Transporte público em Cuba: os “almendrones”.
Almendrones são carros americanos antigos, jurássicos, de 1959, que se parecem com uma amêndoa. Daí vem o seu apelido! Ainda estão vivos e funcionam devido aos muitos jeitinhos dos mecânicos cubanos que remodelam os motores com peças das mais diversas origens, fazendo adaptações que até Deus duvida.
Os mais lindos, conservados e valiosos, objeto de desejo de turistas ávidos por fotos, estão por Havana, nos pontos turísticos e carregados de estrangeiros. Mas o que irei contar para vocês é sobre outro tipo de almendrón. Os almendrones são uma solução criativa ao transporte público cubano.
Almedrón é o coletivo, o Uber pool, o transporte público mais popular. O almendrón está na vida cotidiana de Havana e de toda Cuba. Esses almendrones são um conjunto de carros antigos que não são os mais bonitos pra desfilar com turistas por toda a orla e pontos turísticos. Mas, também têm o seu charme e fazem a diferença quando é preciso se deslocar pela cidade, por um preço mais baixo do que os outros táxis.
Em Cuba, táxi é caro e o almendrón funciona como um ônibus de transporte público que vai parando e pegando passageiros por toda cidade. Eles possuem sua própia rota a seguir. Então se você para em uma esquina para pegar um almendrón terá outras pessoas que, dependendo da rota, vão estar junto com você, descendo ou subindo pelo caminho e passando o braço, sacola, criança tudo em cima de você. E isso aqui é o mais normal do mundo. E se conseguir ficar na janela, faça um post em suas redes sociais com a palavra “gratidão”. (risos)
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Esses carros fazem parte da magia e da alma da cidade. São tão comuns que existe todo um conjunto de gestos importantes para comunicação do usuário e o motorista do carro. De longe, ao avistar um passageiro que faz um sinal, que é universal, para mostrar que tem interesse em pegá-lo, o motorista gesticula com as mãos mostrando que está cheio ou que sua rota segue em direção à praia ou pela terceira avenida, determinando o lugar de destino. São coisas que se aprende pela convivência e o uso ou, sei lá, por osmose, que vem com a prática do cotidiano.
Esses carros tem uma rotina de lugares para passar. Não são como táxis, seguem a rotina parecida à de um ônibus coletivo. Para exemplificar melhor, eles levam os passageiros a pontos já estabelecidos pelo Estado, que regula o seu funcionamento, e já têm preços pré-estabelecidos. Por exemplo, quando saio de Miramar, o bairro onde vivo, e vou até o Vedado, outro bairro próximo, pago pelo serviço 10 CUP (pesos cubanos) ou 0,4 CUC (pesos conversíveis), o equivalente a 0,4 centavos de dólar. Se vou até Havana Velha, a parte turística, os valores dobrarão, por causa da distância.
Sempre que possível, é melhor pagar em moeda nacional porque quando eles fazem a conversão em outra moeda, você sempre irá perder alguns centavos cobrados a mais no meio do caminho. Porque essa vida de viver fazendo contas de conversão e contar com mais de uma moeda no dia a dia, para os cubanos, já virou mamão com açúcar, mas, para a gente que não esta acostumada, custa trabalho e até rapidez de raciocínio. Acho que isso deve ajudar futuramente a evitar Alzheimer por estar constantemente exercitando o cérebro!
Um ponto importante é o cheiro. Sim, o cheiro. Não importa se vá na frente, junto ao motorista, ou atrás: sairá com cheiro de diesel, gasolina, fumaça… tudo misturado! E outro ponto, a porta de trás, na parte esquerda, está sempre bloqueada para abrir, forçando todo mundo a descer pela direita, para que você, sentado à esquerda, possa descer também. E nem sempre é fácil de abrir a porta direita, já passei por uma situação que o motorista me deu uma chave inglesa para abrir a porta. (risos)
E ao usar este tipo de transporte, você vai escutando tudo o que é de mais novo em reggaetón, salsa ou talvez clássicos da música cubana, como também, vai entendendo e conhecendo melhor como é o cotidiano dos cubanos, as últimas notícias, as gírias, enfim, como viver por aqui, com todo tipo de pessoas que fazem uso diariamente do serviço.
É um meio de transporte que funciona muito bem, mas que não é acessível a todos os cubanos. A Guagua, como são chamados os ônibus de transporte público, é o mais popular porque é mais barato e atinge a grande maioria da população, apesar de demorar muito e estar sempre cheio. Aí, por exemplo, os cubanos podem pagar 5 CUP na cidade ou até 27 CUP, se vao para Varadero (130 km ao leste de La Habana).
E como tudo vira música neste país, com o almendrón não seria diferente. Virou tema para uma canção de dois compositores: Arnaldo Rodríguez e Rubén Estévez, e ficou três semanas consecutivas no top 100 das mais tocadas.
Além de ser um meio de transporte, também é um meio para garantir o trabalho e o sustento de muita gente que se desenrola da maneira que pode para conseguir um dinheirinho. E como diz a música: “Meu almendrón esta velho, mas se move / Está velho, mas com ele eu resolvo /Meu almendrón de 59, se move, se move…”.
E uma observação para lembrar aos desavisados: esqueçam aplicativos. Em Cuba, funciona da seguinte maneira: vá até a rua e busque o seu táxi, o seu almendrón nos pontos por onde passa ou guarde algum cartão de visitas de algum motorista que já tenha conhecido, pra que possa ligar diretamente a ele e requisitar o serviço. Sim, aqui funciona o velho método de discar do seu telefone, porque a internet você terá acesso em alguns pontos apenas. Então você irá voltar a usar seu telefone pra fazer ligação normal, sem ser ligação de WhatsApp. Contarei como funciona a internet neste país em um próximo texto. Sim, existe internet em Cuba. E os cubanos também tem acesso. Para não sair falando coisa errada sobre Cuba, leia os meus textos. Até mais!
3 Comments
To amando seus posts! Vc escreve muito bem!
Ansiosa pra saber como funciona a internet em Cuba, escreve logo!!!
Olá Blanca, muito obrigada pelo carinho.
Já escrevi sobre internet em Cuba e deve sair logo, logo.
Bjs
Olá Viviane
Post interessante! Viajo para Cuba no próximo mês, provavelmente sozinha? É seguro?
Tem mais posts com dicas em seu blog?
Obrigada.