Relatos sobre o peculiar inglês australiano.
Grande parte dos brasileiros que conheci aqui em Sydney chegaram na cidade sem dominar a língua inglesa. Vieram “na cara e na coragem”, com o objetivo de aprender o idioma da forma mais válida, porém mais desafiadora: no dia a dia. Eu admiro demais quem tem essa coragem, mas não foi o meu caso, pois conheço bem minhas limitações. Vamos dizer que, para mim, mudar de país, por si só, já é uma experiência e tanto, portanto eu preferi passar por esse processo todo em um país onde eu fale um pouquinho do idioma local. Até eu chegar aqui, já havia estudado, pelo menos, 5 anos de inglês no Brasil e ainda morei alguns meses no Canadá, portanto a comunicação não deveria ser um problema, certo? Errado. Aqui é Austrália, e o inglês deles é algo bem diferente do que estamos acostumados por aí.
O principal ponto é que temos uma influência bem grande dos EUA no Brasil, e isso impacta a forma como aprendemos o inglês, é claro. Aliás, se tem uma coisa com a qual eu sofri um choque cultural na Austrália foi com relação à pouca influência que a terra do Tio Sam exerce por aqui. Como minha outra experiência fora do Brasil havia sido no Canadá, que é um espelho dos EUA em muitos aspectos, eu naturalmente imaginei que aqui também seria assim. Mas hoje vejo que essa conclusão foi de uma ingenuidade imensa da minha parte, afinal, mais de 15.000 km de distância separam os dois países, então por que eles seriam parecidos? Não faz muito sentido, né? Mas enfim, isso é tema para um outro texto!
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Voltando ao principal: não, não foi fácil entender os amigos aussies falando. Claro, com o tempo a situação melhorou e a cada dia melhora um pouco mais, porém às vezes ainda tenho dificuldades para entender uma ou outra frase. E, sim, se eles quiserem que a gente não compreenda nada que estão falando, pode ter certeza que conseguirão. Mas pensando bem, o mesmo acontece no nosso amado português. Vai dizer que se a gente falar com as milhares de gírias e expressões da nossa rica língua, um estrangeiro com alguns meses ou poucos anos de estudo vai entender? Claro que não! Muitas vezes eu não entendo o que meus amigos de outros estados dizem, imagina em outra língua?! Hahahaha.
Deixando o blá-blá-blá de lado, vamos a 3 exemplos de por que o tal inglês australiano é bastante peculiar:
1 – Australianos abreviam tudo. Sim, T-U-D-O. Quer um exemplo prático? O famoso McDonald’s. Por aqui o nome é outro: Macca’s. Não há quem diga McDonald’s, inclusive a própria marca, que usa o apelido carinhoso nas propagandas de TV e afins. Mas não para por aí. Dá uma olhada na listinha de alguns pouquíssimos exemplos de palavras abreviadas pelos amigos da terra do canguru:
Palavra em português | Palavra em inglês | Abreviação australiana |
Tarde | Afternoon | Arvo |
Abacate | Avocado | Avo |
Café da manhã | Breakfast | Brekkie |
Posto de Gasolina | Petrol Station/Service Station | Servo |
Óculos de sol | Sunglasses | Sunnies |
Para ilustrar de forma ainda mais real, vamos pensar em uma frase completa, por exemplo, é fim de semana, e um amigo te convida para tomar um café da manhã tardio no McDonald’s, tipo lá pelas 15h. Em inglês puro e simples, você diria algo do tipo: “Hey mate, let’s have a late breakfast this afternoon at McDonald’s?” Já em inglês australiano seria: “Hey mate, let’s have a late brekkie this arvo at Macca’s?”
Parece outra frase, não parece? E, veja bem, aqui está escrito, agora imagina falado?! Antes que eu me esqueça, acrescentei o “mate” (lê-se “meit“) à frase porque é como eles se cumprimentam por aqui… todo mundo é mate, especialmente entre os meninos.
2 – O sotaque navega entre o inglês britânico e o americano. A palavra água, por exemplo, em inglês é water. No sotaque britânico, é pronunciado mais ou menos como “uóta”, ou seja, “WA” tem som de “UO”, “T” tem som de “T” e “ER” tem som de “A”. Já no sotaque americano, diz-se “uórer”, ou seja, “WA” também tem som de “UO”, mas o “T” tem som de “R”, e “ER” tem som de “ER”, porém o “R” diferente do meu, porque sou carioca e falo puxado meRRRRRmo… ehehehehehe. Já aqui na Austrália, meus queridos, a mesmíssima palavrinha é pronunciada “uóra”, ou seja, utilizando o “T” com som de “R” americano, porém o “ER” com som de “A” britânico. Deu pra entender um pouquinho da complexidade?
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3 – O vocabulário mais voltado para o inglês britânico que para o americano, ao contrário do que estou acostumada. Isso dificulta, por um lado, porque meu vocabulário de inglês é 100% americano, porém tenho descoberto que o inglês britânico tem muito mais palavras próximas ao português que o americano, então entender pelo contexto é mais fácil que eu pensava. Algumas vezes, entretanto, a palavra (ou o apelido) é exclusivamente do inglês australiano. Vamos a alguns exemplos:
Português | Inglês americano | Inglês britânico | Inglês australiano |
Posto de Gasolina | Gas Station | Petrol Station | Petrol Station / Service Station / Servo |
Batata frita | Fries / French Fries | Chips | Chips |
Batata tipo Ruffles | Crisps | Crisps | Chips |
Metrô | Subway | Tube | Train |
Chinelo | Flip-Flops | Flip-Flops | Thongs |
Elevador | Elevator | Lift | Elevator / Lift |
Balas | Candies | Sweets | Lollies |
Algodão-doce | Cotton Candy | Candy Floss | Fairy Floss |
Loja de bebidas alcoólicas | Liquor Store | Off-license | Bottle Shop/Bottle-O |
Cabe uma atenção especial para a palavra “chinelo”: como descrito na tabela acima, aqui na Austrália eles chamam de “thongs“, e esta mesma palavra no inglês norte-americano e britânico significa nada mais nada menos que aquela calcinha estilo tanga, ou fio-dental! Imaginem a quantidade de situações engraçadas que um mero chinelo pronunciado por um australiano pode causar!!!
Esses são só alguns poucos exemplos dessa nova língua que tenho aprendido por aqui. São várias novidades, mas é claro que vários pontos em comum também, pois no fim das contas, é tudo inglês. Espero que tenham gostado, e que eu tenha conseguido passar um pouquinho da riqueza que existe em uma língua, e como ela varia se mudamos a nacionalidade. Acho que esse é um dos principais motivos pelo qual eu sou simplesmente apaixonada por aprender novos idiomas!
Vou ficando por aqui, fiquem à vontade para deixar seus comentários. Nos vemos no próximo texto!
7 Comments
Ótimo texto, retrata bem as diferenças das línguas.
Parabéns!!! Texto muito interessante e esclarecedor!!!! ????????????????????????
Nossa, bem difícil amiga ! Pra mim, a língua mais fácil é o espanhol ! Adorei o texto com as curiosidades ! Escreva sempre ! ????????
Muito louco vivenciar as diferenças culturais dos países. Só mesmo experimentando in loco . Um dos bens que viajar nos proporciona.
Sensacional, little aussie girl!
Gostei do artigo. Sou Australiano (moro em Adelaide) e tenho estudado português há 6 anos (primeiro a variante brasileira mas hoje em dia a de Portugal). Acho que as diferenças entre o inglês australiano e o americano são mais ou menos as mesmas que entre o português do Brasil e de Portugal. Por exemplo, estou seguro em ouvir e entender um falante de portugual. Porém, tenho de dar muita atenção quando me encontro com o meu amigo brasileiro para tomar café ou usufruir de um churrasco. Mesmo então ainda tenho dificuldades em entender tudo. Espere até ir morar num país como a Escócia ou a Irlanda, onde as diferenças são até maiores.
Oi Ralph,
Obrigada pelo comentário, fico feliz em saber que você gostou do artigo! Com certeza, o inglês da Escócia ou Irlanda também têm muitas particularidades, já conheci pessoas dessa região, e o sotaque é muito forte!