Desembarquei pela primeira vez nos Estados Unidos no aeroporto de Dulles em Washington, DC. A minha host family já estava me esperando: o pai, a mãe e os quatro filhos.
A mãe foi a primeira a se aproximar. “Maaaari” ela disse me dando um abraço forte. Em seguida, veio o pai e me abraçou também dizendo “Seja bem vinda à América”. As crianças me deram um “oi”, sem abraços, mas bem simpáticos.
O pai carregou-se de pegar as minhas malas e, então, caminhamos para o carro. Perguntaram como tinha sido a viagem e se eu estava feliz de finalmente chegar aos Estados Unidos para ser a au pair deles e naquela mesma noite me levaram para jantar num restaurante mexicano. Já amei estar nos Estados Unidos só pela recepção deles.
Fui reparando a relação entre os membros da minha host family e de outras famílias que conheci ao longo da minha experiência e eles estavam sempre dizendo “Eu te amo” um para o outro. Na hora das refeições, também não deixavam de agradecer e dizer para quem preparou o quanto a comida estava deliciosa.
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Certa vez, fui em uma balada e na pista de dança pisei no pé de uma menina sem querer, virei pra ela e disse “me desculpa” e ela respondeu “não precisa se desculpar, você só está se divertindo”. Fiquei surpresa com a reação dela porque eu não esperava que ela fosse tão compreensiva e simpática. Acho que eu estava acostumada com uma reação mais agressiva que, geralmente, é o que acontece no Brasil numa situação dessa.
Quase todo lugar em que eu ia era recebida com sorrisos e um “Bom dia, como você está hoje?”. Quando ia na casa de um americano sempre recebia um tratamento acolhedor do tipo “Aceita um chá, ou uma água?”, “Pendure seu casaco aqui e fique à vontade”.
Os amigos americanos que fiz estavam sempre curiosos para saber sobre a cultura brasileira e o que eu estava achando do país deles. Se mostravam sempre prestativos a ajudar se por acaso eu precisasse de alguma coisa. E nessa mesma época conheci o um americano pela internet – que hoje é meu marido – e desde a nossa primeira conversa eu me encantei com sua simpatia e gentileza.
No meu primeiro ano morando na cidade de Falls Church, uma pequena cidade próxima a capital do país, as impressões que tive do povo foram as melhores. Pensei “Nossa, como eles são gentis, acolhedores e educados”. Então, resolvi estender meu contrato de au pair com a mesma família e ficar por mais um ano. E foi aí que eu comecei a conhecer mais profundamente a cultura e os nativos americanos.
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Teve uma vez que fui ao DMV (departamento público que cuida de assuntos de trânsito) e percebi o quanto os funcionários ali eram frios e ríspidos. O segurança falava grosso com todo mundo e os atendentes eram secos e mal olhavam pra minha cara. Mas apenas achei que as pessoas só estavam de mau humor.
Mas o problema não era só lá. Comecei a ver esse comportamento em vários outros americanos que eu conhecia. Para minha surpresa até a host family que eu trabalhava e morava mudou, para ser mais específica, a mãe das crianças foi a que se tornou um pouco mais fria comigo. Eu estava vendo o outro lado da moeda.
Percebi na minha host family que quando o assunto era trabalho, eles eram bem sérios e não muito flexíveis. É como se a simpatia e o acolhimento deles só durassem nas horas vagas. Eu sentia que se fizesse qualquer coisa de errado (mesmo que pequena e sem querer) durante as horas de trabalho, eles me tratariam bem firmes e secos.
E não foi só com a host family que percebi isso. Hoje em dia, ainda trabalho como babá e a minha chefe atual se comporta da mesma maneira. É solícita e cordial, mas uma vez eu esqueci de acender a luz do jardim e, ao perceber, ela reagiu super seca e descortês comigo.
Numa conversa ao telefone com o meu marido – que na época era namorado – eu terminei o assunto mas não tinha a intenção de desligar ainda quando ele falou “tchau” e desligou. Achei muito engraçado! Foi quando eu percebi que os americanos não são frios. A palavra certa para descreve-los é práticos.
O tempo foi passando e nesses quase quatro anos, no total, que vivo nos Estados Unidos, trabalhei com muitos americanos, conheci muitos nativos, estudei a língua, vivi e aprendi muito sobre a cultura deles.
Claro, lembrando que tanto o Brasil, quanto os Estados Unidos são países gigantescos e populosos, com uma mistura de cultura muito grande, portanto, sempre haverá exceções, mas a conclusão que cheguei foi de que nós brasileiros somos receptivos e calorosos em qualquer ocasião, não levamos a vida e o trabalho tão à sério, temos aquela cultura oba-oba. Já os americanos também podem ser do mesmo jeito, mas em certas ocasiões eles escolherão ser práticos, não se importando muito se a pessoa vai ficar chateada com alguma atitude ou palavra que eles disserem.
Eu vou ficando por aqui aprendendo mais sobre a frieza e afeição dos americanos. Gostou desse artigo? Me conte nos comentários sua experiência com nativos de outros países.
2 Comments
Adorei a definição para o que interpretamos como frieza dos americanos, na verdade eh praticidade! O nosso humor eh como uma licença poética que usamos em varios momentos, até nos sérios!
O melhor de tudo que termos este privilégio de conhecer as duas culturas, aprender e respeitar! =D ansiosa para os próximos textos =D
Verdade Inês. Obrigada pelo comentário. Beijos