O que vem em sua mente quando falo em Suíça? O que você imagina? Como você acha que são as pessoas nascidas neste lugar? Como você se sentiria morando na Suíça?
Contando com a ajuda da Michelle Schirpa, do Brasileia ( que entre seus muitos talentos é o de fazer vídeos super bacanas) fizemos exatamente estas perguntas à algumas Brasileiras. Confiram o resultado:
Os estereótipos fazem parte da categorização inicial a respeito de algo. Já falava o bom e velho Kant da importância de classificações e categorias no processo de conhecimento e entendimento humano. Será, porém, que tais classificações generalizadas, dizem de fato algo sobre o caso singular ?
Tá, não bocejem, vou explicar melhor. Quando falamos que todo brasileiro gosta de samba, estamos falando sobre quem? Sobre a Maria, o João, a Letícia, o Papagaio?
Ao fazer generalizações de qualquer tipo, utilizamos uma ideia de Marias, Joãos, Leticias e Papagaios que podem ou não condizer com a realidade particular de cada um destes indivíduos. Ou seja, falamos de todos sem necessariamente falar sobre alguém.
Podemos extrapolar este conceito para várias coisas, como países, por exemplo. A pergunta que fica é: quanto de verdade há nestes estereótipos específicos sobre a Suíça? Antes de responder, vejam o vídeo a seguir.
Essas imagens foram todas feitas aqui na Suíça. Tudo bem que, mesmo na bagunça, não é nenhum caos total tipo carnaval no Rio (outro estereótipo). Afinal, a Suiça é sim o país das vaquinhas lindas ( e coitadas que tem que andar por aí carregando um baita sino no pescoço), do chocolate, das paisagens bucólicas, da tranquilidade e da neutralidade. Mas seria um reducionismo crasso, achar que o país é feito somente destes estereótipos.
Não vi até hoje no dia-dia a tal da neutralidade, por exemplo. Os suíços , como nós, são providos de opiniões e, via de regra, não tem medo de dizer o que pensam, ainda que o país como um todo em suas opções políticas busque manter-se neutro, em cima do muro.
Já o chocolate, eu e a balança descobrimos que os estereótipos neste caso procedem até mais do que nossa vaidade gostaria.
Bom, estas ideias estereotipadas acontecem, geralmente, quando alguma comparação precisa ser feita seja para entendermos algo via razão ou simplesmente organizar as ideias. Mas depois de feito isso, se não as deixarmos de lado elas podem acabar virando muletas de preconceitos que em muitos casos prejudicam mais do que favorecem a boa adaptação em um novo país.
Falo por experiência que, muitas vezes, quando nos deixamos levar por conceitos estereotipados sobre o local e as pessoas aonde estamos vivendo, deixamos de vivenciar as minúcias que fazem daquelas pessoas que lá habitam, singulares e novos amigos e companheiros de aventuras em potencial. E o lugar novo, um jardim enorme a ser descoberto, cheio de possibilidades.
Já vi casos em que o excesso de estereótipos acaba em um choque cultural interminável e tão profundo que a pessoa acaba tendo que voltar para o seu país de origem tamanho horror que criou a respeito do novo país.
Não me entendam mal, o choque cultural é um processo natural e que quase todos que moramos fora vivenciamos em dado momento. Mas é uma gangorra que se soubermos como brincar, seus altos e baixos podem nos divertir ao invés de irritar.
Por exemplo, nada melhor que naqueles momentos de estranheza profunda à uma nova cultura valer-se do bom humor ao utilizar estereótipos. A risada, pelo menos para mim, é um santo remédio e os estereótipos são um aliado e tanto nestas ocasiões.
Portanto, minha dica é que façamos sim uso dos estereótipos, mas de maneira inteligente sem usá-los como arma para agredir, nem como caverna para se esconder.
Afinal, ao contrário do que muitos pensam, há um pouco de tudo aqui. Há bagunça sim – ainda que reduzida a algumas áreas específicas, tipo um caos organizado -, há jovens, há alegria e há calor humano também. Não é só na América Latina que sabemos acolher e amar. Há diferentes maneiras de dar e receber calor, e vivenciar outras culturas nos dá esta possibilidade: a de abrir-se a outras formas de ser você mesmo, de romper estereótipos e de descobrir-se singular e único, desbravando mundos.
Boas descobertas e até a próxima!
Vídeos: Captação, edição e arte – Michele Schirpa
Música: Slädu – Bienvenue en Suisse
11 Comments
Nossa Fê amei seu texto, acho importante compreender uma cultura, que em geral é o que categoriza alguns comportamentos, valores, crenças de um povo e nos ajuda nao so a compreender mas também a facilitar nossa adaptaçao a uma nova cultura! Como professora de “Inteligencia Cultural”, nao poderia dizer outra coisa né?! por outro lado é isto ai, é importante dar a oportunidade de conhecer cada pessoa como um individuo e cada situaçao com olhos de criança, e eu acredito muito também que nosso comportamento e essencia também é um fator que muda a equaçao, as pessoas também sabem que voce como estrangeiro é diferente e em geral é inclusive um fator muito liberador pra sair do convencional! Amei! Namasté 🙂
Que bom que você gostou, minha querida! Como vc disse, acho super importante sim conhecermos a cultura e neste sentido podemos fazer um bom uso das categorias e estereótipos. Mas penso que sempre temos que lembrar que estas categorias são formas sem conteúdo, no sentido de que não se aplicam a casos singulares. Essa questão que vc menciona deles saberem que somos estrangeiros também é um tema muito bacana. Taí, vc já me deu ideias para outro post rsrs. Beijo grande e obrigada por comentar:) PS: Qdo vc vem à Berna?
Perfeito! 🙂
Existem características que “aproximam” pessoas que nascem num mesmo país, isto é, os aspectos relativos a aprendizagem cultural. Mas, as generalizações baseadas em estereótipos levam ao preconceito e até discriminação. Além de “criar muros”, dificultam a comunicação entre as pessoas. 🙂
Exato, Lyria. Era exatamente esta distinção que eu queria fazer. Acho importante ter bem clara esta diferença na hora de falar sobre qualquer coisa. Afinal, como vc colocou, sem o devido cuidado levam ao preconceito e a discriminação. Discriminação inclusive consigo mesmo dependendo do tipo de preconceito criado a partir de estereótipos. Beijo grande e obrigada pelo comentário, querida! 🙂
Muito bom. Morei mais de 30 anos na Inglaterra, e tive amigas brasileiras que moraram lá e não viam a hora de voltar e diziam que tive sorte e por isso me apaixonei pelo país. Não acho isso não, acho que é depende de como cada pessoa encara sua experiência. Onde algumas s e prendiam porque alguém tirava sarro do inglês mal falado, eu ria, e aprendia e correlacionadas com situações similares pelas quais meu marido passou no Brasil. No Brasil achavam que era o humor do brasileiro, na Inglaterra se prendiam passando pela mesma situação. Fiz amigos para sempre na Inglaterra, atingi mais profissionalmente que jamais atingiria no Brasil e se pudesse voltaria pra lá amanhã. Ainda vai acontecer. Conheci Bern e amei. Pacata e linda.
Pois é, Vera, eu acho que temos que estar abertos ao novo para podermos realmente vivenciar e desfrutar de uma nova cultura. O excesso de estereótipos acaba por inibir a nossa capacidade de adaptaçao, creio eu. Eu adoro a Inglaterra. Que bacana que sua experiencia lá foi positiva e sem dúvida, em breve, vc estará de volta na terra da Rainha Elizabeth 😉 É só querer com vontade que as coisas acabam acontecendo. Um grande abraço e muito obrigada por comentar. 🙂
Oi Fernanda, adorei seu texto.
E por falar em estereótipos, apesar de ser tão errado, quem nunca? Se formos nos ater a estereótipos, como brasileiros sabemos que tem alguns que vamos nos identificar e outros nem tanto.
No momento que vi a foto no seu post me fez lembrar de um comercial de uma empresa de cruzeiros, a Norwegian Breakaway que diz: “Cruise like a Norwegian, eat like a Parisian, love like a Venetian, party like a Brazilian”. Apesar que concordo que brasileiro gosta de uma festinha, mas não gosto de ser vista como se só fizéssemos festas. Afinal, também trabalhamos, não é? rs…
Beijos
Oi Cleo! Fico feliz que tenha gostado do texto. Sim, concordo com vc, quem nunca???!! Beijo e obrigada por comentar, gata 🙂
Adoro seus posts , Fernanda Moura. Sem querer cair em estereótipos RSRS considero a visão filosófica sobre o mundo muito inteligente e criativa pois leva em conta o tempo todo a alteridade; a necessidade de adaptação , a reflexão e a autocrítica. Sem uma mente aberta para o novo , me parece muito complicado uma pessoa se adaptar a outra cultura. Quando as pessoas entendem que a nossa cultura não é melhor nem pior , apenas diferente , acredito que se torna mais simples curtir o que o outro nos apresenta.
Muito obrigada, Sílvia Marques. É sempre muito gostoso saber que alguém curte o que escrevemos rsrs. Considero o seu comentário a respeito da alteridade certíssimo. Acho que esta questão é chave para uma visão mais reflexiva e humanista do mundo, o que naturalmente faz com que o nosso modo de pensar se expanda vislumbrando novos horizontes cada vez mais ricos. Para mim vivenciar outras culturas é visitar partes de mim mesma antes desconhecidas. Um forte abraço!
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