descer no meu ponto. Ele desceu antes. Não sei como consegui descer do ônibus, minhas pernas estavam muito bambas. Nunca contei pra minha mãe, mas ela sempre me alertou desde cedo: nunca converse com ninguém, nunca deixe ninguém te tocar. Antes, aos 8, o pai de uma amiguinha uma vez pediu pra sentar perto dele, quase no colo, me beijou na bochecha e alisava meu braço. Acho que foi uma das sensações mais asquerosas que já senti. Saí de perto e sempre que o encontrava, falava oi, mas nunca mais fiquei próxima sozinha dele. Eu tinha 8 anos e ainda lembro dessa defesa, minha mãe já tinha conversado comigo. Passei a adolescência escondendo meu corpo magro sob camisetões e calças largas. Mesmo assim, outra vez, aos 15, um cara me seguiu na rua, no começo caminhando, mas como já tinha esse radar acionado, comecei a correr. Ele também correu e falava que ia me pegar de qualquer jeito. Quando adulta, ao ir pro trabalho, um cara já tentou me encoxar na linha vermelha (metrô de SP), outra vez não percebi que um cara, de repente, começou a passar a mão no meu ombro. Eu fiquei sem reação e a mesma sensação de nojo. Quando tive forças para sair da letargia, a porta se abriu na estação da Sé e ele correu. Estou escrevendo isso agora, aos 37 anos, ainda tremendo e com o coração apertado, mas ao mesmo tempo, aliviada por ter encontrado e ouvido outros casos. Não estou só, nunca estaremos.
Juliana – Turquia
Já fui assediada em um metrô em Londres, no Brasil, e nas ruas de Istambul, algumas vezes, mas gostaria de falar sobre uma em específico, pela forma como ela foi resolvida. Eu estava voltando para casa e percebi que era seguida, fiz aqueles testes básicos: mudar caminho, entrar em algum lugar, mas ainda assim, ele continuava lá, medo! Continuei meu caminho, parei em um café e sentei à mesa de um rapaz sozinho. Expliquei o que estava acontecendo e pedi discrição dele, depois de alguns minutos o stalker passou, voltando ao seu caminho, e olhando para trás. Nada aconteceu, mas e se eu não tivesse percebido em tempo? E se não houvesse aquele café? E um homem sentado ali? Fugir de assédio/situação constrangedora usando homem como desculpa é insuportável!
Daniela – Portugal
Um colega meu de pós-graduação me deu carona uma vez. Já passava das 22h. Parou em uma rua deserta e perguntou se eu gostaria de fazer sexo oral nele. Diante de uma situação dessas, em que a gente não espera isso, eu ri ironicamente e recusei educadamente. Na época nem me dei conta do ocorrido. Fiquei incomodada mas não fiz nenhum tipo de denúncia ou dei uma resposta mais incisiva.
E você, leitora do Brasileiras pelo Mundo, que passou por algo parecido, divida a sua história. Você não está sozinha!
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Em um shopping center na Índia, ele com uns 17 anos de idade, fez tremer a mulher segura e determinada de 35 anos com simples perguntas como ‘qual o seu nome?’ e ‘de onde você é?’. Perguntas que são feitas a todo momento se você é uma estrangeira branca por aqui, que eu já estou acostumada a responder e nem incomodam mais e que eu costumo responder com um sorriso no rosto. Mas desta vez não. Sem a ‘proteção’ do meu marido ao meu lado, por já ter passado por outras duas situações no Brasil quando eu tinha uns 16 anos, o modo sobrevivência foi acionado no meu corpo. As conhecidas sensações de pavor, palpitação, frio no estômago, pernas bambas e boca seca estavam presentes, e assim que você sai da situação de vulnerabilidade só resta a raiva de tudo aquilo, a revolta de saber que a última vez pode não ser realmente a última.