Quando pensamos em imigração, acredito que o tema amizade e relacionamentos traga muitos pontos de interrogação, seja com relação a fazer ou não fazer amigos, conseguir se comunicar no novo idioma ou encontrar pessoas que tenham os mesmos interesses. São vários os questionamentos, inclusive, escrevi sobre como pode ser dolorido realizar o sonho de morar fora, em duas ocasiões, aqui e aqui, mas acho que hoje podemos pensar no assunto olhando por um outro viés. Temos tido tempo e disposição para investir nesses novos relacionamentos?
Para falar mais sobre isso, vou dividir com vocês uma situação que aconteceu comigo, logo após me mudar para a França. Na época, fui a um piquenique no qual, apesar de ter conversado bastante com o pessoal, teve um momento em que me senti um pouco “por fora”. Lembro-me que na hora fiquei me sentindo um pouco incomodada, confesso que até mesmo senti um pouco de ciúmes. Foi então que me caiu a ficha. Depois que me mudei de São Paulo para Curitiba, a primeira vez que tive a sensação de ter feito meus primeiros grandes amigos foi, mais ou menos, 2 anos depois que eu estava na nova cidade. Isso na hora me deu um susto, mas depois parei pra pensar que, mesmo morando no mesmo país, as amizades não são tão fáceis de serem feitas, o relacionamento tem que ser construído e para que isso aconteça não basta somente falarmos a mesma língua.
Se pensarmos sobre os nossos relacionamentos no geral, podemos dizer que na grande maioria das vezes, eles foram se desenrolando. Acredito que temos a tendência de esquecer esse detalhe, pois dificilmente conhecemos alguém e naquele exato momento o relacionamento já está consolidado e temos aquela conexão única. Claro que isso pode acontecer, mas, na realidade, muitas vezes nos aproximamos das pessoas e aos poucos nos tornamos grandes amigos, seja em razão das novas experiências que passamos juntos, as novas saídas ou as novas conversas. Independente de como acontece, a verdade é que o relacionamento vai sendo construído, e acredito que quando chegamos a um país novo, em que temos tantas novas informações e ansiedades, temos a tendência de querer acelerar o processo.
Tanto no assunto amizade no exterior, quanto em qualquer outro, um dos pontos que acredito ser essencial para vivermos com mais leveza é saber respeitar o tempo e o fluxo da vida. Assim como um rio que flui no seu caminho e sempre segue o seu ritmo, mesmo quando precisa ultrapassar os pontos cheios de pedras, curvas e empecilhos, é dessa forma que precisamos aprender a olhar a nossa vida.
Existirão momentos em que estaremos com a casa cheia de amigos de muitos anos e outros em que estaremos saindo com uma pessoa completamente nova, para tomar um café. E aí eu te pergunto, uma situação é melhor do que a outra? A verdade é que ambas as situações podem ser muito valiosas! Acredito que da mesma forma como fizemos com os amigos que vão à nossa casa e temos tantas histórias para contar, justamente pelo tempo investido, precisamos ter a paciência para cultivar novos relacionamentos.
Assim como uma semente tem um valor desde o momento em que é plantada e aquele que cultiva, diariamente, investe um pouco de seu tempo, regando, podando e cuidando (e, mesmo assim, algumas sementes vingam e outras não), talvez precisemos olhar desse modo para as pessoas que passam pelo nosso caminho, para cultivar uma amizade.
Aprender a apreciar e respeitar o tempo das coisas em nossa vida é um pouco difícil, mas a partir do momento que aprendemos a direcionar nossa atenção para isso, podemos ver que cada fase tem o seu valor e talvez sair para tomar um café com alguém que tem o potencial para ser uma nova amiga, podendo descobrir novas coisas sobre essa pessoa, possa ser tão interessante quanto sair com as nossas velhas amigas.
Precisamos urgentemente perder o medo do diferente, do novo, daquilo que não está sob controle e aprender a olhar para o lado positivo das situações que nos sobrevêm. Claro que não estou dizendo para não darmos atenção aos momentos difíceis, mas, quem sabe, trabalharmos para ver o copo meio cheio e não meio vazio.
Pensando nisso, pensei também em uma estratégia para que possamos dar uma ajudinha para que a vida coloque pessoas interessantes no nosso caminho:
Tenha interesses e procure grupos sobre o tema
Ao chegar em um novo país, ou em uma nova cidade, é importante que tenhamos interesses que nos motivem a procurar encontros que possam estar acontecendo sobre ele. Pode ser no sentindo de uma religião, artes manuais, áreas de estudo, animais de estimação, grupos de mães e, até mesmo, grupos de brasileiros. O que você se interessar é uma boa ideia e pode ser bem-vinda. Pois, no mundo todo, as pessoas sempre se juntam para compartilhar interesses, tanto online, quando offline e, com certeza, um assunto de interesse em comum já pode ser suficiente para uma amizade começar a se desenvolver.
Por isso, saia da toca! Entendo que muitas vezes o medo, a preocupação da língua não estar perfeita e tantas outras coisas podem estar presentes, mas não se deixe tomar por isso, dê uma forcinha para que a vida coloque pessoas especiais no seu caminho!
Visite grupos online dos interesses em comum, procure perfis de pessoas que tenham os mesmos gostos que os seus, ou que simplesmente morem na mesma cidade e tente trocar ideias com as pessoas que te chamam atenção.
Procurando por psicólogas brasileiras pelo mundo?
Se você tem uma religião, procure uma igreja ou centro e lembre-se de que esse vínculo pode ser bem importante tanto para te fortalecer diante das suas crenças, como pode ser também uma excelente forma de se aproximar de novas pessoas.
Uma outra opção que descobri, em Montpellier, foram os eventos organizados por instituições como shoppings, livrarias e bibliotecas, muitos lugares promovem workshops, palestras e até mesmo apresentações de filmes com bate-papos interessantes!
Para aquelas que já têm sentido o vento frio do inverno como eu, pensar em novas maneiras de sair de casa e conhecer gente pode ser uma excelente forma de dar um chega pra lá na tristeza do inverno e deixar os dias mais interessantes, não é mesmo?
Lembre-se de uma coisa: mesmo que as coisas não sejam exatamente como você estava acostumada no Brasil, abra-se para as novas experiências! O diferente pode ser muito interessante!
Mas se mesmo com essas dicas você percebe que talvez seja interessante a ajuda de uma profissional, pois as tristezas, preocupações e angústias insistem em te abater, não deixe de buscar ajuda! Eu faço parte do time das psicólogas do Brasileiras pelo Mundo e você pode entrar em contato comigo pelo meu site Psicologia Descomplicada ou pela página do Facebook. Buscar ajuda é sinal de amor consigo mesmo!
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Gratidão por tudo que escreveu!
Abraço