Dificuldades durante a adaptação na Costa Rica.
Quando decidimos mudar de país, e às vezes até mesmo ir além e mudar a forma de viver, é uma alegria só, muitos planos, muitos sonhos, tudo planejado e idealizado como será, cada passo no seu devido lugar.
Mas, infelizmente, nem tudo são flores e nada sai como planejamos e idealizamos, exatamente porque fomos para um país diferente do nosso em tudo. As pessoas, os locais, a cultura, as gírias… Entramos na fase do reconhecimento de território, da adaptação aos novos costumes daquele lindo e amado lugar onde escolhemos viver.
A primeira dificuldade que encontramos no novo local é o idioma, às vezes bem difícil de aprender, outras um pouco parecido com o nosso português, como é o caso do espanhol aqui na Costa Rica. Apesar de saber falar um pouco espanhol e entender bem o que as pessoas falam, ainda assim existe a dificuldade com palavras específicas, expressões populares, como por exemplo o conhecidíssimo “pura vida” – expressão utilizada tanto para “olá” como para dizer “adeus, tchau”; a utilização de diminuitivos nas palavras para quase tudo como ninõ – niñito, até o nome costa-riquense aqui tem uma expressão bem
típica, o povo que nasce e mora na Costa Rica gosta de ser chamado de
“ticos ou ticas”.
Outra coisa que nos pega de jeito nesse novo ciclo de vida é a comida do novo país, tão diferente da nossa comida em sabor, textura, tempero. As pequenas coisas começam a fazer falta, aquele cuscuz com manteiga, o pão de queijo quentinho, a tapioca. Aqui não seria diferente, apesar de relativamente perto do Brasil, nada é parecido gastronomicamente com a comida brasileira, talvez o famoso “gallo pinto” prato típico do país que é feito com feijão e arroz misturados, ovos acompanhados de tortilha de milho e salsa (molho) de natas. O gallo pinto aqui é comumente servido como café da manhã.
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Existe também o chamado “casado ou casadito” que é arroz com feijão, frango, peixe, porco ou carne de boi, banana frita e algumas verduras. Mas o que faz falta é aquele tempero, o sabor da comida! Apesar de ver bastantes verduras nos mercados e feiras, e de aqui ser um país bastante tropical por conta das praias e natureza, sinto que a influência americana do fast-food é muito forte e existe muita comida frita. Em cada esquina encontra-se, por exemplo, “pollo frito”, que nada mais é que frango frito.
Uma coisa que me chamou muita atenção aqui, e sinto que é uma das grandes dificuldades na adaptação, é a total falta de respeito com a mulher por parte dos homens. Veja como são as coisas, um país desenvolvido, com um sistema de educação quase perfeito, se comparado com a educação que existe no Brasil e em tantos outros países, mas a mulher é constantemente importunada nas ruas pelos homens, através de piadas, olhares e até a forma de tratamento se você não está acompanhada de um homem.
Tenho sentido isso na pele. Nesses últimos dias precisei sair sozinha com minha mãe (geralmente saio com meu marido para estar acompanhada) para procurarmos uma casa para alugar aqui na Praia de Tamarindo. Estávamos fazendo um tour pelo povoado de Villa Real, que é a 2 km da praia, e entrei em uma farmácia para pedir informações sobre o local ou se ele saberia me indicar alguma casa, pois aqui está muito difícil de achar um local, e o homem simplesmente não conseguia responder sem olhar pra meus seios.
Saí da farmácia me sentindo tão constrangida que não tinha nem vontade de continuar olhando casas. Outro episódio bem ruim foi no dia que peguei um táxi compartilhado (muito comum aqui esse tipo de prática) até o local onde estamos ficando, no trajeto passamos por uma mulher que estava no ponto esperando o transporte, e o motorista diminui a velocidade do carro e gritou para a “chica”: “Estas para adopción?”, ou seja, “Você está para adoção?”. Eu como uma mulher independente, acostumada a falar, e muito, sobre os meus direitos e o respeito à mulher, pela primeira vez me senti sem voz, sem força, impotente para lutar contra esse tipo de machismo, porque o que iria dizer a esse homem dentro do seu táxi e tendo outro homem junto com ele?!
Tinha uma mulher “tica” que estava comigo no táxi, mas nesse momento ela simplesmente abaixou a cabeça e fingiu que não viu e nem ouviu nada.
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E nosso ciclo social fica como? Porque nessa fase de adaptação não temos muitos vínculos ou até mesmo não conhecemos ninguém. Precisamos primeiro conhecer a cultura, os hábitos para depois de algum tempo conseguirmos conhecer um colega aqui e outro ali. O que nos sustenta e alivia são os meios de comunicação de hoje em dia, tão modernos que nos conectam com quem está distante e ajudam a aliviar esse sentimento de solidão social. Também recorremos aos grupos de Facebook, como Brasileiros na Costa Rica, Brasileiros pelo Mundo, hashtags do Instagram para tentar a sorte de encontrar alguém por perto.
Chegamos finalmente na parte burocrática da adaptação no novo país, documentação, vistos, trabalho, alugar uma casa, tudo se torna difícil, estressante e faz com que nos sintamos um pouco frágeis e solitárias nesse novo mundo.
Como ir procurar trabalho se não falo perfeitamente o idioma? Como alugar uma casa e negociar o seu valor, saber se o bairro é bom ou não? Como validar meu diploma? Cada passo que damos e conseguimos aquele carimbo, aquela informação correta sobre onde ir é uma vitória!
Nada que o tempo e a persistência não possam vencer! E quem disse que seria tudo lindo e fácil?! São as nossas expectativas de vida que nos fazem enxergar tudo rosa brilhante, porque a positividade é o nosso guia.
E a melhor forma de adaptar-se ao novo país é manter a mente aberta para o novo e diferente!
22 Comments
Olá Lore!
O que me deixa tranquila é saber que vc não se abate fácil e tem muita coragem pra seguir. Tomara que tudo se resolva logo, logo!????
Apesar da saudade imensa de vocês, eu desejo de coração que sejam felizes ai tbm!!!
Beijo Grande!! !????
Obrigada Tia!!
Sensacional!!! Orgulho baiano e brasileiro!!! Texto ímpar!
Realmente, é muito entusiasta, impetuoso é desejável a ideia de ganhar o mundo a descobrir se redescobrir, mais respirar e por os pés no chão, mexendo algumas cordinhas de ajustes antes de alçar o voo da alegria parece ser essencial. Uma pena que a Costa Rica tenha como “cultural?” tal tratamento ao lado feminino, todo homem deveria saber que mulher é amada conhecida e desconhecida é a que é respeitada. Enfim, parabéns Lorena! ????????????????????????????????????????????????
Primeiramente muito obrigada Liz!
Mas quero deixar claro que apesar desse ponto negativo quanto o tratamento com a mulher, não é algo que te faça desistir a continuar aqui, o país é maravilhoso, muita beleza natural, povo acolhedor, país em pleno desenvolvimento.
Abraço.
Yoga do riso ???? Lorena que Deus abençoe vocês ❤️❤️
Obrigada amore!
Texto muito eloquente Lore! Tudo na vida tem seus prós e contras, mas o triste de verdade, é saber que um País tão desenvolvido ainda possui esses traços de involução. Porém o sucesso é caracterizado pela forma como encararamos as coisas, com olhar de maturidade e sempre com essa motivação de que o amanhã pode ser diferente, e que podemos fazer a diferença. Te desejo muita luz, e tenho a certeza de que serás grande vitoriosa!!
Muito muito obrigada Dal!!
Oi Lory, um abraço grande em João e em especial em minha irmã…. Dificuldades sempre vão existir em todos os lugares, contudo a nossa fé sempre sobreponha as dificuldades. Com fé sempre. Abraço em todos.
Obrigada Dino!! Breve novos textos com temas variados. Beijão.
Gostei de conhecer suas novas experiências. Boa sorte é que Deus abençoe a trajetória de vocês. Sucesso sempre!
Obrigada Vitor! Te convido a acompanhar o blog e outros textos que virão sobre temas diversas.
Parabéns Lore, texto bem escrito e que nos dá um noção real do País. O importante é que vocês estão se adaptando bem ao lugar onde escolheram morar. Experiências novas renovam nossa alma e viajar é tudo de bom!!!!
Obrigada Tia! Breve outros textos sobre praias, curiosidades sobre o país, passeios…
Fantástico . Tá adquirindo uma enorme experiência de vida. Não se deixa abater por conta de episódios como esse do Taxi e Farmácia. Infelizmente não serão os últimos. Mas você é inteligente, sabe superar mesmo. Já esperando as próximas histórias.
Com imensa satisfação desejo tudo de “ótimo” para você é meu querido amigo João. Sucesso na nova jornada, lembrando que os caminhos mais árduos serão os mais gratificantes.
Deus continue a iluminar o caminho de vocês!
Oi Lore, toda adaptação no início é difícil, vc bem sabe, principalmente pelos hábitos e costumes diferentes. Apesar de sabermos isso, lá fundo esperamos só o lado bom da mudança, mas a realidade é especialista em nos mostrar todos os seus ângulos. Pensemos que as dificuldades são oportunidades de exercitarmos nossa fé e esperança! Deus os abençoe e guie sempre pela luz! Estamos aqui. Bjs ????
Obrigada Lari!
Lorena sou jornalista costarriquenho e acho que tem erros sua matéria. Termos locais sempre existem. Você procura adopção? É o um termo normal. E ai gata onde vamos????. É normal
E as girias existem em todos países não somente na Costa Rica. Me desculpe
Ola Carlos!
Não estou questionando o termo, mas a forma como ele foi empregado no contexto da história que falei no texto. Eu estava dentro do carro e vi como a situação ocorreu e retratei aqui como aconteceu, a forma que a palavra foi empregada, sem contar na redução da velocidade do carro para poder soltar essa piadinha a mulher que estava ali parada e olhares que estes homens jogaram para mulher.
Quanto as gírias não estou criticando e nem dizendo que no Brasil não existe, existem e são muitas, neste texto estou retratando minhas dificuldades de adaptação no país e quais tem sido elas.
Gostaria muito de sua ajuda se possível para escrever mais coisas sobre a Costa Rica, como pontos turísticos, melhores praias, melhores passeios…
Qualquer dúvida estou a disposição.
Você tem razão. Apesar do Brasil não ser um primor no tratamento das mulheres, eu nunca vi, nos meus 51 anos, um motorista de táxi no Brasil, parando ou diminuindo a velocidade para dizer a uma mulher parada na rua “E aí gatinha, onde vamos?”. Principalmente nos dias atuais, isso é inconcebível por aqui. Mas, sim, as brasileiras tem que suportar nas ruas assobios, piadinhas (hoje em dia, menos ofensivas do que antigamente) e olhares, muito olhares. Temos muito a evoluir nesse ponto.
Sou médico neurologista aposentado pelo inss em São Paulo. O povo de costa rica faz consultas com frequência pelo seguro de saúde em consultórios de especialistas?