Quando falamos em vinhos europeus, imediatamente, para a maioria dos amantes da bebida, vêm à mente os vinhos franceses, italianos, espanhóis ou portugueses, mas raramente os alemães. O país é associado imediatamente a uma Maß (a caneca de cerveja de 1 litro), mas quase nunca a uma garrafa de um bom vinho.
Em qualquer supermercado aqui, é possível encontrar vinhos de toda a Europa por um preço muito mais barato do que no Brasil, além de opções vindas da América Latina (principalmente Chile), Estados Unidos, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia. A bebida também é muito consumida em restaurantes, residências e em festas. Aliás, existem várias festas do vinho espalhadas pelo país.
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Sempre digo para o meu marido que os alemães se entediam se não misturam duas bebidas (bons exemplos são a Radler, que é cerveja com limonada e Spezi, uma mistura de Coca Cola com Fanta) e não poderia ser diferente com o vinho. Eles gostam de beber Weinschorle, que é vinho misturado com água com gás.
Quando ouvi isso a primeira vez, fiquei me perguntando por que alguém estragaria um vinho dessa forma, mas mordi minha língua. Hoje acho bem refrescante Weiß-Weinschorle (vinho branco com água com gás) e em algumas ocasiões é bom para evitar que as pessoas bebam demais.
Por exemplo, em um casamento típico da Bavária, todos os convidados tomam vinho em uma parte específica da festa e por um período determinado (na minha festa, essa parte durou cerca de duas horas). Esses eventos começam de manhã e vão até a meia-noite, portanto, imaginem o quanto é possível beber em um dia inteiro de festa, que já começa com cerveja. Em ocasiões como estas, é melhor mesmo investir em um Weinschorle.
E se os alemães gostam de vinho, mas não tem uma produção famosa mundo afora, por que estamos falando desse assunto? Para convencer as pessoas de que vale a pena dar uma chance aos vinhos do país.
Não sou nenhuma enóloga ou sommelière, então minhas dicas são bem pessoais e apenas como uma apreciadora da bebida. Fiz uma listinha de sete variedades de vinhos alemães que acho que merecem ser degustados.
Sem dúvidas, o tipo de vinho mais famoso da Alemanha é o Riesling, que tem uma longa história com origem no século 15, na região do Vale do Rio Reno. Geralmente, é o mais conhecido fora do país.
Com características frutadas, é um vinho branco bastante ácido, o que faz com que os produtores adicionem açúcar para equilibrar. Essa acidez o torna uma boa opção para deixar envelhecer. É perfeito para acompanhar diversos tipos de pratos, mas principalmente porco e peixe. De preferência, bem apimentados.
Já o tinto mais conhecido é o Spätburgunder, que é encontrado em todas as 13 regiões produtoras de vinho da Alemanha embora varie levemente de uma área para outra, em função do clima e do solo. O mais tradicional Spätburgunder tem uma coloração mais clara e um nível baixo de taninos, que são os responsáveis pela sensação de boca seca.
Originário do Vale do Rio Ahr, o Frühburgunder é uma versão do Spätburgunder feita a partir de uvas colhidas mais cedo. Essa particularidade gera uma bebida mais encorpada, escura e ácida em comparação com o Spätburgunder.
O Silvaner, outra variedade tão antiga como o Riesling, faz parte das adegas alemãs há quase quatro séculos. Este vinho branco frequentemente é chamado de “vinho do Drácula”, por ser muito velho, meio sem cor e pela possibilidade de ser arruinado se for colocado em exposição direta à luz solar durante muito tempo.
Já o Müller-Thurgau é um vinho mais novo, data do século 19 e é um cruzamento de Riesling com as uvas Madeleine Royale que originou uma bebida versátil e acessível. É uma opção para o dia a dia e a escolha ideal para quem gosta de vinhos doces, frutados e com baixa acidez, que podem ser combinados com pratos leves.
Outro vinho branco renomado por aqui é o Grauburgunder que tem esse nome em função da cor um pouco diferente das uvas (grau significa cinza). Quando jovem, é pouco ácido e refrescante, ideal para ser consumido no verão, acompanhando frutos do mar, peixes, massas e até sobremesas. Já quando é envelhecido se torna uma boa opção para cordeiro ou carne de veado, muito consumida na Alemanha.
É difícil pensar que um clima congelante possa ser bom para vinhos, mas o Eiswein prova que sim. Ele é produzido com uvas congeladas naturalmente nos vinhedos, que originam um vinho leve, doce e frutado ou floral. Como seu percentual alcoólico é mais baixo, acaba sendo uma boa pedida após o jantar ou para a sobremesa. A parte não tão legal? Costuma ser mais caro do que as outras opções.
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E para brindar quando estiver degustando vinhos, a expressão formal alemã é Zum Wohl. Mas muita gente diz Prost, que é a palavra utilizada para brindar com outras bebidas, inclusive cerveja. Na Baviera, com certeza a maior parte das pessoas vai simplesmente dizer Prost para qualquer brinde.
Enfim, vale a pena tirar os vinhos alemães da sombra dos seus vizinhos famosos! E além de prová-los, por que não pensar em um roteiro de viagem que proporcione a oportunidade de conhecer vinícolas e degustar especialidades locais? O País da cerveja também tem muito a oferecer nesse sentido. Prost!