“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do universo…Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer”. Concordo com os versos de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa: essa é uma terra gigante, repleta de história e belas paisagens. Impossível não se render aos seus encantos.
Foi ao constatar isso que resolvi destacar alguns lugares surpreendentes que o Minho esconde e quase ninguém conhece. Partindo de Braga, vamos conhecer a infraestrutura de Vila Nova de Famalicão. Em seguida, passear pelos milhares anos de história de Póvoa de Lanhoso, conhecer Vieira do Minho, Terras de Bouro e terminar a aventura em Amares, uma vila discreta, mas que merece entrar nesta listagem especial.
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Bom, já enrolamos demais. Vamos ao nosso passeio!
1) Famalicão:
Situada entre Braga e Porto, é a terra do escritor português Camilo Castelo Branco e uma das mais importantes cidades industriais do país, abrigando diversos tipos de empresas. É um belo lugar em que se conjuga tudo o que precisa para viver bem: natureza, paz, tranquilidade e conforto.
O ar melancólico de cidade pequena mistura-se ao cenário moderno e à boa infraestrutura que a cidade apresenta. Intitula-se a cidade do conhecimento e da cultura por abrigar a Casa-museu de Camilo, o Centro de Estudos do Surrealismo, o Museu de Bernardino Machado e o da Indústria Têxtil, uma de suas mais belas referências.
Como toda a região do Minho, a carinhosa e bem cuidada Vila Nova de Famalicão também reserva ao visitante raros e belos exemplares de arte românica, das quais as igrejas de Santa Eulália do Mosteiro de Arnoso, a igreja do Mosteiro de Landim e a igreja de São Tiago de Antas são os expoentes.
Como em todo o Minho, na Vila de Familicão também é possível se perder nas feiras de artesanatos, nas festas tradicionais e nas romarias que acontecem durante todo o ano. O carnaval é um dos mais agitados festejos da cidade, bem como a Festa Antonina, em honra ao santo casamenteiro. As marchas populares são o ponto alto dessa romaria, que mobiliza todo o concelho. É lindo de se ver e pedir, claro.
2) Póvoa de Lanhoso
Entretanto, se o que procura é história antiga, seu lugar é Póvoa de Lanhoso. O concelho foi criado em 1292 por D. Dinis, mas sabe-se que sua ocupação data de muitos e muitos séculos antes de Cristo. A vila guarda sítios arqueológicos de culturas megalíticas, de calcolítico, da idade do bronze e do povoado da idade do ferro. Além disso, resguarda inúmeros vestígios de presença romana.
Uma visita obrigatória é o Castelo de Lanhoso, um admirável exemplar da arquitetura militar medieval construído sobre um maciço rochoso e pertencente a um dos períodos mais conturbados da história de Portugal: a reconquista Cristã. O monumento evoca a memória de D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal.
Em meio à muralha que corta a pequena aldeia, o visitante encontra charmosas moradias construídas em pedra, restaurantes típicos de tirar o fôlego e muita, muita, natureza. Sugiro almoçar no ABBA (isso mesmo. O nome foi dado em homenagem ao grupo sueco), que fica a caminho de Póvoa. Os pratos portugueses são de comer rezando e acompanhe com um Alvarinho caseiro.
Depois, entregue-se ao turismo rural, o mais recomendado. Eu duvido que vá querer voltar à realidade!
3) Vieira do Minho
Essa é uma terra perfeita para quem curte a natureza. Seja no verão, para aproveitar seus rios, vales e trilhas nas montanhas; seja no inverno para brincar na neve. Por causa de sua posição geográfica privilegiada, a vila destacou-se pela importância militar no passado, sofrendo influência de Suevos e Romanos, bem como dos exércitos Napoleônicos no século XIX.
Como em toda a região do Minho, Vieira do Minho também preserva vestígios de antigos povos e da ocupação romana, principalmente a Serra da Cabreira, Salamonde e Ruivães. O turista terá contato com mamoas, menires, gravuras rupestres, fojos medievais, necrópoles neolíticas, castos, utensílios de barro, ferro e outros metais. Do período romano, encontra-se ainda fragmentos da via XVII do itinerário Antonino, que ligava Braga, Chaves e Astorga.
As paisagens são de deixar qualquer um de queixo caído. Uma boa pedida para quem gosta de ciclismo, campismo e esportes aquáticos. E, claro, para quem não dispensa uma boa cavalgada. E, por favor, ponha-se a conversar com os moradores locais. Não vai se arrepender. Vieira do Minho é um daqueles pequenos cantos do mundo que passa despercebido, mas quando entramos não queremos deixar de jeito nenhum.
4) Amares
Situado há poucos quilômetros de Braga, Amares é daqueles lugares próprios para quem busca paz e sossego. Com apenas 82 km², o município é cercado pelos rios Lima e Cavado e muito verde. O pequeno lugarejo destaca-se pelas belas quintas, vinícolas, restaurantes e spas. Seu patrimônio de Igrejas antigas e monumentos seculares, bem como os vestígios da ocupação romana, dão um charme especial à vila.
A dica é: aproveite os dias em contato com a paz e pratique canoagem, trilhas e passeios de bicicleta pelas trilhas locais. Estenda uma boa toalha às margens da Ponte do Porto, antiga ponte construída em granito com onze arcos desiguais e tabuleiros estreitos, que servia na idade média como o único meio de passagem pelo rio, abra um vinho e viva a experiência de ouvir o canto dos pássaros e o som da água do rio em contato com as pedras. Tenha um livro como companhia e, sem dúvida, sairá renovado.
Amares também oferece festas e romarias tradicionais, feiras e muito artesanato. Vale a pena conferir o Festival das Papas de Sarrabulho, conhecer os sítios históricos que rodeiam a cidade, como a Aldeia de Urjal, a Igreja do Caires, Igreja Paroquial de São Pedro da Portela, a capela de Santa Luiza, Castro de Outeiro, o miradouro Cruzeiro das Lajes e as quintas, parques e sítios arqueológicos de achados pré-históricos.
5) Terras de Bouro
Seguindo caminho, encontramos Terras de Bouro. À primeira vista, pode parecer estranho, mas com certeza já ouviste falar do Gerês. Pois a vila fica mesmo dentro do Parque Nacional da Peneda-Gerês, tendo seu traçado moldado pelas bacias do Cávado e Homem.
Para visitar Terras de Bouro, anote: vá ao santuário de São Bento da Porta Aberta, ao Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas, às termas locais, passeie pelo Parque Nacional, conheça as Albufeiras da Caniçada e de Vilarinho das Furnas; vá à fronteira da Portela do Homem, ao o Centro Náutico de Rio Caldo e à Água do Fastio.
Não perca os miradouros, as cascatas do Gerês e deixe-se encantar pelo Centro de Artesanato de Covide e de Brufe. Por fim, aproveite tudo o que o turismo rural desta região tem a oferecer: belas quintas, cavalgadas, passeios em trilhas, bons vinhos caseiros e, claro, a comida tradicional.
Essas são algumas dicas para quem deseja conhecer Portugal, mas não quer investir no roteiro que todo mundo faz. Sair do lugar comum é muito melhor. Garanto que depois de visitar esses pequenos tesouros da natureza, irá repensar a volta à realidade, e o Minho terá conquistado de vez um lugar em sua bagagem. Até breve e boa viagem!