Este post será sobre estes sentimentos. Não quero com isso deixar ninguém deprimido, mas é importante falar um pouco sobre o que acontece com as nossas emoções ao morar fora do Brasil. Não acontecem sempre, mas estão.
Em primeiro lugar sinto que os nossos sentimentos afloram mais. É o instinto de sobrevivência acionado no modo mais alto, principalmente quando, como eu, a pessoa está vivenciando toda essa nova experiência sozinha. Saímos de casa, do nosso país, deixamos tudo e todos na esperança de conhecermos novas pessoas e de vivermos coisas novas. Acreditamos que tudo será superado com o tempo. E então descobrimos que quando nos apaixonamos pela primeira vez, nesta nova fase, é mais intenso e quando um relacionamento termina a sensação é como um vulcão em erupção e queremos a nossa melhor amiga conosco porque ela nos entende e o máximo que podemos fazer é ficarmos pendurando na net ou no telefone. Ela não pode vir nos abraçar.
A verdade é que sentiremos tristeza em qualquer lugar, porém, percebo que quando estamos fora do nosso país e esse sentimento chega precisamos tomar cuidado porque ele pode nos derrubar. Chega como tristeza e se não tomarmos cuidado se transformará num sentimento de solidão que parece ser infinito. É o momento em que tudo o que não gostamos, ou ainda não conseguimos nos adaptar, aparece da forma mais crua possível. Pode ser o calor, o frio, o formato das casas, o jeito das pessoas, a dificuldade com o idioma, as comidas diferentes, tudo nos faz questionar a nossa decisão e então nos sentimos muito, muito carentes. E carência é o alimento preferido da solidão. Não estou falando somente da carência afetiva, por isso nem sempre outra pessoa pode nos ajudar nesses momentos apenas com palavras, pois estamos sentindo falta de tudo: do conhecido, das nossas raízes, das nossas caras, enfim, tudo.
É quando você tem uma gripe forte e sente falta da sua mãe. É saber que toda a família está reunida num aniversário e você é o único que não está e então bate aquele outro sentimento, tão brasileiro e tão conhecido: a saudade.
A saudade às vezes parece um punhal que vai entrando e ferindo devagar. Outro dia eu separei um vídeo sobre o nordeste brasileiro a um grupo de alunos e durante a aula, quando apareceu Porto de Galinhas, em Pernambuco, senti uma saudade imensa. Eu podia sentir o cheiro do mar, do sol, das pessoas. Bateu saudade daquele sorriso tão brasileiro, tão nosso e senti os olhos lacrimejarem! Com o passar do tempo a saudade parece ser mais forte, portanto, quando você ouvir a expressão “quase chorei quando encontrei brigadeiro, guaraná, etc.” de um brasileiro morando no exterior, acredite, ele realmente quase chorou! Literalmente!
Sabiam que as pessoas fora do Brasil não sorriem tanto como nós nas ruas? Sabiam que dificilmente vocês ouvirão alguém assoviando uma melodia pela rua? Quando me dei conta disso até perguntei para alguns amigos e alunos argentinos se eles não sabiam assoviar. Sabiam que vocês não vão ouvir música pelas ruas? Que pedirão um cafezinho no balcão de um bar e a pessoa não irá abrir um sorriso ao entregá-lo? Na maior parte do tempo nada disso me incomoda ou afeta, no entanto há dias que é insuportável essa diferença cultural e o jeito é ir para casa, ouvir músicas brasileiras, ver filmes…
E por falar em filmes, é muito interessante a nossa relação com vídeos, filmes e músicas brasileiras quando moramos fora. Sabe aquele ritmo que você quase não ouvia porque achava brega? Bem, depois de alguns anos, você escuta aquela música numa festa, num rádio qualquer da vida e sente seu coração bater mais forte. Vai descobrir que algumas comidas se tornarão objetos do seu desejo mais profundo como paçoquinhas, doce de goiaba, chocolate Bis e guaraná. E não importa que não goste de guaraná, depois de um tempo fora do Brasil, quando encontrar uma latinha vai bebê-la o mais devagar que puder porque ela tem gostinho de Brasil. Pensei que só tivesse acontecido comigo, mas já soube de vários brasileiros, que quando assistiram aqui ao filme “Dois filhos de Francisco”, choraram horrores com a música final. E agora, todas às vezes que escuto essa música, meu coração se parte em dois e choro muito.
É muito complicado falar sobre isso com nossos amigos e familiares que nunca moraram fora. Eles dizem nos entender, só que a verdade é que eles não podem nos entender completamente, é um sensação única. Tanto que é muito fácil para nós nos ligarmos de forma mais profunda com uma amizade nova aqui fora porque essa pessoa passa por esses mesmos momentos, por essa montanha-russa de emoções que surgem em momentos impensáveis.
Um amigo brasileiro nestes dias estava passando por um momento complicado, difícil, sentia a vida de cabeça para baixo e não teve dúvidas: comprou uma passagem e foi passar uma semana com a família para aliviar a alma e quando eu perguntei se estava melhor a resposta foi que ao chegar no aeroporto, ao ouvir todos falando em português, ao ver as caras, ao ouvir as risadas, ao sentir o sol ele já se sentia melhor. Adorei a descrição dele porque a verdade é que ao morar fora do nosso país descobrimos que a expressão “estar em casa” é muito mais ampla e verdadeira do que imaginávamos.
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Adorei!!