Viajar é conhecer a si mesma.
Há um pouco mais de 1 ano, saí da minha casa e me despedi da minha cachorra, da minha família e embarquei numa viagem para o outro lado do mundo. Como muitas pessoas, estava à procura de mim mesma, queria me conhecer melhor, descobrir coisas sobre mim que eu não sabia que existiam. Queria conhecer o mundo, culturas, sabores, novas formas de olhar o todo, diferentes perspectivas. Sair da sua “bolha” ou da sua zona de conforto, a meu ver, é a melhor e mas nítida forma de conhecer a si mesma.
Quando desembarquei em Singapura, em julho de 2017, talvez pelo jet leg, ou travel sickness (doença da viagem) eu estava tonta, sem entender direito as coisas, distraída e amortecida. Foi como se eu tivesse atravessado uma passagem para uma outra vida que estaria começando naquele momento.
Nos primeiros meses eu estava me acostumando com a comida (sempre odiei pimenta e me vi desesperadamente presa no mundo das comidas apimentadas), estava me acostumando com a cultura, com a temperatura, aromas, tendo a minha primeira experiência com trabalhos voluntários.
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A vida era nova, tudo mudou e também tive meus momentos difíceis. Minha síndrome do pânico não estava totalmente controlada como agora e me vi em vários momentos brigando com a ansiedade do desconhecido, tanto em questões financeiras como decisões sobre o rumo que eu tomaria.
O tempo foi passando, alguns medos se dissolveram e o destino me levou a um lugar em que pude praticar yoga e sua filosofia, meditação e autoconhecimento. Tudo isso morando numa comunidade com mais de 50 pessoas com os mais diversos tipos de histórias de vida, traumas, medos, etc. Percebi ali que estava não apenas entrando em um novo mundo, mas trazendo conhecimentos milenares para a minha vida.
No meio desse turbilhão de novas informações me aventurei num retiro de meditação em que, durante 10 dias, eu não podia falar nem ao menos olhar no olho de outra pessoa, ou seja, sem ter nenhum tipo de comunicação e meditando 10 horas diárias. Com apenas café da manhã e almoço, na minha própria companhia. Foi uma das experiências mais difíceis e intensas que consigo me lembrar, em que eu tive que olhar para dentro de mim, com todos os meus medos, anseios, desejos e ansiedade. Se encarar não é fácil, vivemos fugindo disso, seja através de distrações ou de uma rotina que você nem precisa mais pensar. Percebi, então, que quando a gente se perde nos devaneios da mente a gente perde o que tem de mais precioso: o agora e, no fim, a gente se perde por completo.
Onde quero chegar é: saia da sua zona de conforto, se for viajando, ótimo! É mais fácil porque você está fisicamente em outro lugar. Mas se não der viajando, tente mesmo assim.
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Sair da zona de conforto está ligado a: conhecer novas pessoas, se dispor a tomar uma cerveja sozinha, se aventurar por um lugar desconhecido, acordar mais cedo só para ver o nascer do sol, tornar o seu dia um momento especial, criar um ritual ou uma reza que tenha significado pra você. Em outras palavras, sair da sua zona de conforto faz com que a sua vida se transforme de meramente sobreviver para viver tudo o que você merece.
Apenas quando fazemos coisas fora do automático é que saímos de um estado de dormência, reparamos mais nos detalhes da vida, estando presente no agora, que no fundo, é a única coisa que realmente temos.
Portanto, preste atenção na sua respiração e, no momento que você se acostuma com isso, verá que esse é o elo que liga você com você mesma e com o momento presente. Essa foi a mais preciosa das lições que tive até agora. Embarquei atrás de mim mesma, de me conhecer e fazer contato com a minha essência e, através de práticas como meditação e yoga fui capaz de ver o que sempre estava comigo: minha força, minha leveza, meu ser.
Escrevo isso com uma sensação de completude, de paciência e animação com o desconhecido. O tempo vai passando e é incrível como a vida te guia pelas experiências que você precisa passar. No fundo, vejo a vida como uma montanha-russa. Se você tentar não controlá-la (até porque seria inútil) você pode escolher relaxar e aproveitar os momentos de calmaria, de frio na barriga e de expectativas. Em algum momento a sua experiência nessa montanha-russa vai acabar e quando isso acontecer é melhor olhar para trás, sorrir e perceber que você aproveitou verdadeiramente todos os momentos.