Fazia tempo que desejava falar sobre o transporte público, especialmente os ônibus em Madri. Porém queria escrever também sobre a inclusão social na Espanha. Depois de matutar, porque não falar sobre os dois assuntos? Hein? O que tem a ver transporte público com inclusão social? Tudo!
Bem, para começar, o sistema de transporte público é administrado pelo governo, a Comunidade de Madri (equivalente ao estado no Brasil) através das empresas públicas e privadas que exploram o serviço. A rede é composta por trens para ligar as diversas cidades vizinhas, metrô, metrô ligeiro (de superfície) e ônibus municipais e intermunicipais. Nas avenidas mais largas os ônibus circulam em faixas exclusivas e assim não há perigo de ficar preso no engarrafamento. Apesar da crise e dos recortes que o setor sofreu o transporte público continua limpo, seguro e pontual; embora uma
ou outra pichação nas estações de metrô e a diminuição no número de seguranças nos augure um futuro menos glorioso.
Os coletivos aqui são feitos para este fim e não são essas carrocerias de caminhão adaptadas que temos no Rio de Janeiro. Assim, o ônibus sempre está na altura da calçada e ainda se inclina para estar mais junto ao solo para o passageiro entrar sem problemas. Desta maneira todas as pessoas – a velhinha, o garotão e o moço trabalhador – podem entrar sem ter que escalar o veículo. Metade do veículo é reservada para quem tem dificuldade de locomoção e os ônibus aqui são grandes o suficiente para que um carrinho de bebê entre sem empecilho e contam com um espaço reservado, juntamente com os cadeirantes. Até uma cadeirinha de bebê
está a disposição para quem traz o pimpolho ao colo. Nós, mães e pais, adoramos.
Igualmente, quem carrega uma bolsa de compra ou mala conta com nicho para prendê-la. Isto é respeito e inclusão social.
Trocador é algo do passado e o mesmo bilhete do metrô de 10 viagens ou do trem valem para o ônibus o dia inteiro. Para quem utiliza o transporte público com assiduidade existem os abonos especiais por faixa etária e zonas que são válidos também para metrôs e trens. No entanto, se você não tem ou esqueceu o seu, é possível pagar a passagem diretamente ao motorista. Engraçado que no Brasil há um prefeito e um governador que criaram o bilhete único como se tivessem inventado a pólvora!
As facilidades não se limitam aos veículos ou à eficiência no pagamento. Todos os pontos de ônibus de Madri são numerados; por isso, você pode mandar uma mensagem de celular à companhia de transporte e recebe na hora um SMS dizendo quando tal veículo vai passar naquele ponto. Bastante distinto do que vemos no Brasil ou nas Filipinas como relatou nossa colega. E em cada um existem mapas indicando o itinerário do carro, bem como as estações de metrô ou de trem que fazem conexão com aquela linha.
Mas a surpresa suprema foi encontrar um painel eletrônico que informa em quantos minutos o ônibus irá passar. Nem todas as paradas tem este serviço, porém é uma mão na roda. E se os cegos ou alguém que não consiga mais ler tenha que pegar o ônibus? Simples. Basta apertar um botão e uma voz masculina eletrônica lê as informações contidas no painel. Acho que partem do princípio que o transporte público é para todos e, portanto, tem que ser de todos: da mãe que empurra o carrinho (eu!) ao jovem estudante, passando pelo senhor idoso. Afinal, o direito de ir e vir tem que beneficiar a todos os usuários.
Lá na minha linda terra, Niterói, que fica em frente à mui leal e heroica cidade de São Sebastião, para saber qual o ônibus passa em qual parada, só sendo nativo. Ali, os pontos de ônibus sequer estão identificados e quase não se informa o número do dito cujo. Itinerário do busão? Somente se o cobrador for camarada, o motorista estiver de bom humor ou o passageiro amigo souber. Caso contrário, desista.
Só no quesito “passageiro gente boa” é que os madrilenhos deixam a desejar. Ao contrário do que nos relatou nossa amiga na Argentina, filas não são respeitadas, pois está subtendido que quem chegou primeiro entra primeiro. Quando o ponto está vazio, ok; mas como fazemos de manhã para ir ao trabalho? Aí se torna um avanço mesmo.
O mesmo problema se verifica quanto aos bancos especiais. Como há muito idosos na capital espanhola é comum ver todos os assentos ocupados por vovozinhos. Quando estava grávida sofria porque muitas vezes os bancos estavam tomados e nem sempre os madrilenhos são gentis em ceder o lugar. Há uma solução muito madrilenha que é pedir sem cerimônia para uma pessoa levantar-se. Fui aconselhada a fazê-lo e vi acontecer a cena na minha frente, contudo mesmo com o barrigão de oito meses eu não tive coragem de tentá-lo.
Ao contrário dos trens e metrôs, que deixam de circular de madrugada, os ônibus funcionam a noite toda, de hora em hora. As rotas são condensadas para que o maior número possível de ruas e pessoas possam ser atendidas e tudo está explicado nas paradas. De novo princípio de inclusão: o serviço deve funcionar bem, tanto de dia quanto de noite. É uma diferença, minha gente…
11 Comments
Oi Ju! Acho o máximo o transporte público tanto de Madrid quanto de Barcelona. O Jorge tem carro porque seus pais moram em um bairro um pouco isolado, mas carro é, realmente, algo supérfluo aí! E eu amo! Acho importante é bem legal depender de um bom transporte público! Os búhos funcionam bem e, apesar do tamanho de Madrid,.tudo funciona!
Parabéns pelo texto! Beijos
Obrigada, Tati! Você tem toda razão sobre uma carro ser supérfulo nessas bandas. E a quantidade de pessoas que não tem carteira de motorista ?? Obrigada!
Oi Juliana, adorei saber mais sobre o transporte publico de Madrid. Ja visitei a cidade, mas fiz tudo praticamente a pe + um pouco de taxi. Um fato curioso foi um taxista super mal educado, que xingava varios palavrões para tudo e para todos. Uma hora chegou a ser até engraçado kkkkkkk
Gostei muito também quando você fez referencia aos artigos de nossas colegas aqui. Ótimo texto!
Fantastico texto Juliana! Parabens! Arrasou!
Que legal isso, seria um sonho se em todos os lugares pudéssemos ir e vir sem ter que se preocupar com estacionamento, porque tem transporte publico que funciona. Parabéns , bjs.
Juliana, morei em Madrid uma temporada e verdadeiramente não ter um veículo próprio, não era um empecilho, pois como vc comentou, o transporte publico é fenomenal.
Sempre pontual, limpo, certo que lotado em determinados horários, porém algo muito normal, já que funcionando tão bem, a grande parte da população opta por ele.
Bom, só elogios…
Adorei seu texto!
Obrigada a todos os comentários! Bom saber que o transporte público de Madri deixou boas lembranças, Pricylla. Abraços!!
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Juliana
Boa tarde
Acho profundamente deselegante falar mau do Brasil. É avelaha síndrome de “Malinge”. O estrangeiro é sempre maravilhoso.