Violência contra a mulher na Austrália.
Apesar de ser um país seguro e considerado como primeiro mundo, a violência doméstica na Austrália é reconhecidamente um problema sério, com impactos individuais, comunitários e enormes custos sociais. A violência pode atingir qualquer membro de uma família, mas na maioria dos casos, as vítimas são do sexo feminino.
Embora seja assunto recorrente na mídia, fica difícil acreditar que um país tão evoluído e relativamente igualitário como a Austrália ainda tenta lidar com o machismo que infelizmente destrói famílias e mata milhares de mulheres todos os anos. O próprio primeiro ministro, Michael Turnbull já chegou a declarar que a violência doméstica é uma vergonha nacional.
É importante ressaltar que quando falamos de violência doméstica não estamos falando apenas de agressão física. A violência tem diversas faces e pode se manifestar através de:
- Abuso psicológico: Manipulação, humilhação, isolamento;
- Abuso social: Ofensas em locais públicos afim de diminuir e envergonhar a vítima;
- Abuso financeiro: Proibir a vítima de trabalhar, controle de renda e bens, obrigar a vitima a contrair dívidas;
- Abuso sexual: Obrigar ou induzir a vítima a ter relações sexuais de qualquer tipo;
- Ameaças
Os dados de violência doméstica na Austrália são extremamente preocupantes, o que fez com que em 2015 o governo Australiano investisse cerca de 100 milhões de dólares em programas de prevenção e apoio às vitimas de violência.
De acordo com o site Domestic Violence:
- Em média, pelo menos uma mulher é assassinada toda semana pelo parceiro ou ex parceiro na Austrália;
- 1 em cada 3 mulheres australianas já sofreu alguma violência física desde os 15 anos de idade;
- 1 em cada 5 mulheres australianas já sofreu violência sexual;
- 1 em cada 4 mulheres australianas já foi abusada psicologicamente por um parceiro ou ex parceiro;
- Das mulheres que vivenciam violência, mais da metade tem filhos sob seus cuidados;
- As mulheres aborígenes experimentam taxas bem maiores e formas mais severas de violência;
- A violência contra as mulheres gera um custo de aproximadamente 21,7 bilhões de dólares por ano que são direcionados à saúde, administração e bem estar social, as projeções indicam que se nenhuma ação adicional for tomada para prevenir a violência, os custos acumularão para 323,4 bilhões em um período de 30 anos.
Deixar um relacionamento abusivo é mais difícil do que pode parecer. Além dos muitos obstáculos como: medo, isolamento, filhos, pressão cultural/religiosa, pressão da família, pressão financeira, muitas mulheres demoram para perceber que estão sofrendo algum tipo de abuso, infelizmente diversas atitudes são relevadas e consideradas normais, por isso é tão importante falarmos sobre esse assunto.
Lista com associações de ajuda às vítimas de violência doméstica pelo mundo
Violência contra Brasileiras
Passar por isso em sua terra natal já é algo terrível de se enfrentar, agora imagina sofrer abuso e violência quando você mora em outro país e está longe de familiares e amigos. Muitas mulheres dependem financeiramente do parceiro, não falam a língua local, tem medo de perder o direito à residência, ou pior, temem pelos filhos nascidos em terra estrangeira.
A brasileira Luciane Sperling passou por isso, além de abuso psicológico ela também sofreu agressões físicas por parte de seu ex companheiro e pai de sua filha. Luciane conta que vivia sob ameaça de perder seu visto e a guarda da criança, com medo de ter que deixar o país ela deu uma segunda chance ao ex, a tentativa não deu certo, então ela pegou sua filha e se mudou para abrigos de apoio à violência doméstica. Sua trajetória a inspirou a ajudar outras mulheres, Luciane escreveu o livro “Touched by love: Turning Crisis into a Blessing” onde ela compartilha sua história e incentiva mulheres a buscarem forças para lutar contra esse mal que é a violência doméstica.
Infelizmente a brasileira Fabiana Palhares não teve o mesmo destino, em Fevereiro de 2015 a jovem de 35 anos que residia na cidade de Gold Coast, foi espancada até a morte pelo o então companheiro, Fabiana estava grávida.
Muitas outras Lucianes e Fabianas passam por isso e enfrentam todos os dias a violência em um local que deveria ser de amor e respeito, sofrendo com o medo, a vergonha e culpa.
O que fazer?
É sempre bom reforçar que você não precisa ser australiana para buscar ajuda, se estiver em solo australiano você não só pode como dever recorrer as alternativas para se manter segura. Caso encontre barreiras com o idioma, solicite um intérprete.
O site SBS listou um passo a passo do que fazer caso você se encontre em um relacionamento abusivo:
- Converse com amigos e procure uma comunidade local
- Tenha sempre um plano B
- Pense em estratégias seguras para deixar o local
- Utilize os serviços públicos de apoio às vítimas de violência doméstica
- Entre em contato com a policia
- Visite um centro comunitário especializado
- Peça assistência à Suprema Corte
- Busque informações no departamento de imigração
Serviços disponíveis na Austrália para migrantes e vítimas de abuso
Departamento de Serviços Humanos – Site do governo com informações disponíveis em todos os idiomas
1800-RESPECT (1800 737 732) – Linha telefônica de suporte e aconselhamento, funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana. Além do contato telefônico eles também disponibilizam atendimento online, tudo de forma confidencial.
InTouch Multicultural Centre Against Family Violence – Organização que atua especificamente com mulheres e crianças de diferentes origens e culturas, vítimas ou sobreviventes de violência doméstica.
Migrant Women’s Support Service – Organização que atua especificamente com mulheres e crianças de diferentes origens e culturas, vítimas ou sobreviventes de violência doméstica.
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Gostaria de finalizar o artigo deste mês com uma reflexão feita pela brasileira sobrevivente Luciane Sperling:
“A recuperação é um processo de cura do seu subconsciente trazendo sabedoria para sua consciência, que ajuda a restaurar seu coração, lembrando-o com verdade e sinceridade a tornar-se a melhor versão de você e alcançar seu potencial total na vida.”